conecte-se conosco

Educação

Educadores opinam sobre a Medida que prevê Reforma no Ensino Médio

Profissionais explicam como as alterações impactarão no dia a dia escolar

Publicado

em

Neste Dia dos Professores, a Folha do Litoral News, com o objetivo de homenageá-los, deu voz a alguns profissionais da área para que pudessem opinar sobre a educação no País tendo em vista a Medida Provisória 746, tão discutida atualmente, inclusive em Paranaguá. O documento foi apresentado no dia 22 de setembro deste ano pelo Governo Federal e rege sobre a reforma do Ensino Médio.

MP DO ENSINO MÉDIO

Entre outros aspectos, a Medida influenciará na contratação de profissionais, já que o documento prevê a permissão de pessoas de “notório saber” para dar aulas, ou seja, o que para muitos é subjetivo e não valoriza este profissional que se doa para a formação intelectual dos jovens.

A novidade mexeu com a categoria que já se sente, em sua maioria, desmotivada pelas batalhas diárias dentro de salas de aulas, e que agora se senteainda mais desvalorizada com as mudanças previstas.

Quatro profissionais do Ensino Médio deram suas opiniões sobre a Medida Provisória e explicaram como as alterações impactarão no dia a dia escolar. Confira as opiniões e o ponto de vista dos professores:

 

Marcelo Vitor Fiatkoski, professor de Matemática do Colégio Estadual Maria de Lourdes Morozowski

 

 

“O problema que gera essa Medida Provisória é o fato de ser uma imposição. O Governo estudou muito rapidamente algumas situações, pegou modelos prontos de coisas que funcionam fora do Brasil e tenta implementar em um País como o nosso, com tanta diferença social e cultural quer não são respeitadas. Nós tivemos um grande avanço com a  implementação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), que demorou décadas para chegar no modelo que temos hoje, que não é o ideal, porque não está funcionando bem, mas ainda consegue atingir grande parte da população. As mudanças que são sugeridas, vão em desencontro com tudo o que foi conquistado e vão prejudicar os futuros alunos. Pode ser que alguns alunos não consigam finalizar o Ensino Médio ou, se finalizarem, não terão a capacitação que o mercado exige. A escola tem o propósito de formar o cidadão e fazer com que saia da escola com pensamento crítico. Quando pensamos na extinção de algumas disciplinas, vem na contramão disso. De forma alguma temos o que comemorar neste sábado, não há a valorização do profissional nem da escola. Ao meu ver, só iria existir valorização do professor quando tivermos uma boa base de Ensino Fundamental I e II e, principalmente, na formação acadêmica dos profissionais”.

Ellen Joana Nunes Santos Cunha, professora de Biologia do Colégio Estadual Helena Viana Sundin

 

 

“Sou totalmente contra a Medida Provisória 746, da forma que veio e da forma que está sendo imposta sem o diálogo. O Ensino Médio precisa de uma reformulação, mas também precisa de suporte. Enquanto professora, o que me deixa muito assustada são alguns pontos como o 'notório saber', está escrito isso na medida. Eu que fiz duas faculdades e uma especialização vou concorrer com uma pessoa que tem o 'notório saber'? O que é esse 'notório saber'? Isso não valoriza o professor. Isso fere a gente. Outro ponto é que o aluno tem que decidir a área de estudo dele. É interessante a gente começar a construir isso no aluno, mas se trata de um trabalho que vem desde o início. Outra questão que me preocupa é o artigo 36, no parágrafo 16, que os alunos do Ensino Médio poderão convalidar suas disciplinas no Ensino Superior. São níveis diferentes, mais avançado e aprofundado para ter a formação. Existem muitos 'poderão' no texto e fica fora da realidade. A minha bandeira é que tem que haver o diálogo, uma reformulação, mas com democracia. A extinção das matérias de sociologia, filosofia, artes e educação física é gritante. Nosso País passou pelas Olimpíadas, todos sabem da dificuldade no esporte, além disso onde vai ficar a criatividade, a expressão, o pensar? É retrógrado. Quem vai querer ser professor? Eu amo o que eu faço, saí do mundo corporativo porque o meu sonho era ser professora. Defendo a minha profissão, sou feliz por ser professora, mas infelizmente, com a Medida Provisória, é desmotivante."

 

Luciano Schmitt, professor de Geografia do Colégio Estadual Maria de Lourdes Morozowski

 

 

“Eu sou contra a MP 746, porque vem em desencontro a todos os anseios da sociedade em melhorar o Ensino Médio. Todos nós, professores, somos a favor da reforma do Ensino Médio, os próprios alunos enxergam isso. Para essa mudança acontecer, precisamos dialogar com a comunidade escolar e isso não acontece em três meses como o governo está fazendo. A escola tem que ter condições para uma melhoria no ensino, não é o aluno com uma carga horária maior, que vem para escola para ter aula com quadro, giz e caderno e sem investimentos na tecnologia. Tirar disciplinas é ir contra toda a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Medida Provisória não se discute, é uma ferramenta que surgiu na ditadura militar para alterar leis no País de maneira imposta. Desde quando a nossa classe política em Brasília conhece a realidade das escolas? Oitenta por cento das escolas do Ensino Médio no Brasil não têm laboratório de Física, Química e Biologia. Mais de 50% não têm laboratório de informática. O aluno passará de quatro para sete horas para ter a mesma coisa, quadro, giz, livro e professor desmotivado? O que o governo quer é sucatear o ensino público, a medida é um retrocesso. Não aceitamos isso. Neste dia não temos o que comemorar. É um dia de luto e de luta pela educação."

 

Lucia Helena Freitas da Rocha, diretora do Ensino Médio na Isulpar e professora de Língua Portuguesa do Colégio Isulpar

 

 

“Sempre quando vem uma medida, o novo nunca é bem aceito naquele momento porque causa desestabilização. O Ensino Médio teve a sua grande reforma em 1988, estamos a quase três décadas desta forma. Mas, precisamos avaliar muito bem o que queremos. O “notório saber” tira as condições dos professores. Levamos muito tempo para termos Sociologia e Filosofia, que é um momento de reflexão, de aprender a pensar, porque os pilares da educação são ser, fazer e conviver, e sem ter uma reflexão sobre isso fica difícil e a ideia do governo é tirar. Precisamos de uma população pensante.E para isso precisamos parar, refletir, ver o que está constituído. Tirar Sociologia e Filosofia da matriz curricular vai perecer. As medidas parecem muito radicais, é tirar por tirar, não é ponderar. O difícil é que essas mudanças vieram por meio de uma Medida Provisória rápida e sem ouvir a base, a escola, os professores. Não há notícias de que houve um estudo preparatório para isso. Não há valorização do professor, porque no “notório saber” há a prática, falta a parte teórica, a fundamentação”.

Publicidade










Siga-nos

Publicidade
Publicidade
Publicidade
plugins premium WordPress