Em tempos de eleições municipais, as discussões que já são bastante presentes nas redes sociais ganham ainda mais espaço. Escondidos atrás de suas “interfaces”, muitos usuários não só expressam e defendem suas opiniões, como fazem questão de atingir o outro de forma ofensiva. Uma mera publicação pode resultar em uma avalanche de comentários ao invés de servir como ferramenta de diálogo de ideias.
Uma pesquisa divulgada há quatro anos, realizada pela eCRM123, especializada em CRM Social (o gerenciamento das relações entre marcas, produtos e consumidores nas redes sociais), já apontava que 85% dos usuários veem as redes sociais como meio de discussão política.
O psicólogo, filósofo e especialista em Filosofia Política e Jurídica, Wilson José da Silva, avaliou o comportamento das pessoas nas redes sociais frente às eleições. “As redes sociais poderiam ser muito úteis para o debate de ideias, para o diálogo, desde que fundamentado. Pela falta de conteúdo e de ideias juntamente com acaloradas discussões, elas não falam pelo conteúdo, mas pelo calor do embate e isso não é produtivo”, analisou Wilson.
Segundo ele, o que falta nas redes é o respeito, que não é aprendido no mundo virtual, mas no real. “Ele nasce na escola, do professor, no respeito dos pais com seus filhos. Onde você estiver é possível expressar as suas ideias, exprimir o que você sente sem ser agressivo. Se a gente não tem esse espaço na vida real, também não terá na virtual”, frisou o psicólogo.
As redes sociais acabam se tornando uma maneira das pessoas se esconderem e sentirem a falsa segurança de que podem falar tudo o que pensam. “Muitas vezes isso acontece de uma forma agressiva. A liberdade de expressão nasce do pressuposto de que a minha liberdade vai até onde começa a do outro. E de outro pressuposto que é o conteúdo a se exprimir”, comentou.
Psicólogo, filósofo e especialista em Filosofia Política e Jurídica, Wilson José da Silva, explicou o comportamento das pessoas nas redes sociais
FRAGMENTOS DE IDEIAS
Uma característica identificada pelo psicólogo nas redes sociais é a ofensa contra um fragmento de ideia, ou seja, os usuários não analisam a situação como um todo e julgam somente o que veem em uma postagem. “O que vemos hoje são pessoas que se apropriam de fragmentos de ideias que são usados, inclusive, por partidos e grupos políticos, para criar uma comoção, e isso foge do que seria esperado pelo diálogo”, explanou.
Muitas vezes, fatos inverídicos fazem parte do conteúdo publicado nas redes sociais, como o Facebook, com o intuito de disseminar o ódio. “É muito mais por uma questão de ignorância, de intolerância, do que de fatos políticos”, completou.
As manifestações públicas, que recentemente voltaram a acontecer com mais frequência, são lembradas pelo profissional como algo que também começa nas redes sociais. “O que nós percebemos nessas manifestações políticas é a existência de grupos que ficam manipulando aquilo que se espera por milhares de pessoas no real, mas tudo começa no virtual, através de meses de campanha com fragmentos de ideias buscando a intolerância e, principalmente, a falta de conteúdo”, finalizou.
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