Advogado de youtuber morta explica como caminhará julgamento dos responsáveis

Na quinta-feira, 15, de forma exclusiva para a Folha do Litoral News, dr. André Tavares, advogado da família de Isabelly Cristine Santos, de 14 anos, baleada na cabeça na PR-412 em Pontal do Paraná na quarta-feira, 14, detalhou como ocorreu o assassinato da youtuber. Além disso, dr. André destacou que junto com ele está o advogado dr. Elias Mattar Assad, criminalista renomado em todo o Brasil, que será um dos assistentes de acusação do Ministério Público do Paraná (MPPR) no caso, o qual poderá ir a júri popular se o Judiciário aceitar a futura denúncia contra os acusados Everton e Cleverson  Vargas. 

“Isabelly tinha terminado um trabalho em Shangri-lá e estava retornando para Paranaguá em um carro em que estava ela e a mãe no banco de trás, o Herbert, que é o motorista que colabora com ela, e o filho dele que auxiliava na filmagem e nos trabalhos. Em dado momento, na estrada, o veículo dos autores do disparo cruzou a frente do carro da Isabelly, que rodou na pista. Quando ele rodou o Herbert manobrou o carro para voltar a PR-412 e seguir viagem”, afirma dr. André Tavares. “No momento da manobra em que o carro estava de lado na pista, a mãe da Isabelly escutou um barulho de tiro, o vidro foi estilhaçado e neste momento a Isa se inclinou para olhar o que estava acontecendo, e nisso ela caiu e a mãe achou que ela tinha desmaiado, mas quando a mãe percebeu tinha muito sangue no rosto dela e no carro, foi aí que ela percebeu que a Isabelly tinha sido baleada”, detalha.

De acordo com o defensor, não houve nenhum tipo de discussão no trânsito com os autores do crime.  “A Isabelly, a mãe dela, todos no veículo, não faziam a menor ideia de quem eram as pessoas no veículo em que estavam os responsáveis pelos disparos. Não encontrou ninguém em balada, não teve nenhum tipo de problema com estas pessoas. O que aconteceu é: uma pessoa que cruzou o carro dela, tirou ele da pista e por motivo desconhecido efetuou inúmeros disparos, sendo que polícia contou no local seis projéteis de bala. Ele acabou tirando a vida da Isabelly”, complementa. 

ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA, ENCAMINHAMENTO AO HRL E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

“Assim que a Isabelly foi baleada eles trouxeram ela com o próprio carro ao Pronto Socorro de Pontal do Paraná, com uma viatura da Polícia Militar do Paraná (PMPR) que eles encontraram na via abrindo caminho para eles. Ainda na unidade hospitalar de Pontal do Paraná ela teve duas paradas cardíacas, os médicos conseguiram trazer ela de volta e conseguiram transferir ela para o Hospital Regional do Litoral (HRL) em Paranaguá”, explica o advogado. Segundo ele, quando ela chegou ao HRL acabou havendo uma complicação médica por causa do grave ferimento de bala, que ocasionou a interrupção da circulação de sangue no cérebro da vítima. 

“Veio um médico especialista de Curitiba para ver o quadro dela. Não aconteceu o que foi divulgado durante as primeiras horas da quarta-feira, 14, de que ela teve morte encefálica. Em um primeiro momento ela estava com o coração batendo e com perspectiva de melhora, só que o neurologista de Curitiba, que veio à noite ao HRL, acabou indicando que ela não teria mais chance”, lamenta dr. André.

De acordo com o advogado, os equipamentos foram desligados nesta quinta-feira, 15, pela manhã, após remoção dos órgãos para doação. “A família da Isabelly autorizou a doação de órgãos. Fizeram a doação de praticamente tudo o que foi possível, apenas não foi doada a pele e o intestino”, comenta. “Até o último momento ainda tínhamos esperança, mas aí veio o parecer do médico de que o melhor a ser feito seria desligar os equipamentos, pois não havia mais nada a ser feito”, explica.

COMO CAMIINHARÁ O JULGAMENTO DOS RESPONSÁVEIS

“Representando a família, manifestei o interesse de que haja assistente de acusação no processo para que eles sejam levados à Justiça. O dr. Elias Mattar Assad, um advogado sensacional e conhecido em todo o País, conversou comigo e atuaremos juntos no processo. Já marcamos uma reunião inicial nesta semana”, afirma o advogado. Segundo o dr. André Tavares, são encaminhados para o Tribunal do Júri crimes dolosos contra a vida. “Pelo que vimos até agora, eles irão responder por dolo eventual e serão levados à júri popular, mas antes disso deve haver uma denúncia do Ministério Público do Paraná (MPPR) pela prática do crime e o juiz, entendendo que o crime foi doloso, vai encaminhar o caso para o Tribunal do Júri”, completa. “O dr. Elias Mattar Assad e eu nos propomos a atuar no caso de forma totalmente gratuita”, afirma.

Segundo o advogado, o chamamento da sociedade para decidir no Tribunal do Júri é algo positivo. “O júri é formado por pessoas da comunidade. Funciona da seguinte forma: são escolhidos sete cidadãos da sociedade selecionados no dia entre 21 pessoas para que possa se ter um julgamento imparcial”, explica o advogado. Segundo ele, “uma coisa que incomodou bastante a família foi o fato da polícia ter segurado o nome dos dois envolvidos e ter divulgado que teria havido uma briga de trânsito, quando na verdade não foi isto que aconteceu. Foi uma pessoa estranha, um terceiro, que atirou a esmo contra o carro da Isabelly”, defende.

Falecimento da youtuber Isabelly Cristine Santos gerou comoção nacional. (Foto: Reprodução Facebook)

De acordo com dr. André, o autor do disparo teria registro da arma de fogo utilizada, uma pistola 380, no entanto “ele não estava entre a casa e o trabalho dele, por mais que ele estava em uma casa que ele tenha divulgado para a Justiça para poder registrar a arma aqui, ele não estaria indo para o trabalho dele”, acrescenta, dizendo que ele não poderia estar com a arma no momento do crime. “A autorização para transporte envolve levar a arma em uma maleta fechada e não como ele tinha. Do jeito que aconteceu tudo se ele está dirigindo, ele sai do carro e dispara, a arma não estava em uma caixa, ela estava com fácil acesso para ele, estava no banco ou na cintura”, destaca. 

“Mesmo se a arma estivesse em uma caixa ele não poderia ter atirado, porque não havia motivo algum. Ninguém no carro da Isabelly tinha arma de fogo. Não houve nenhum disparo, o advogado deles deve ter instruído eles a ter alegado que houve este disparo para tentar falar de uma legítima defesa putativa, que é quando você acredita que está em legítima defesa, para poder fazer isso no dia do Tribunal do Júri e acabar sendo utilizado de forma favorável a eles”, comenta.

PRAZO PARA JULGAMENTO

“A questão de tempo para julgamento é relativo, pois isto não depende da perspectiva de prazos processuais, mas do acúmulo de serviço na serventia. Não conheço a Vara Criminal onde o prazo irá tramitar, mas se fosse em Paranaguá, por exemplo, daria para estimar um prazo da denúncia do Ministério Público até a pronúncia por parte do Judiciário de oito meses. Para se chegar ao Tribunal do Júri é uma coisa mais delicada, já vi casos em que ele demorou seis meses, já vi casos em que ele demorou oito anos para ocorrer”, comenta o advogado. 

De acordo com o defensor, no momento os dois envolvidos no crime estão presos na delegacia de Ipanema da Polícia Civil em Pontal do Paraná. “As pessoas querem que eles continuem presos, mas para isso o juiz terá que decretar a prisão preventiva que, no caso deles, só será obtido caso o Judiciário entenda que há dano à sociedade a presença deles nas ruas ou risco para eles mesmos pela comoção social que o caso da Isabelly trouxe. Repassaram para mim que houve pessoas que tentaram linchar os dois nas praias no dia. Acredito que se o juiz decidir por este viés ele consegue manter eles presos”, comenta. “Eles não têm antecedentes criminais, têm residência fixa e trabalho, tendo os requisitos também para um pedido de liberdade”, ressalta, demonstrando a possibilidade de que os dois responsáveis pela morte da youtuber sejam soltos. 

REPERCUSSÃO NA MÍDIA NACIONAL

“O problema é que se o caso for levado ao Tribunal do Júri a população receberá muitas informações dispersas até o dia. Se for uma Vara Criminal rápida e o processo tramitar com agilidade, com uma resposta rápida, com um prazo de um ano e meio para o júri, a população iria lembrar muitas versões da mídia, algo que pode ocasionar problemas no tribunal do júri pelas muitas versões com notícias de forma esparsa”, diz o advogado, destacando a existência de informações falsas ou mal apuradas no caso. “Isto acaba prejudicando um pouco neste sentido”, explica, afirmando a necessidade do Ministério Público, assistentes de acusação, Judiciário e advogado dos possíveis réus apresentarem os fatos ao possível júri. 

Ainda segundo o dr. André Tavares, a repercussão midiática nacional colabora no sentido de não fazer com que a morte de Isabelly fique impune. “A mídia cobrindo de forma correta e séria auxilia a gente”, comenta. 

COMOÇÃO DA FAMÍLIA

Segundo o advogado, a família de Isabelly Cristine Santos, formada pela mãe Rosania Domingos Santos, que trabalhava junto com a filha em seu programa “Isa Top Show”, o pai Sérgio Pereira dos Santos e o irmão, que trabalham no porto de Paranaguá, junto com outros parentes, amigos e pessoas próximas, estão totalmente chocados com a morte da menina de 14 anos e decidiram não dar entrevistas nesta quinta e sexta-feira, dia do velório e enterro. 

“Eles ressaltaram que caso dela deve ser lembrado, servindo para que isto não fique impune. Temos todos os tipos de reações dentro da família, todos muito tristes. Acredito que eles têm que se unir para superar este momento extremamente difícil”, complementa. dr. André Tavares acrescentou que é próximo da família e conhecia Isabelly desde a infância, sendo amigo dela e principalmente do irmão dela.