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Trabalho

Aposentado após 40 anos de carreira, carteiro destaca evolução da comunicação

Roberto com sua primeira ficha profissional nos Correios, assinada em 1978

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Conhecido como “Google”, Roberto destaca fatos curiosos vividos no desempenho de suas funções

 

Em tempos de comunicação on-line, aplicativos de conversa instantânea com pessoas em qualquer lugar do mundo, valorizar os primórdios da comunicação é saber da importância do carteiro para a sociedade. Roberto Martins, que entrou nos Correios em 23 de agosto de 1978, se aposentou de sua função de carteiro na última semana, mais precisamente no dia 16 de janeiro. Exemplo de profissionalismo, conhecido como “Google” pelos moradores e colegas de empresa, por saber o endereço de todos simplesmente pelo nome, Roberto contou um pouco da sua história, exaltando seu amor à profissão que permitiu a ele acompanhar a evolução urbanística de Paranaguá como poucos. 

“Foram 39 anos, quatro meses e 17 dias de profissão”, comenta, por pouco contando as horas, minutos e segundos desde seu ingresso nos Correios. “Eu não tinha um plano específico de profissão. Trabalhei dois anos como office boy, conheci algumas pessoas que me falaram que os Correios seriam uma opção boa. Foi então que entrei nos Correios. Sabe aquele emprego que a gente diz que é só por enquanto? Então, acabei ficando e acabou em todas estas décadas de carreira”, comenta.

“Gostei imediatamente de ser carteiro. Já tinha um conhecimento que me direcionava para essa profissão, pois conhecia a cidade e o porto. Tem profissão que você trabalha e não gosta, eu sempre gostei do que fiz. Cada dia era um desafio”, comenta. 
Martins entrou casado e com uma filha nos Correios, saiu aposentado com três filhos e cinco netos. “Virei avô dentro dos Correios”, brinca. “Quando entrei a correspondência chegava em uma mesa onde era jogada, pegávamos e fazíamos a triagem de acordo com logradouro, rua e bairro, com posterior ordenamento. Tem gente que acha que é um trabalho simples, mas não é, é complicado, há uns 20 anos, por exemplo, Paranaguá tinha ruas com numeração irregular e tínhamos que ser detetives para localizar”, explica, ressaltando um pouco da logística antiga. “Me chamam de Google. Eu olho para a pessoa, pergunto o nome da família e dela e já lembro onde ela mora”, brinca.

MUDANÇAS EM PARANAGUÁ 

Segundo Roberto, ele conseguiu perceber claramente uma alteração no urbanismo local, principalmente com saída de casas próximas ao porto, com aumento do setor logístico e mudança de residências para bairros como Jardim Guaraituba, Vila São Vicente, Santos Dumont, Samambaia, Cominese, Parque Agari, entre outros, colocando o setor urbano para até a Estrada das Praias. “O porto cresce e a área urbana também”, comenta. Segundo ele, bairros mais interessantes de terem sido analisados foram o Palmital e a Costeira, onde as casas, que antes eram de madeira, hoje são sobrados, conjuntos residenciais e prédios, tendência existente em todo o município.

“Mais de 60% das ruas que percorri possuem nomes de pessoas que eu conheço. Por exemplo, na Ponta do Caju, a Rua Dona Mariquinha, que eu fui vizinho dela, o Márcio Ninaco, eu joguei futebol junto, entre outros. São pessoas que eu conheci e convivi. Por exemplo, na esquina em frente ao jornal, morava o prefeito Nelson Barbosa, eu conheci e entreguei carta na casa dele”, comenta, destacando que há pessoas que muitas vezes duvidam disso. 

CASOS CURIOSOS

Com relação aos casos curiosos que acompanhou e passou na sua carreira, ele destaca que um deles foi quando foi atravessar de barco o Rio Itiberê para a Ilha dos Valadares. “Quando fui entrar no barco, que antigamente era a única forma de chegar à Ilha, fecharam a porta da lancha, não consegui me segurar, caí com bolsa de cartas e tudo no rio. Pegamos a bolsa junto com o colega, levamos para os Correios, secamos com ventilador e entregamos assim mesmo”, diz. “Outra questão foi quando atravessei uma marginal da ferrovia e um cavalo veio em minha direção. Joguei a bicicleta nele para afugentar, que pegou minha bolsa, tirou cartas com a boca e pisou nas correspondências na lama. O dono disse que ele só queria brincar (risos). Entreguei as cartas mesmo com lama, explicando o que ocorreu”, completa.

“Uma coisa que me marcou foi um menino, o Guilherme, no final dos anos 80, que foi fazer uma cirurgia de apendicite, e ele me pediu por meio da avó, que eu conhecia, para que eu o visitasse no Hospital Paranaguá. Aquilo me emocionou muito. Hoje este menino é professor de Educação Física, em Curitiba”, acrescenta. 

NOVAS GERAÇÕES ON-LINE

Com relação às atuais gerações, que não mais precisam da carta para se comunicar em longas distâncias, com o advento da Internet, que traz opções de e-mail, aplicativos de conversa e outras formas de comunicação, Roberto afirma que há a necessidade de que a comunicação seja feita de forma mais válida, com leitura e sem futilidade. “Quando entrei nos Correios, o telegrama já existia, agora tem o e-mail, mas pelo que eu percebo, a atual geração dá pouca importância à leitura. No Enem, por exemplo, 309 mil estudantes tiraram zero na redação. Isto é por causa da falta da leitura. A mensagem que eu dou é para aprenderem a ler e a escrever corretamente”, defende.

“Os Correios possuem uma importância fundamental como instrumento na sociedade, mesmo com toda a tecnologia que possuímos hoje. O carteiro é essencial desde os tempos mais remotos. Nestes 39 anos de experiência, o que eu vejo atualmente é preguiça de escrever”, destaca. 

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