Discutir e fomentar políticas públicas relacionadas à atuação feminina nas atividades militares, especialmente no Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR), foram os principais objetivos do 2º Encontro Estadual de Bombeiras Militares (2.º Enebom), realizado na terça-feira 28 e quarta-feira, 29, em Curitiba. O evento, que teve o apoio da Secretaria estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), recebeu cerca de 300 pessoas
O público incluiu profissionais de todas as instituições de segurança pública do Paraná – além das bombeiras, foram convidadas integrantes das polícias Militar, Civil, Científica, Penal e da Guarda Municipal de Curitiba. A programação contou com palestras e trocas de ideias sobre dificuldades, experiências e avanços nessa área.
“Esse evento trata de pautas importantes não somente para a Corporação, mas para o mundo em que vivemos. Vem fortalecer, unir mais ainda as bombeiras e reforçar a elas que o comando do Corpo de Bombeiros está voltado, com atividades, com o pensamento, à força que tem a mulher dentro da Corporação”, destacou o comandante-geral do CBMPR, coronel Manoel Vasco de Figueiredo Junior.
Presente ao encontro, a secretária da Mulher, Igualdade Racial e da Pessoa Idosa, Leandre Dal Ponte, destacou o papel das bombeiras militares não só no atendimento à sociedade, mas como modelo para a população feminina do Paraná. “Cada vez mais a gente precisa preparar as mulheres, cada vez mais a gente precisa inspirar as mulheres, e eu não tenho dúvidas que as mulheres bombeiras do Paraná são as maiores fontes de inspiração para mulheres e meninas do nosso Estado”, afirmou.
Segundo ela, encontros como este motivam as profissionais e ajudam a estimular a entrada das mulheres em carreiras cada vez mais desafiadoras, promovendo uma sociedade mais justa e mais humana.
Uma das organizadoras do evento, a major Franciane Alves de Siqueira comemorou o sucesso da iniciativa. “Se a gente pudesse colocar numa balança, o nosso evento estaria com 100% de conquistas. É uma semeadura para uma colheita daqui a alguns anos de políticas internas voltadas para a equidade dos nossos profissionais, para que todos tenham condições de trabalho, condições de saúde mental, estrutura física adequada”, resumiu.
A importância de se levantar o debate sobre o ambiente de trabalho para as bombeiras militares se explica pelo contexto histórico. A participação feminina na Corporação começou no país em 1990. No Paraná, é bem mais recente, ocorrida somente a partir de 2005.
“São inúmeras as dificuldades enfrentadas. Na atividade de bombeiro militar, diante desafios da profissão e da desigualdade de gênero na sociedade, percebeu-se que era necessário unir forças para melhorar este cenário”, ressaltou a tenente Ivna Caroline Dias, uma das organizadoras do encontro. “De forma técnica e científica, a promoção deste evento busca levar ao comando estas necessidades de adequações”.
Segundo a tenente Ivna, sugestões de adequações administrativas, organizacionais ou operacionais que são fruto desse encontro e das inúmeras interações e reflexões proporcionadas por ele.
“O Enebom é muito importante para as bombeiras militares do Paraná, pois, como instituição pertencente à segurança pública, promovemos discussões de assuntos pertinentes e essenciais ao desenvolvimento de um ambiente laboral saudável e livre de todas as modalidades de assédio, bem como ajudamos a fomentar processos que garantam a equanimidade”, afirmou.
Ela destacou, ainda, que a melhoria nas condições de trabalho das militares reflete diretamente na sociedade, com o aumento da qualidade no atendimento à população.
Embora promovida pelo CBMPR, as discussões abrangem uma realidade bem mais ampla, encontrando eco tanto nas outras forças de segurança quanto na sociedade civil. Por isso, para a major Márcia Bobko Bilibio, da PMPR, uma das palestrantes do evento, o resultado dessa atividade é tão relevante.
“O evento foi fantástico. Tivemos a oportunidade de ouvir várias falas congruentes de profissionais diferentes. Isso é um sinalizador do caminho que nós temos que seguir. Quando temos as mesmas ideias sendo propagadas por roupagens diferentes, me parece um sinal de que é isso que nós devemos perseguir”, disse.
“Todo espaço de reflexão é sempre muito importante. Estamos sempre muito envolvidos com as nossas atividades, com as catástrofes, com as ocorrências, e poder parar para pensar, refletir e trocar ideias acerca de temas tão sensíveis é o primeiro passo para que a gente possa evoluir, para que possamos reconhecer onde estivemos, onde estamos e onde queremos chegar como instituição, como homens e mulheres dentro de uma instituição”, resumiu.
DISCUSSÕES
A palestra de abertura foi ministrada pelo deputado federal Pedro Aihara, ex-porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, seguido pela coronel Vanízia Souza Santos Camilo, do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima.
Nas duas falas o tema abordado foi: “Políticas institucionais para ingresso e condições de equanimidade das corporações bombeiro militar do Brasil”. Primeira mulher a se tornar coronel no País, ela falou sobre as dificuldades e a importância de ser pioneira na carreira e sobre a criação e o trabalho do Comitê Nacional de Bombeiras Militares. Já o parlamentar apresentou uma visão mais voltada à legislação e ao cenário atual dentro da instituição.
“A gente só consegue promover uma maior igualdade, um maior acesso dessas mulheres a todas as estruturas de Justiça, às estruturas profissionais, se a gente dialoga. Esse momento aqui é um momento da gente dialogar de forma muito responsável, de forma muito propositiva, como é que a gente pode fortalecer esses mecanismos e também entender o que precisa ser modificado”, afirmou o deputado.
Já para a coordenadora de Fomento ao Protagonismo Feminino da Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa do Estado do Paraná, Larissa Marsolik, que falou a respeito do “Protagonismo Feminino e Desafios Institucionais”, a palavra-chave é empoderamento.
“Quando a gente empodera meninas e mulheres, a gente empodera e transforma a comunidade. Quando a gente empodera essa servidora bombeira, militar, a gente também está transformando essa Corporação, essa força da segurança pública, trazendo uma cara, um sentimento, uma compreensão de igualdade de gênero para o nosso Estado. E é isso que a gente está buscando na Secretaria”, concluiu.
A programação do primeiro dia terminou com uma palestra que apresentou uma linha do tempo minuciosa sobre a “Evolução da mulher na sociedade e nas instituições de Segurança Pública”, realizada em conjunto pela major Márcia Bobko Bilibio e a capitã Carolina Zancan, ambas da Polícia Militar do Paraná. A explanação terminou com uma mensagem sobre não brigar com o passado e concentrar a energia em construir o futuro.
O chefe do Centro de Educação Física e Desporto do Corpo de Bombeiros, capitão Giovanni Raphael Ferreira, falou sobre as diferenças físicas entre homens e mulheres, as implicações disso nos testes realizados na Corporação e sobre a importância das atividades físicas para uma vida plena e saudável.
Fonte: AEN