Crônicas

“Eu não quero que isso acabe”

Confira a coluna de hoje!

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Por: Kátia Muniz

Impossível ter cruzado o ano de 1985 sem ter ouvido e, dependendo da idade, cantarolado o refrão chiclete da canção “We Are The World”.

A música que foi composta às pressas, em prol de uma causa humanitária, atravessou décadas e gerações e, quase quarenta anos depois, é peça essencial do riquíssimo material do documentário “A Noite que Mudou o Pop”, disponível pela Netflix. 

Basta apertar o play e ter a sensação de entrar em uma máquina do tempo, cujo destino principal é o A&M Studios na noite de 28 de janeiro de 1985. 

Para seguir a ordem cronológica, há vídeos que mostram alguns cômodos da mansão de Michael Jackson. A residência foi o local escolhido para o processo de criação da música. No entanto, as costumeiras excentricidades de Michael não ficaram de fora. Em um determinado dia, o anfitrião levou o macaco de estimação para a sala em que Lionel Richie e ele quebravam a cabeça e derretiam os neurônios para fazer nascer o futuro e emblemático hino do projeto que aliviaria a fome na África. Segundo Lionel, em outra ocasião, ele percebeu de canto de olho que vários álbuns caíram ao chão. O motivo: uma cobra que também era de estimação. Ela sorrateiramente deslizava em uma prateleira. 

Na sequência, é possível observar a logística para organizar a constelação de artistas do porte de Quincy Jones, Stevie Wonder, Diana Ross, Bruce Springsteen, Bob Dylan, Tina Turner, Paul Simon, Cyndi Lauper, Ray Charles, Huey Lewis, Kenny Rogers, Dionne Warwick, Steve Perry, Kenny Loggins, Kim Carnes, Lionel Richie, Michael Jackson e tantos outros. Tudo isso numa época em que não havia internet, celular e, tampouco, grupos de WhatsApp.

O mundo definitivamente era outro.

O documentário segue e se aprofunda na noite da gravação. Interessantíssimo ver todos aqueles artistas despidos de seus egos, uma vez que, ao adentrarem o estúdio, uma placa, providencialmente, instalada a pedido de Quincy Jones, continha os dizeres: “Deixe seu ego na porta”. Obedientes cumpriram todas as ordens dadas pelo produtor musical que, por sinal, desdobrou-se para coordenar aquela turma, pois, em muitos momentos, todos pareciam colegiais desfrutando do horário do recreio. 

Ali não havia assessores, empresários, guarda-costas, ou seja, nenhuma equipe de apoio dos superastros. Eram eles por eles, unidos ao propósito do projeto em questão, enquanto dividiam o mesmo metro quadrado e davam origem ao coral e às cenas que se tornaram antológicas. Durante o tempo que a câmera filmava o recinto, foi possível captar o desconforto de Bob Dylan, as gracinhas de Stevie Wonder, os erros de alguns cantores até acharem o tom e as notas certas, a solicitação do produtor para que Cyndi Lauper retirasse a profusão de adornos que, por consequência, estavam interferindo na gravação dos seus versos.

Liberados somente às 8h da manhã seguinte, cada um voltou para a sua agenda particular com a sensação de dever cumprido e deixando para trás um dos maiores feitos realizados na esfera musical. 

Diana Ross, chorosa, foi a última a se retirar, lamentando: “Eu não quero que isso acabe”. 

Indubitavelmente, Diana, você não está sozinha. 

“Eu não quero que isso acabe”

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“Eu não quero que isso acabe”

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.