Os moradores do litoral, em especial os de Paranaguá, têm muitas histórias para contar sobre a Festa do Rocio. Como era bom quando a professora dizia que no outro dia iríamos até o Rocio para participar de uma missa e depois para passear pelo parque de diversões, íamos todos de uniforme e nos divertíamos comendo maçã-do-amor.
Nessa época também havia uma grande possibilidade de ganhar uma roupa nova dos pais e de nos divertirmos em conjunto com os familiares e amigos. Todos têm algo a contar, mas o que eu não suspeitava é que a Festa do Rocio ficou também na lembrança de Julius Platzmann, alemão que viveu seis anos na região de Guaraqueçaba, de 1858 a 1864, e que voltando para a Alemanha escreveu o livro “Da Baía de Paranaguá”, publicado em 1872, traduzido pelo Sr. Lothar Lange em 2010.
Numa das cartas à sua mãe comentou que estava muito feliz em ir a Paranaguá para conhecer a Festa do Rocio e que para isso mandou fazer um terno novo por um alfaiate também alemão que morava em Paranaguá. Escreveu assim: “Ele (referindo-se ao alfaiate) tinha aprendido a sua profissão com os melhores mestres na arte de vestimentas da sua terra natal e imediatamente avaliou minha figura. Ele falava com tanto espírito, com tanta convicção, que na expectativa das festas do Rocio, nas quais formosas paranaguenses, em alto estilo, graciosamente aparecem a cavalo, resolvi encarregá-lo de confeccionar uma roupa de gala. Todavia, isso exigia também um novo Panamá, novas botinas feitas pelo sapateiro Dohnt…”
Contou à mãe todos os detalhes de sua preparação e quando chegou ao Rocio, teve a seguinte reação: “Se tu pudesses ver esse lugar, se eu somente por um piscar de olhos pudesse deixar que tu olhasses em câmera ótica! Ele (o Rocio) está paradisiacamente bem situado; a superfície da Terra aqui tomou seu aspecto mais risonho. Mesmo antes de lá chegar fica-se agradavelmente impressionado…No centro do lugar encontra-se uma igreja e em frente ao seu oitão, ao longo da orla marítima, tem lugar uma linha de palmeiras jerivá, as mais belas e altas que aqui existem, até ao meio de sua altura, falando em termos de perspectiva, avista-se o mar; então, em frente, surgem as montanhas com nuvens parecendo algodão pousando em seus cumes, lançando a vista às infinitas distâncias, acima, a abóboda celeste.”
É uma felicidade quando alguém visita nossa cidade e leva tão boas recordações, às vezes as pessoas que moram no local não valorizam o que têm.
Guadalupe Vivekananda Fabry
Presidente – IHGP