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Crônicas

Os conectados

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Por: Kátia Muniz

Ele recém completou 17 anos. Portanto, antenadíssimo com a era digital. Estava sentado ao meu lado explicando como funcionava o Instagram. Alertou que eu deveria fazer muitos stories, pois as pessoas se interessam e visualizam esse tipo de conteúdo, e também porque é para consumo rápido. Veja só: “É só clicar nesses círculos com a fotinho da pessoa”. E foi demonstrando, e foi deslizando o dedo com urgência, e foi saltando diversos stories numa velocidade supersônica…

Como encontrarei calma nesse mundo frenético das redes sociais? Ando totalmente deslocada.

Ainda, refletindo sobre o Instagram, outro dia, resolvi seguir uma influenciadora digital. A profissional orienta e dá dicas de como melhorar o alcance na referida rede. Ao descobrir tantas peculiaridades, fiquei pasma com a quantidade de material disponibilizado! Segundo ela, os reels engajam melhor. Você pode gravar dancinhas, trends, usar músicas em alta, abusar da criatividade, tudo isso num vídeo curto. Então, é possível que horas sejam destinadas para a preparação de um único reels, cuja finalização engloba segundos. E eu querendo me demorar, falar pausado, escolher as palavras. Será que algum dia estarei à vontade nessa seara tecnológica?

Às vezes, também bate uma curiosidade em saber quem cria tanta arte de bom-dia e boa-noite para ser compartilhada nos grupos de WhatsApp. Que povo criativo! O período vespertino recebeu uma trégua. Aleluia! As pessoas não se preocupam em escrever ou elaborar uma mensagem, apenas compartilham florezinhas e joaninhas, que, por sua vez, cumprem a função de saudar, mecanicamente, enquanto sobrecarregam a memória do celular. 

De tanto mexer nas redes sociais tentando me atualizar, talvez eu ande estressada. Por isso, fiquei animada com o convite para ir ao restaurante. Foi quando me deparei que, na mesa ao lado, havia cinco mulheres. Falavam na mesma proporção em que miravam os celulares colocando-os para cima, na altura da cabeça, em busca do melhor ângulo. Conferiam o resultado. Descartavam. Ajeitavam o cabelo, encostavam-se umas nas outras, a fim de que todas coubessem na tela. A comida esfriava em cada prato. Até que uma delas lembrou as demais da refeição. Miravam o celular e faziam o registro do prato. Elas riram, depois guardaram o sorriso, concentradíssimas em escolher uma legenda para a foto. Uma sugeriu: Encontro dazamigas. Sem esquecer de completar que o termo “dazamigas” deveria ser escrito tudo junto e com z. Quase tive uma síncope ao ouvir isso!

Chata, eu? Diria, autêntica e com enorme dificuldade de seguir nesse ritmo que caminha a passos rápidos, numa era que cada vez mais aprisiona. Devo?

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