Por: Kátia Muniz
Era noite de quarta-feira. Ela, cronista, ouvia, atentamente, áudios no WhatsApp, com perguntas feitas por um jovem estudante para um trabalho escolar. Uma delas: “Quanto tempo você leva para fazer um texto?”
Naquele instante, ela mirou a tela do Word. Lá repousava um único parágrafo construído.
Quando apertou a tecla para responder ao estudante, o filho bateu à porta do escritório e avisou que o chuveiro havia queimado. Tal interrupção fez com que deixasse de lado a resposta.
Era manhã de quinta-feira. Ela foi à farmácia buscar um anti-inflamatório. Enquanto aguardava a vez de ser atendida, percebeu do outro lado da rua um casal de namorados. Talvez tivessem entre 15 e 16 anos. Chuviscava. A moça tirou uma sombrinha cor-de-rosa da mochila, abriu-a e ficaram bem juntinhos para se proteger. Riam, conversavam, riam de novo. Acompanhando tudo de longe, pensou que tal cena poderia render um tema para a escrita. Foi retirada, abruptamente, dos pensamentos com a atendente lhe perguntando: “Posso ajudar, senhora?”
Voltou para casa, atualizou as redes sociais e depois ligou o computador. No entanto, decidiu descartar o parágrafo que estava pronto, anteriormente, e iniciou do zero. Sorriu de canto quando concluiu dois novos parágrafos. Mais uma interrupção: dessa vez, era o eletricista que veio consertar o chuveiro. Em seguida, o telefone acusou a chegada de uma mensagem. Era a secretária da clínica médica confirmando a consulta para as quinze horas.
Ela chegou com antecedência. Acomodou-se no sofá da clínica e aproveitou o tempo ocioso para mandar um áudio para o estudante, avisando-o que à noite responderia todas as perguntas. Na sequência, colocou os fones e ouviu Try na voz da cantora Pink.
Anoiteceu. Final de quinta-feira. A casa em silêncio. Voltou aos parágrafos abandonados. Letras foram surgindo. Fez uma pausa. Preparou um chá. Deu o primeiro gole. Buscou o celular, segurou a tecla para gravar áudio e respondeu: “Quanto à sua pergunta sobre o tempo que levo para escrever um texto, informo que varia bastante. Às vezes, consigo escrever de maneira muito rápida, em outras, lenta. Já aconteceu de eu demorar até dois dias para finalizar um texto”.
Desligou o celular. Releu o que estava escrito na tela do computador. Conseguiu transformar em texto a cena do casal de namorados que havia presenciado pela manhã. Assim, colocou o tão esperado ponto final e foi dormir.
A sexta-feira amanheceu com sol. Ela estava ao computador com o desafio de novamente preencher a tela, em branco, do Word.