Dados da Nações Unidas e do governo brasileiro apontam que o Brasil é o quinto País mais buscado por imigrantes venezuelanos. De janeiro de 2017 a março de 2022, o Brasil recebeu mais de 300 mil venezuelanos que permaneceram por aqui. Essas pessoas deixam para trás um futuro incerto e com poucas possibilidades de estudo e trabalho e tem encontrado esperança para suas vidas por meio da solidariedade.
Quem ajuda a entender mais sobre esse processo é a imigrante venezuelana Sorangel Bracho Uriana, de 26 anos, que chegou em Paranaguá em outubro de 2021.
“Meu marido chegou primeiro, começou a trabalhar em um carrinho de lanche e depois passou a trabalhar como entregador. Não tinha como eu e minhas filhas virem junto porque ele ainda tinha que arrumar onde a gente ia morar. Depois eu vim sozinha para nós dois trabalharmos e ter condições de trazê-las”, disse Sorangel.
Segundo ela, não havia mais condições de sustentar a família no seu País. “Nós trabalhávamos lá, mas chegou um momento que não dava mais para o sustento da casa. Ele trabalhava com fabricação de móveis e eu era dona de casa. A situação das crianças também não era boa, nas escolas nem sempre tinha aula, muitos professores já tinham saído do País. E a gente via mesmo aqueles que estudaram, que são profissionais, não encontrando trabalho, o que nos motivou ainda mais a sair. Vamos deixar as crianças ficarem sem estudos e sem oportunidade?”, relatou.
Deixar sua mãe e irmãos para tentar uma nova vida não foi fácil. “Foi triste, entre os meus irmãos eu fui a primeira a sair de casa para viver em outro País, a gente nunca tinha se separado. Mas eu falei para minha mãe que precisava ir para buscar um futuro para as minhas crianças”, disse Sorangel.
Solidariedade
Em Paranaguá, Sorangel começou a trabalhar em uma panificadora e depois em um restaurante e, com a ajuda da igreja Assembleia de Deus Congregação Posto Fiscal, ela conseguiu finalmente trazer as filhas. “A igreja fez uma arrecadação e conseguiu pagar as passagens das minhas filhas e roupas, porque vieram sem nada, não tinha como comprar tudo. Começamos aqui do zero, não tínhamos nada em casa”, contou.
Foi assim que, em agosto de 2022, suas duas filhas, Isabela e Leimarys, de 7 e 9 anos atravessaram a fronteira e chegaram ao Brasil. Para poder entrar no País, as meninas vieram acompanhadas da sua tia Carla, que também trouxe sua filha, Amanda, uma bebê.
No início, a igreja também teve um papel importante para se estabelecer no País.
“Bate a saudade da minha mãe, das crianças de lá, mas a igreja nos ajudou muito, quando cheguei na igreja estava pensando em desistir, porque sentia que não ia conseguir, tudo que eu ganhava eu mandava para minha mãe, ainda não dava para guardar nada”, declarou.
Sorangel conta que teve dificuldades para sair da Venezuela, pois era um período em que muitos imigrantes tentavam deixar o País. “Foi difícil, fiquei na rua, esperando ser atendida na fronteira, em Roraima. Fui até Boa Vista de ônibus e depois de avião até Curitiba”, lembra Sorangel.
A família dela é do Estado de Zulia, na Venezuela, local distante da fronteira com o Brasil, o que tornou a viagem ainda mais longa. “São quatro dias de viagem de ônibus, temos que fazer paradas para descansar. Na fronteira a gente passa por um exame médico e ganhamos um cartão SUS. Para minhas filhas entrarem eu mandei foto do meu documento, comprovantes de que eu trabalhava para eles terem a certeza de que eu estava no Brasil”, contou.
Acolhida
Segundo ela, a família encontrou a acolhida que precisava no Brasil. “O Brasil me recebeu muito bem. No primeiro momento, eu trabalhava só meio período e foi mais difícil, mas fui conhecendo as pessoas, tem muitas pessoas boas em Paranaguá. Coloquei minhas filhas na escola, receberam elas na mesma semana, mesmo não falando português, consegui arrumar emprego para minha irmã também, graças a Deus está indo tudo bem. Minhas filhas gostam muito daqui, lá não tínhamos onde sair, comprar as coisas para elas, e elas veem que aqui tem coisas melhores”, analisou Sorangel.
Para o futuro, ela espera continuar trabalhando e se esforçando para garantir um bom futuro para suas filhas e para o bebê que chegará em 2023. “Quero continuar trabalhando e poder dar uma educação de qualidade para meus filhos. Eu engravidei aqui no Brasil, estou grávida de cinco meses, não estava nos planos, mas quero tudo de bom para meus filhos. Tudo está valendo a pena”, finalizou Sorangel.