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Entrevista

Promotor fala sobre o processo de adoção em meio à pandemia

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Conforme dados do Tribunal de Justiça do Paraná, existem 529 crianças e adolescentes aptos para adoção no Paraná à espera de uma nova família. O Ministério Público do Paraná disponibilizou uma entrevista com o promotor de justiça Dr. David Kerber de Aguiar, o qual explicou como tem sido conduzido esse processo hoje no Estado, em função da pandemia, e sobre o tempo de espera das pessoas que querem adotar, destacando a adoção como um “encontro de almas”. Confira:

Folha do Litoral News: A pandemia afetou diversas áreas, isso também afetou de alguma forma os processos de adoção?

Kerber: Infelizmente afeta e nas duas etapas desse processo. A primeira etapa é a habilitação dos casais ou pessoas que querem entrar no cadastro de adoção. Uma das exigências para isso é o estudo social, uma avaliação psicológica e um curso. Em função das medidas sanitárias, as visitas nas casas das pessoas ficaram prejudicadas neste período, assim como a avaliação psicológica. Agora há cursos on-line de adoção. O segundo prejuízo ocorre nas doações efetivas, aqueles casais que já estão inscritos e já estão com indicações para adoção. Existe uma fase neste momento que chama aproximação e quanto mais velha a criança, mais demora esse processo. Esses primeiros contatos demoram um pouco mais nas crianças mais velhas para evitar uma frustração. Devido ao distanciamento social, essa aproximação tem sido de forma virtual, por isso, em alguns casos, se torna impossível ou então fica reduzida. A equipe técnica avalia se são ou não válidas essas aproximações virtuais.

Folha do Litoral News: Houve uma queda nos pedidos de adoção?

Kerber: Naturalmente, houve uma queda, porque as pessoas tiveram preocupações que até então não tinham. Mas, não quer dizer que é impossível dar a largada de inscrição para adoção, porque hoje o Tribunal de Justiça atua de forma remota e nada impede que os casais ou pessoas que tenham esse interesse as façam por este meio, por exemplo. Entrando em contato por telefone ou e-mail, recebendo o formulário de inscrição, pode ir separando a documentação. É um bom momento para iniciar a reflexão sobre a vontade de adotar e dar entrada no pedido de forma on-line.

Folha do Litoral News: Quem ainda não está inscrito no sistema de adoção, o que deve fazer?

Kerber: A melhor recomendação que posso dar é pegar o telefone de atendimento remoto da Vara de Infância da sua região e pedir o formulário de inscrição. Ao menos dá para iniciar o protocolo do pedido de habilitação para adoção. Se houver alguma dificuldade, basta ligar para o telefone do Fórum que já vai ter a informação de como entrar com contato com a Vara da Infância e Juventude local.

Folha do Litoral News: Muito se ouve falar sobre o descompasso da fila de crianças aptas à adoção e o número de pessoas dispostas a adotar, muito por conta do desejo de adotar um determinado perfil de criança. Isso ainda ocorre?

Kerber: Infelizmente, é uma realidade que ainda existe. No Paraná temos 529 crianças e adolescentes aptos para adoção, ou seja, que aguardam um casal ou uma pessoa. Do outro lado dessa linha, nós temos 2.963 casais ou pessoas aptas e que querem adotar. É um número quase seis vezes maior. Essa conta nunca fecha em razão do perfil que as pessoas escolhem, há muita preferência por bebês e fica muito curta a lista de bebês e muito difícil de adotar as crianças mais velhas e os adolescentes. Uma solução para isso é, sem dúvida, a conscientização para que os casais verifiquem por que estão escolhendo bebês. Esse desejo de ser pai vai acontecer de qualquer forma. Para adotar um bebê hoje demora de cinco a seis anos, a partir de três ou quatro anos da criança a adoção demora um ano. Quanto menos a idade, mais demorado é esse processo. Mesmo com uma criança de nove a dez anos, ainda é possível viver coisas muito legais com elas, algumas têm a primeira festa de aniversário nesta idade. Os grupos de adoção já refletem muito sobre isso, as pessoas não notam que um bebê, em tese, dá muito mais trabalho do que uma criança mais velha em termos de cuidados. A adoção, antes de mais nada, é um encontro de almas, quando acontece de forma adequada, não importa a idade da criança, o pai e mãe e o filho nascem naquele momento do primeiro encontro. A criança um pouco mais velha tem, obviamente, mais memórias, do que pode ter acontecido no passado, mas ela tem uma demanda de carinho e de acontecimentos positivos tão grande que o reflexo positivo da convivência será muito maior que um filho natural. Porque a expectativa dessa criança é de ter felicidade. Quando as adoções tardias acontecem de forma adequada, tudo bem acompanhado, não tenha dúvida de que o sentimento de pai e mãe é tão igual o de um filho natural. A grande maioria opta por crianças de 0 a três anos.

Com informações do MP

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