O Ministério Público Federal (MPF) emitiu uma nota, nesta semana, comunicando sobre a instalação de placas de responsabilidade ambiental na Vila do Povo, em Paranaguá. O objetivo é orientar sobre as ocupações irregulares próximas aos manguezais em Paranaguá e incentivar as denúncias. As duas primeiras placas foram instaladas nas ruas Sergipe e Mato Grosso.
O anunciado da placa é o seguinte: “Área de Preservação Ambiental – Proibida Ocupação. Ajude Paranaguá (PR) a preservar os mangues e salvar uma das maiores biodiversidades do país. Aquecimento global e desastres ambientais são resultado da degradação de áreas como esta. A responsabilidade ambiental é de todos. Faça sua parte!”.
As placas foram elaboradas pelo MPF, produzidas pela Copel em apoio à Ação Integrada de Fiscalização Ambiental (Aifa). Participam da Aifa o próprio MPF, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o Ministério Público do Estado do Paraná (MPPR), o IAT (Instituto Água e Terra, a Polícia Federal e a Prefeitura de Paranaguá), entre outras instituições.
De acordo com a nota do MPF, a mensagem reforça a importância da preservação dos mangues, ecossistemas com uma das maiores biodiversidades do País.
O que se ganha com a conservação dos manguezais em Paranaguá?
A bióloga Cassiana Metri, pesquisadora do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar), explicou que os manguezais em Paranaguá são fundamentais para proteger a costa brasileira frente a eventos climáticos cada vez mais extremos.
Segundo ela, a conservação dos manguezais em Paranaguá garante diversos serviços para a população. “A gente ganha muita coisa com a conservação, pois eles nos prestam muitos serviços. A gente chama isso de serviços ecossistêmicos, porque o manguezal é um ecossistema e ele presta serviços para o bem-estar humano”, afirmou Cassiana.
Os manguezais em Paranaguá são considerados os berçários naturais de diversas espécies. “A água do mar que invade os mangues, quando a maré está subindo, vai trazendo peixes que se protegem nessas áreas inundadas e se alimentam também. A maioria das espécies de peixes que a gente come, passam uma parte da vida no manguezal. Uma espécie símbolo é o robalo. O manguezal é um filtro, os poluentes da água ficam retidos no sedimento. Quando se há na região uma forte presença da aquicultura e do cultivo de ostras, por exemplo, é muito importante o manguezal conservado”, enfatizou.
Assim como o robalo, a bióloga lembra do caranguejo, outra espécie que depende das áreas de manguezais e é um símbolo de Paranaguá.
“O caranguejo tem uma importância para nossa região absurda. Não é à toa que a gente tem monumentos em homenagem ao caranguejo, festas etc. O caranguejo culturalmente e economicamente é muito importante para a nossa região”, considerou Cassiana.
Manguezais protegem de inundações
A bióloga destacou que a instalação de placas nas regiões mencionadas é importante porque, na maioria das vezes, só é preciso respeitar o tempo da região degradada para que a mesma se recupere.
“O manguezal tem uma capacidade de regeneração entre cinco e seis anos, depois desse tempo ele volta uma floresta bem alta de pé novamente. Só que tem que respeitar o tempo dele”, declarou Cassiana.
De acordo com a pesquisadora, um serviço relevante para a região onde foram colocadas as placas e também para todo o município é que o manguezal acaba sendo uma barreira contra o avanço do mar.
“Ele vai acumulando terra, sedimento, a gente não perde área quando tem manguezal, muito por contrário, a gente vai ganhando, o manguezal vai se expandindo. Nessas regiões, o manguezal vai ser um importante aliado para evitar que grandes marés inundem os bairros e também agora frente às mudanças climáticas, a tendência de aumento de maré, aumento de vento extremo, de frentes frias que podem agravar esse problema, os manguezais vão ser muito importantes”, frisou Cassiana.
Déficit populacional
A coordenadora do Projeto Guardiões dos Manguezais Parnanguaras, Sarah Charlier Sarubo, chamou a atenção para um dado importante sobre o município, a questão do déficit habitacional.
“Paranaguá tem um déficit de mais de 22 mil moradias para essa população mais vulnerável e é dever do Poder Público encaminhar essa solução. Inevitavelmente, com um déficit dessa proporção, as áreas naturais acabam sendo ocupadas, é importante que a gente tenha esse olhar que são ocupações humanas, não são invasões, apesar de existir muito esse olhar de invasão. A gente que lida com o meio ambiente realmente não quer que o ambiente natural seja ocupado, mas são populações que não tem para onde ir”, pontuou Sarah.
Com informações do MPF