conecte-se conosco

Obituário

Homenagem: Luiz Siqueira. O pulso ainda pulsa!

As homenagens do Centro de Letras de Paranaguá para Luiz Alves Siqueira.

Publicado

em

Muitos estranharam a ausência do Siqueira filmando o “Banho a Fantasia” no último domingo com suas traquitanas e equipamentos. O Centro de Letras de Paranaguá e a Cultura estão de luto.

As homenagens do Centro de Letras de Paranaguá para Luiz Alves Siqueira.

Nascido em Paranaguá em março de 1946, Luiz Alves Siqueira, conferente aposentado, estudou no Colégio José Bonifácio, formou-se em Letras pela Fafipar, foi atuante no Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP), no Centro de Letras de Paranaguá e Cardume Fotográfico.

Seu gosto pela pesquisa histórica veio desde muito moço, o nosso “Indiana Jones” investigava, alugava barcos, helicópteros, bateiras e até avião para ir em busca de suas pesquisas pelo nosso litoral. Colocava a mão na massa, literalmente ia a campo, não media esforços.

Mais tarde, além das pesquisas de campo, passou a ser um grande documentarista, fazendo apostilas sobre fatos históricos e filmagens de todos os eventos significativos de nossa cidade e litoral. Talvez seja um dos poucos que tenha documentado integralmente os fatos mais importantes de nossa cidade nos últimos 40 anos.

Siqueira foi reconhecido publicamente pelo então Prefeito Mário Roque, com a Honra ao Mérito, por suas pesquisas em nossa cidade. Recebeu por duas oportunidades o reconhecimento público do Centro de Letras de Paranaguá, sendo a última em 2017.

Em frenética busca histórica, acessou coleção de jornais antigos com fotos raras, onde ela estivesse. Não fugia da pesquisa mesmo enfrentando 40 graus de calor no sótão do IHGP.

Certa vez, fazendo um apanhando de filmes e Dvd's se constatou que havia mais de 250 trabalhos do Siqueira, que correspondia a 99% do Museu da Imagem e Som do IHGP.

Mas além do sorriso fácil, um cidadão voltado para cultura, amante do Fandango, Carnaval de rua, Banho a Fantasia, Barroso Balainha de Antonina (cidade que amava),  da nossa política, da vida de Paranaguá e do litoral. Leitor daqueles que devoravam de três a quatro livros por semana com a mesma desenvoltura e paciência tibetana enquanto filmava os pássaros do nosso litoral. Eclético e multicultural.

Dono de prodigiosa memória, não mediu esforços para que Paranaguá lembrasse da Revolução Federalista. Sempre pedia novidades, livros dos sebos, esgotados, raridades. Não descansava. Não era tarefa fácil acompanhar o Siqueira em suas pesquisas.

Com recursos próprios, procurou o saudoso artista plástico Darci, e fizeram com grande fidelidade um dos mais preciosos trabalhos sobre a Revolução Federalista em Paranaguá, com duas dezenas de telas mostrando detalhadamente os fatos da revolução em nossa cidade. Filmou entrevistas, produziu material fotográfico, o que o levou a criar o Museu Virtual do Siqueira (MVDS), que é sem dúvida um dos maiores acervos de nossa cidade.

Para o médico Ennio Luz Jr, “Siqueira tem a mesma importância de Vieira dos Santos para nossa cidade”. 

José Maria de Freitas, amigo inseparável, o considera “quem mais documentou Paranaguá em todos os segmentos, desde a Literatura, História, Geografia, Política, Cotidiano, Fauna e Flora”.

Para o escritor Paulo Ras, “inventou o pau de selfie” pelo menos dez anos antes dos outros.

José Alexandre Baka diz que Siqueira é “um dos grandes responsáveis pelos resgates históricos de nossa cidade”.

Siqueira, do sorriso fácil gostava de filosofar:

“O que é o tempo? Da forma mais simples é o momento em que a vida anima nossos corpos. Compartilhamos então a presença de todos os que nos rodeiam. É aqui que acontece o fenômeno do sentimento que nos une. Ninguém ama ou é amado porque quer. Quando tudo passa fica a lembrança. Será que os acontecimentos ficam gravados no tempo? Se assim for, quando inventarem a máquina do tempo, vamos rever as pessoas queridas que se foram. E os sentimentos voltarão? (23 de julho de 2017)

Siqueira acompanhou detalhadamente uma expedição de pesquisa a “Fontinha”, em busca de pistas dos mitológicos túneis.  Na parte histórica tinha opinião e pesquisa sobre muitos dos nossos fatos históricos. Abaixo trecho de uma pesquisa sobre a “Casa de Fundição”:

“Para dirimir dúvidas sobre esta casa, após consultar Ermelino de Leão quando fala sobre a presença dos Jesuítas em Paranaguá, ela foi à Casa das Missões. Ela precedeu o Colégio como local onde se instruíam os jovens. Ela é confundida como casa de fundição de ouro porque, após a expulsão dos Jesuítas nela se exercia a instalação de proteção nos cascos das mulas e cavalos, reparo dos aros nas rodas das carroças, fabricação de ferramentas, etc. A casa de fundição de ouro, segundo Vieira dos Santos, existiu entre a antiga cadeia e o Colégio dos Jesuítas.”

Paranaguá não perde somente o conferente Siqueira. Perde um cidadão exemplar, um dos seus maiores pesquisadores e visionários, que documentou muita das suas pesquisas,  certamente de grande valia .

Siqueira, além do arquivo próprio, fazia questão de entregar cópias e documentos para o IHGP, que mantém em seus arquivos grande volume de pesquisas sobre o que aconteceu em nossa cidade e litoral nos últimos 40 anos.

Contava Siqueira que: “Paranaguá teve o seu aeroporto no Rio Itiberê quando a Kondor Sindicat voava no litoral do Brasil. O aeroporto foi inaugurado dia 3 de maio de 1929 pelo Dr. Afonso Alves de Camargo. Nesta data, foi realizado o batismo do avião Iguassu pela sra. Bertholdo Hauer. Nesta solenidade estiveram presentes também Dr. Assis Chateaubriand, Austregesilo Athayde. A madrinha quebrando uma garrafa de champanhe na quilha do hidrogênio avião, falou:  "Em nome de Madame Afonso Camargo, eu te batismo, Iguassu, para que possa realizar  muitas e felizes viagens. No dia 03.06.1929, a imprensa noticiou que o hidro avião Iguassu capotou no Rio São Gonçalo, próximo a Pelotas e afundou 5 metros.”

Sobre o Mercado do Café:

“O Mercado de Café de Paranaguá é um lugar mágico. É a praça de alimentação mais antiga do Paraná. Foi inaugurado em 1 de outubro de 1859, pelo Visconde de Nácar. Houve um foguetório e foi distribuído um copo de água para cada um dos presentes, além de muitos doces. Este lugar também tem seu lado triste. Até 1830, era o local de venda de escravos.”

E sobre a Praça dos Leões, dizia:

“Este local encerra um dos maiores mistérios de Paranaguá. Este era o Cemitério do Alto. Talvez aqui tenham sidos enterrados os 150 soldados parnanguaras
mortos no dia 15 de janeiro de 1894, defronte os portões da Estrada de Ferro. Rapazes mal sabiam lidar com espingarda “pica-pau” e tiveram de enfrentar os soldados da Armada e do Gumercindo Saraiva. Foi uma tragédia. A censura oficial escondeu tudo. O estranho disso tudo é que a praça recebeu o nome de Eufrásio Correia, que morreu degolado no Combate da Armação no Rio. E o nome dos soldados ninguém sabe. Até o Monumento A Cruz do Pica-pau sumiu”.

Siqueira até seus últimos dias estava em busca das narrativas do Custódio de Melo e alimentava o sonho de retornar a pesquisa da possível casa de “Gabriel de Lara”, no Jardim Figueira.

Sobre Deus, ensinava:

“Todo mundo é eterno, Deus está presente no infindável do Universo bem antes que os gases se transformaram em matéria!”

Com as sinceras homenagens dos diretores e sócios do Centro de Letras de Paranaguá.

 

Publicidade






Em alta