Com uma frota de mais de 60 mil veículos na cidade, a questão das mudanças no trânsito em Paranaguá é algo que não pode mais ser ignorada. Essa é a visão do especialista em legislação e normas de trânsito, circulação e conduta, Luiz Henrique de Mello Santana, que por 12 anos atua como instrutor em autoescolas da cidade, contribuindo, nesse tempo, para a formação de mais de dois mil alunos.
Crítico em relação ao trânsito local, ele afirma que o Poder Público precisa se debruçar no assunto mobilidade urbana, o qual envolve diretamente as mudanças no trânsito e na malha urbana da cidade. Para Luiz Henrique, o município não precisa necessariamente chorar a morte de pessoas que perdem a vida no trânsito, seja pela imprudência, imperícia ou pela negligência de estrutura condizente para o tráfego de pedestres, ciclistas e condutores de automóveis e motocicletas.
Nesta entrevista, o especialista destacou ainda a visão do saudoso ex-prefeito Mário Roque e elogiou a postura do ex-secretário municipal de segurança, Cícero Fernandes, que contribuiu para alguns dos atuais avanços que a cidade conquistou em termos de mobilidade urbana.
Folha do Litoral News: Por que buscou ser um especialista na área do trânsito?
Luiz Henrique: O objetivo é se tornar um especialista de tráfego, diplomado, em razão da carência de profissionais capacitados na área da engenharia de tráfego na cidade. Estou em busca disso por entender que se faz necessário termos uma cidade segura no trânsito em virtude do crescimento, cada vez maior, do número de veículos que transitam em nossas ruas, as quais, por este motivo, precisam acompanhar esta realidade já presente, que é um trânsito com milhares de veículos, de todos os tipos, se deslocando de um lado a outro da cidade, muitas vezes fazendo tais movimentos de forma a colocar em risco a vida de muitas pessoas. Vale destacar que a ausência de um engenheiro de tráfego obriga o município a ter que recorrer aos engenheiros civis na hora de assinar uma obra voltada ao trânsito.
Folha do Litoral News: O que o senhor identifica como sendo problemas visíveis na engenharia de trânsito da cidade?
Luiz Henrique: Paranaguá apresenta erros gritantes nas ruas em se tratando da engenharia de trânsito, cito como uma delas o fato de termos o absurdo de lombadas existirem a poucos metros de semáforos. Vimos, ainda, recentemente, a existência de uma lombada elevada, nas proximidades do Caic, a qual estava totalmente fora dos padrões. Ela só foi retirada após termos manifestado, aos órgãos competentes, que daquela forma ela não poderia existir. Ou seja, temos lombadas fora de medidas e padrões, temos ciclofaixas com o mesmo problema de medidas, enfim, são situações que precisam ser corrigidas para a maior segurança e fluidez do trânsito em Paranaguá. Com relação às medidas das obras, lembro que elas estão todas contidas na legislação de trânsito para que sejam respeitadas.
Folha do Litoral News: O que você deseja ver em curto prazo em termos de mobilidade urbana?
Luiz Henrique: Mobilidade urbana é tudo. Por isso, nesta próxima gestão municipal, espero que algumas ações relacionadas ao trânsito sejam revistas como, por exemplo, a Avenida Santa Rita, onde há estacionamentos que poderiam deixar de existir para que o trânsito ganhe em dinamismo, tornando-a, em cada um dos lados, uma via com uma faixa adicional. O próprio canteiro central poderia ser retirado e, nele, ser feito uma extensa ciclovia. As questões que envolvem o trânsito são dinâmicas e precisam ser estudadas por pessoas capacitadas que saibam o que de fato a cidade precisa para se desenvolver neste sentido. Mas ainda é preciso mais, como é o caso da Ayrton Senna, a qual precisa ter vias marginais urgentemente. A recuperação da Avenida Bento Rocha é outra situação para ontem, nestes dois casos é preciso de mais proximidade entre Poder Público, o DNIT e o DER, pois as jurisdições são da União e do Estado respectivamente.
Folha do Litoral News: Mas medidas como a retirada de estacionamentos nunca são bem vistas…
Luiz Henrique: A retirada de estacionamentos traz um desconforto para alguns, mas precisamos pensar a cidade para a cidade e não para alguns. Medidas como a retirada de um estacionamento, que vai prejudicar o morador na casa ou do estabelecimento x ou y, não pode ser um impedidor para que a população, em geral, seja beneficiada com um trânsito melhor, mais seguro e mais ágil. Atualmente, são 60 mil veículos emplacados em Paranaguá, sem mencionar os outros milhares que passam pela cidade como os das cidades vizinhas e das regiões que integram o transporte de cargas para o porto. Ou seja, é uma realidade muito agressiva para a nossa malha viária, que está atrasada e defasada. É preciso que a mobilidade urbana seja estudada com atenção, pois o nosso estado é crítico e tende a piorar se nada for feito.
Folha do Litoral News: O senhor viu algum avanço nos últimos tempos?
Luiz Henrique: Devemos ser justos e elogiar a postura do atual prefeito que adquiriu diversos semáforos, criou ciclofaixas, ciclovias e promoveu a pintura das vias com a sinalização devida. Tais tarefas foram em muito por causa da presença do ex-secretário Cícero Fernandes, o qual se empenhou, ao máximo, para fazer do trânsito local um lugar melhor. Ressalto ainda a qualidade da equipe de Educação para o Trânsito do Departamento Municipal de Trânsito, a qual merece elogios pelos trabalhos executados, mas que ainda é um trabalho limitado, pois penso que ele poderia ser mais bem investido pelo próprio Poder Público. Lembro que os recursos provenientes do cartão Perto e das multas aplicadas pelos agentes do Demutran devem ser revertidas para a educação no trânsito, a questão é que não temos acesso aos valores arrecadados e os devidos valores aplicados.
Folha do Litoral News: O senhor classifica o trânsito parnanguara como muito perigoso?
Luiz Henrique: Vou responder com uma exemplificação. No ano 2000, quando tínhamos uma frota de aproximadamente 30 mil veículos, não ouvíamos falar de acidentes com mortes nas vias urbanas da cidade, situação que é completamente diferente nos dias de hoje. O motivo da preocupação com o trânsito em Paranaguá passa justamente por causa da quantidade de pessoas que estão indo a óbito devido a fatores como a imprudência.
Folha do Litoral News: Por que chegamos a este estágio?
Luiz Henrique: O problema é político, pois a cidade não foi projetada, no passado, para o que viria a ser a realidade futura. Aqui, abro a exceção ao ex-prefeito, o saudoso Mário Roque, que abriu a Avenida Bento Munhoz da Rocha Neto, a qual é a principal avenida de Paranaguá na atualidade. Mas, salvo isso, tivemos gestões que fizeram governos para si e não governos visionários para as décadas seguintes. Deste modo, ou nos voltamos ao futuro ou ficaremos parados no tempo e sofrendo as sérias consequências de eventuais omissões.