Por: Kátia Muniz
Tempos atrás, Cláudia Ohana participava de um programa de entrevistas, quando disse a seguinte frase: “O ótimo é inimigo do bom.”
Perfeccionistas de plantão acusem o golpe.
Há os dois lados da moeda, e não seria diferente com as pessoas que buscam a perfeição. Dê a elas algo a ser realizado e despreocupe-se. Sem demora, retornarão relatórios impecáveis, projetos exímios ou qualquer outra tarefa a que foram submetidas, normalmente em grau máximo. Todas com selo pessoal de qualidade.
Com rigor, dedicam-se, organizam-se, não admitem falhas, permanecem alertas, atentas, sempre em prontidão. Pesquisam, leem, buscam, vão atrás de resultados, esforçam-se, dão o melhor de si.
Até aí, tudo bem, visto que é de suma importância entregar, de forma apropriada, as atribuições incumbidas. O problema está no outro lado. O que esse grau de exigência, muitas vezes, faz desencadear: sofrimento, cobranças, culpas, inquietações internas.
Perfeccionistas acostumam os olhos para o ótimo e tendem a descartar, facilmente, dentro de sua personalidade acurada, o que possa ser apenas bom.
Desejando a nota dez, sentem-se receosos em apresentar trabalhos que não definem como excelentes.
Assim, quadros recém-pintados não são expostos porque não foram avaliados como obras-primas. Ninguém lê a enorme produção de textos literários porque em algum momento o autor não os considerou dignos de compartilhar. Espetáculos não estreiam porque há sempre a sensação de que estão incompletos.
Vale destacar que a má qualidade, os serviços ruins ou os trabalhos entregues de qualquer jeito devem e merecem ser refeitos. Todavia, faz-se necessário mencionar sobre o grau elevado de imposição, de impecabilidade a todo custo e sem permissão para erros.
É preciso entender que a excelência se consegue com o tempo e a prática, por meio de exercícios, repetições, aperfeiçoamentos, aprendizados, conquistas diárias e até os erros auxiliam a adquirir mais conhecimento. Dessa forma, seguir aprimorando traz, como resultado, pessoas mais preparadas e, consequentemente, profissionais muito mais qualificados.
Portanto, não há motivos para esconder e engavetar o que é bom, levando em conta somente o senso crítico exacerbado. O bom não é caso de demérito.
Demérito é permanecer estagnado, paralisado, não querer melhorar, não buscar o crescimento.
O boletim da vida, por si só, exige do ser humano notas “azuis”, porém que não haja tanto sofrimento ao se deparar com uma nota sete.