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Meio Ambiente

Estudo com participação da UFPR identifica microplásticos em ilhas e praias do litoral do Paraná

Centenas de partículas de plásticos foram observadas

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Foto: Mateus Farias Mengatto/Divulgação

No final de março, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio da Revista Ciência UFPR, divulgou que observou no litoral do Paraná, mais precisamente nas praias localizadas às margens das Baías de Antonina, Paranaguá e Laranjeiras, incluindo as localizadas dentro da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba (APA de Guaraqueçaba), centenas de microplásticos, algo que pode afetar o equilíbrio ambiental e, principalmente animais que ingerem essas partículas de plástico que contam com tamanho entre 0,001 e 5 mm. As microesferas em questão constam em cosméticos, fios de roupas sintéticas, pastas dentais, entre outros itens, e estão presentes em 16 das 19 praias estudadas pelos cientistas na região. 

Os apontamentos foram feitos na revista científica Marine Pollution Bulletin junto a pesquisadores do Centro de Estudos do Mar (CEM) da UFPR, localizado em Pontal do Paraná. “Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontam que pelo menos 51 trilhões de partículas de microplásticos estão espalhadas pelos oceanos. Um estudo publicado na revista científica Marine Pollution Bulletin identificou microplásticos em praias estuarinas do litoral paranaense”, informa a UFPR. Segundo a revista científica, ao todo, foram registrados 389 itens, entre eles, “63% eram espumas, como o isopor, por exemplo, e 14% fragmentos de produtos feitos de plástico”, completa.

Segundo a UFPR, as coletas foram realizadas ao longo de duas semanas no fim de 2020, com análises laboratoriais feitas no primeiro semestre de 2021.”De acordo com o grupo, a presença e caracterização de microplásticos é inédita nas praias do Complexo Estuarino de Paranaguá (PR), uma das mais importantes baías do Brasil”, aponta a assessoria

“Selecionamos as praias visando a obtenção de um panorama espacial da presença dos microplásticos ao longo do sistema estuarino”, afirma Mateus Farias Mengatto, mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos pela UFPR e primeiro autor do trabalho. Segundo ele, as partículas foram inclusive detectadas em área de proteção ambiental de Guaraqueçaba. Foram observadas também partículas denominadas de pellets, que são definidos como “plásticos primários utilizados como matéria prima por indústrias que fabricam produtos de plástico”, acrescenta.

De acordo com a universidade, o trabalho consta no projeto de pesquisa denominado como “Panorama Histórico e Perspectivas Futuras Frente à Ocorrência de Estressores Químicos Presentes no Complexo Estuarino de Paranaguá (EQCEP)”, sendo um de oito selecionados pela Chamada Pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Nº 21/2017 – Pesquisa e Desenvolvimento em Ações Integradas e Sustentáveis nas Baías do Brasil.

Apontamentos para o futuro

Segundo Renata Hanae Nagai, orientadora e coautora do trabalho, a iniciativa foca na ampliação do conhecimento dos impactos das ações humanas no litoral paranaense. “Nós queremos fornecer informações sobre a qualidade ambiental da região para a sociedade e tomadores de decisão, visando a conservação e uso sustentável do ambiente costeiro”, completa. Em unidades de conservação na região, compreender a presença de microplásticos é algo fundamental. 

“Apesar deste trabalho ter considerado apenas as praias do Complexo Estuarino de Paranaguá, destacamos que o nosso litoral possui ecossistemas essenciais para a manutenção da biodiversidade marinha e para manutenção de recursos naturais consumidos pela sociedade, como por exemplo os manguezais. É importante que esses ambientes sejam investigados em trabalhos futuros.”, afirma Mateus Mengatto.

Plástico e como ele afeta os oceanos

389 itens foram observados, entre eles 63% eram espumas, como o isopor por exemplo, e 14% fragmentos de produtos feitos de plástico, aponta a UFPR (Foto: Mateus Farias Mengatto/Divulgação)

“O plástico tornou-se popular no Brasil na década de 1950, mas a produção em larga escala trouxe graves impactos ambientais. O Brasil é um dos maiores produtores de lixo plástico do mundo, com aproximadamente 11,3 milhões de toneladas descartadas por ano, de acordo com a World Wildlife Fund (WWF). O destino incorreto gera poluição em oceanos, rios e solos, com impacto direto para a fauna e a flora”, informa a UFPR.

Segundo a universidade, os maiores vilões são embalagens descartáveis e sacolinhas plásticas, por exemplo, que são de utilização única, mas permanecem por séculos no mar. “Uma vez no oceano esses plásticos podem ser ingeridos por organismos marinhos maiores, como peixes, tartarugas, aves e mamíferos marinhos, e podem sofrer degradação, fragmentando-se em pedaços menores, gerando o que chamamos de microplásticos”, afirma Renata.

“Isso dificulta a retirada do meio ambiente e também favorece sua interação com uma gama muito maior de organismos marinhos, o que tem um efeito cascata na fauna marinha, via processos de bioacumulação e biomagnificação. Por isso, a investigação de microplásticos cresceu exponencialmente na última década”, explica Mateus.

Segundo Nagai, a poluição por microplásticos é algo que está sendo tema de diferentes pesquisas por discentes de pós-graduação no CEM da UFPR, localizado em Pontal do Paraná.  “A expectativa é que em um futuro próximo nosso entendimento do status da poluição por microplásticos no litoral do Paraná seja ampliado. Assim, será possível vislumbrarmos caminhos e soluções para os riscos e problemas gerados por este poluente emergente”, finaliza.

Confira os locais estudados:

COM REGISTROS DE MICROPLÁSTICOS

Encantadas

Eufrasina

Europinha

Guaraqueçaba

Ilha das Cobras

Ilha das Gamelas

Ilha do Teixeira

Mariana

Piaçaguera

Ponta do Poço

Ponta do Uba

Ponta Oeste

Praia do Limoeiro

Rio Emboguaçu

Rocio

Vila das Peças

SEM REGISTROS DE MICROPLÁSTICOS

Ilha Rasa da Cotinga

Ponta da Pita

Rio Itiberê

Com informações da UFPR/Revista Ciência UFPR

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