Neste mês, a plataforma TasteAtlas, que mapeia avaliações de usuários e críticas gastronômicas ao redor do mundo, divulgou que o barreado, prato típico da culinária do litoral do Paraná, conquistou mais um reconhecimento. Após receber o título de Indicação Geográfica do Brasil em 2022, a iguaria foi eleita a terceira melhor receita com carne e bacon do mundo.
ADETUR LITORAL
Para o diretor executivo da Adetur Litoral, José Reis, o Juca, o barreado merece todo esse reconhecimento e reforça que o prato é típico da região litorânea paranaense. “Todo reconhecimento é bom, a gente já sabia, pois é incrível quando as pessoas provam o barreado feito da forma certa, servido da forma correta, ficam espantadas com o sabor do barreado. É um prato muito saboroso, gostoso e equilibrado, os elementos dele favorecem o prato, o caiçara fez um prato que não existe né, a forma do cozimento dele, então é um prato diferenciado, único. E isso só reforça que temos um prato, além de ser exclusivo, que não tem em outro lugar e nem variações, o barreado você só tem na região do litoral”, destacou José Reis, o Juca.
Juca destacou que o barreado tem origem através dos caiçaras e não dos portugueses. “Precisamos para com os achismos, pois acham que o barreado é de Açores, de Furnas, dos tropeiros, menos achar que o barreado é dos caiçaras, porque todos os indícios históricos pontam para o caiçara, mas aí vem alguém e diz que não é do caiçara, é de outra cultura, então é complicado. Acho que gente querer ser europeu fala mais alto e a gente acaba deixando quem é o verdadeiro criador do barreado. Não há dúvida de quem fez o barreado, ele é feito pelos caiçaras, se comia no entrudo, isso tem registro histórico, é inquestionável. Agora inventaram que a origem é portuguesa, açoriana, isso não condiz, não tem dados nenhum, é tudo achismo, não há comprovação histórica falando que o barreado é português. Se você for pegar uma semelhança com cozidos, o barreado pode ser italiano, francês, vindo pelos judeus, então a gente tem que ver o contexto, quais são os primeiros cozidos. Agora, você não tem o barreado dessa forma em outro lugar do mundo”, explicou Juca.
Em 2022, o barreado recebeu o selo de Indicação Geográfica (IG). O selo é uma garantia dos padrões de preparo e de qualidade concedida a produtos típicos de determinada região. “O selo é extremamente importante, é uma indicação que o barreado é um prato da região do litoral do Paraná. O selo sempre é benéfico e protege o barreado do uso indevido, por exemplo, em Curitiba tem o cozido do barreado, mas o barreado mesmo você encontra aqui no litoral”, pontuou.
A avaliação, realizada pela plataforma TasteAtlas, considerou pratos com notas que variam de 1 a 5 estrelas, e o barreado brilhou com uma pontuação geral de 3,9 estrelas, conquistando um lugar de destaque no pódio. “Figurar entre os três primeiros pratos do mundo é para poucos, isso é importante, pois dá vitrine merecida para o barreado. Conhecer o barreado da forma tradicional é uma experiência inigualável, é a prova da sobrevivência dos colonizadores na nossa região, ele se adaptou com a forma do índio através da farinha, da banana, fazendo um cozido que só existe aqui de uma forma rudimentar, única forma de vedação rústica no Brasil. Parabéns ao caiçara, ao litorâneo, por ter essa iguaria única no mundo”, disse Juca.
NORMA SANTOS FREITAS
A proprietária da Casa do Barreado e Chef de Cozinha, Norma Santos de Freitas, contou de quando as pessoas começaram a fazer o prato típico do litoral. “As famílias faziam na época do Carnaval, foi como aprendemos no de 1967. A importância que ele tem é tão grande quanto a Cultura e História do Litoral e do Estado do Paraná”, disse.
Norma explicou que o barreado que prepara hoje aprendeu com a própria família. “Preparo o barreado quando há reserva e nos fins de semana. As técnicas utilizadas são as mesmas dos registros históricos de mais de 200 anos, aprendi coma família”, contou.
O famoso prato típico do litoral foi eleito a terceira melhor receita com carne e bacon do mundo. Para ela, a premiação dá mais visibilidade ao prato, mas lamenta que há divulgações colocando o barreado como sendo de origem açoriana, mas na verdade é do litoral do Paraná. “Sem dúvida é uma premiação que dá grande visibilidade para o Barreado, só lamento que registros históricos como “II Congresso Brasileiro de Folclore, 1953”, que a registrou a origem do barreado é no Litoral do Paraná e não em Açores e colocaram um ingrediente, que é o tomate, sequer existia aqui naquela época, há inúmeros registros no IHGP e Mandicuera, sobre barreado que não foram pesquisados, como se a história oral e registrada em Paranaguá não fosse digna de importância, veja mais uma vez o desrespeito pela nossa cidade”, exclamou.
Uma das curiosidades do barreado aconteceu em 1861. “Quando findou a guerra com o Paraguai, 1861, somente o Barreado, no “domingo gordo” resistiu as tristezas do período da guerra, são exemplos de registros históricos e atualmente temos registros de pessoas do mundo todo, que ficam encantadas e surpresas pelo sabor do Barreado, originário do nosso Caiçara”, concluiu Norma.
MARIA VENITA LIPORINI
A proprietária da empresa Doce Vida Refeições e Chef de Cozinha, Maria Venita Liporini, disse que aprendeu a preparar o barreado na cidade de Morretes. “Aprendi a fazer o barreado ainda na cidade de Morretes, a muitos anos atrás, com a professora Helmosa Salomão Richter (in memorian), uma pessoa muito especial que nos ensinou e representou com maestria há mais de 40 anos, em muitos locais do Brasil o nosso barreado e o fandango, ambos típicos de nosso litoral. A importância deste prato também aprendi com a professora Helmosa, com ela entendi, já naquela época, que não era apenas uma refeição, mas sim uma forma de afeto, onde servimos a alegria de reunir aquele que amamos em nossa mesa com fartura e festa. No decorrer dos anos, esse entendimento se acentuou, pois a frase ”Vamos fazer um Barreado”, sempre vem acompanhada de reunião familiar, de boas histórias e comemorações. Assim, o típico prato de nosso Litoral, o Barreado, é sinônimo de amor e dedicação com todos aqueles que degustam”, destacou.
A Chef de Cozinha prepara a iguaria toda semana e isso já tem 25 anos de trabalho. Segundo ela, a empresa chega a atender cerca de mil refeições diárias no local. “Em nossa empresa, Doce Vida Refeições, servimos o barreado todos os sábados a nossos clientes. Ele pode ser retirado diretamente no balcão, através de combos e marmitas. Como nos aperfeiçoamos no fornecimento de refeições industriais para empresas ao decorrer de 25 anos de trabalho, não possuímos restaurante aberto ao público, porém, como sempre tivemos em nossa história ótimas relações com nosso público, cultivado com o nosso atendimento, no preparo de cada prato, nossos clientes pessoas físicas retiram diariamente suas marmitas no local. Atualmente chegamos a atender cerca de 1 mil refeições diárias no total, e claro, no sábado o Barreado é o maior sucesso, momento que nossos clientes e amigos se cruzam, batem papo e conseguem levar para suas famílias esse prato tão carregado de história e amor”, disse.
“Nossa produção inicia-se pelo menos dois dias antes do resultado final, com a escolha minuciosa dos ingredientes necessários como a carne, temperos, entre outros. Na sequência inicia-se o porcionamento dos ingredientes e pré-cozimentos. Após tudo estar organizado é realizado o fechamento do panelão, tradicionalmente realizado com farinha e água em suas bordas, chegando a cozinhar por até 12 horas dependendo do fogo. Assim que atinge seu ponto, pode-se sentir o cheiro a distância, despertando já aquela vontade de provar. Neste preparo, como já mencionei, aprendi muitas coisas com pessoas antigas, e ao decorrer dos anos fui aperfeiçoando com algumas técnicas e temperos especiais, e como todo bom chefe, tem aquela pitadinha de segredo, chegando ao resultado atual, que vem agradando todos que degustam”, completou a Chef de Cozinha.
Maria Venita Liporini reforçou que o prato é típico do litoral do Paraná e vibrou com o resultado da eleição que premiou o prato a nível mundial. “O Barreado, prato típico do Litoral do nosso Paraná já é um símbolo regional, e esse reconhecimento a nível mundial só ratifica sua história, onde mistura-se a esse prato os mais belos ingredientes da vida, a alegria de reunir a família e amigos, acompanhado de uma refeição marcante! Esse título deixa toda nossa região orgulhosa, afinal são diversos segmentos que trabalham em torno desse prato, promovendo o turismo gastronômico e o crescimento da economia local em nossas cidades. Além disso temos que lembrar que nada acontece da noite para o dia, afinal, em tudo existe muito trabalho e perseverança, assim, este prêmio também é nostálgico, e não devemos esquecer daqueles que passaram de geração para geração, em todas as cidades de nosso litoral, seus ensinamentos, sempre com entusiasmo e muito carinho para que chegássemos a este momento. Que este prêmio possa ser um incentivador também para nossos gestores, através de suas secretarias de turismo afim de explorar cada vez mais essa iguaria reconhecida, agora, mundialmente”, pontuou.
Tradicionalmente, o barreado era preparado como um prato festivo, servido em casamentos, batizados e aniversários, além de festas da comunidade e religiosas. Era feito também nos mutirões de colheita das comunidades litorâneas. “Nosso Barreado datado de muitos anos, lá do período colonial, sendo associado seu surgimento a festas típicas como carnavais, tendo em vista seu valor energético e longa duração do sabor, também conta a história que era servido para tropeiros que passavam pela região para comercializar a erva-mate e em mutirões que realizavam atividades diversas em nossa sociedade, sempre envolvendo muitas pessoas. E neste sentido permanece o nosso Barreado como sinônimo de alegria, festa e fartura, hoje podendo ser encontrado em praticamente em todas as nossas cidades do Litoral, através de ótimos restaurantes! Uma dica: este é um ótimo prato para ser servido em festas de casamentos, aniversários e confraternizações, geralmente faz o maior sucesso, e hoje como um dos três melhores pratos do mundo envolvendo carne e bacon”, finalizou Maria.