“Nosso corpo é mais forte do que imaginamos, acredite em você e será capaz de passar por isso, mas não passe sozinho”, lembrou a presidente do Instituto
A presidente do Instituto Peito Aberto, Fabiana Parro, é também uma das idealizadoras da iniciativa. A vocação para o trabalho voluntário sempre esteve presente na vida de Fabiana, pois depois de se formar em Fonoaudiologia, já atuava como voluntária. Mas, foi com o Instituto que alcançou um dos seus maiores objetivos de contribuir com a qualidade de vida do próximo. Em 2012, ela foi acometida pelo câncer de mama, passou por cirurgia e por sessões de quimioterapia e radioterapia solicitadas pelos médicos. Por isso, sabia das dificuldades encontradas pelas mulheres e queria ajudá-las a passar pelo tratamento. Junto com uma prima e com a Dra Ana Carolina Machado, surgiu a necessidade de solucionar as dúvidas das pacientes e na posterior abertura do Instituto para alcançar ainda mais meninas para que elas possam se levantar e seguir adiante. Na entrevista, Fabiana Parro fala sobre o trabalho, as conquistas e o atual cenário do câncer de mama com um alerta para que as mulheres não deixem de cuidar de si mesmas.
Folha do Litoral News: O Instituto cresceu muito de 2014 a 2017, conseguindo acolher cada vez mais mulheres, a que você atribui essas conquistas?
Fabiana: Todo mundo acha que temos um mantenedor. O que temos hoje é uma ajuda de custo da empresa Multitrans para pagamento de água, telefone e energia. O espaço é cedido pelo Sindicato dos Trabalhadores Marítimos (Setapar), por isso não pagamos aluguel. Esse custo fixo vem de doação de parceiros. Acredito que o Instituto tenha essa cara hoje, esse crescimento, é porque há uma corrente do bem. Tem tanta coisa errada, mas tem tanta gente boa e, às vezes, a pessoa boa não sabe como ajudar. A partir do momento que se cria uma ideia e as pessoas veem que é algo sério, elas começam a se agregar. O crescimento do Instituto se deve a isso, à credibilidade que fomos construindo e aos parceiros, não só financeiramente falando, mas parceiros que tudo que a gente precisa eles estão do lado. Temos muitos que nos ajudam em eventos e esses se transformem em doações. O trabalho voluntário também é fundamental, sou voluntária desde que me formei e tenho isso comigo, acho que o voluntário tem que ter um lugar gostoso, prazeroso, tem que ser bom para ele. A gente vê que a maioria dos voluntários do Instituto recebe muito mais em troca do que a ajuda que elas prestam.
Folha do Litoral News: Temos visto mulheres cada vez mais jovens com câncer de mama, como está este cenário em Paranaguá e a que você atribui isso?
Fabiana: Converso muito com os médicos a respeito disso e será que estamos fazendo o diagnóstico mais cedo? Pode ser que hoje a mulher com mais acesso à informação tem procurado mais cedo os exames. Temos essa questão do diagnóstico mais cedo e, por isso, o surgimento em mulheres mais novas e temos a questão de que realmente mulheres mais novas estão sendo acometidas. A gente pensa muito em genética, mas sabemos que o genético corresponde a 10% dos casos. Pelo que temos acompanhado com os médicos é que não tem ao certo uma receita, de que uma coisa tenha causado a doença, mas o que se vem estudando muito com relação a todos os tipos de câncer são as mudanças de hábitos das mulheres hoje. Temos coisas importantes hoje que as mulheres precisam ficar atentas como a alimentação, principalmente relacionada à obesidade, qualidade de vida, falta de atividade física, estresse etc. A mulher foca no trabalho e não tem tempo para mais nada. As mulheres estão engravidando cada vez mais tarde hoje, o que já é provado, a mulher quando engravida mais tarde fica mais tempo exposta a hormônios. São vários fatores que podem estar relacionados se pensarmos nas nossas avós e em nós e muitas coisas mudaram. Quando pensamos em câncer, pensamos em fumo, mas a bebida está mais interligada com o câncer de mama que o cigarro. É uma coisa para tomarmos cuidado.
Folha do Litoral News: As mulheres não fazem os exames regularmente por medo do diagnóstico?
Fabiana: É preciso acabar com o medo de não fazer o exame achando que vai encontrar o câncer. Temos que mudar esse pensamento, pois se achar, que bom, quanto mais cedo, mais chances de cura eu vou ter. Câncer não é sentença de morte, mas é visto desta forma pelas mulheres. Tudo que é novo e desconhecido causa medo, por isso quanto mais a gente falar, quanto mais mostrar que existem mulheres normais que estão lutando e que sobreviveram, ter algo real, melhor.
Folha do Litoral News: Qual a maior dificuldade encontrada pelas mulheres hoje?
Fabiana: No geral é o medo do tratamento, de se expor careca, sem cílios, sobrancelha, o câncer mexe com a autoestima da mulher. Nesse momento é que o trabalho do Instituto é fundamental. A gente sabe que se essa mulher tiver uma autoestima elevada, a chance de passar pelo câncer é muito maior e melhor que uma que entra em depressão. Ainda temos casos de maridos e namorados que se afastam e, por isso, entram as psicólogas, muitas vezes elas atendem os maridos, porque a paciente levanta a cabeça e segue e o marido precisa de ajuda. Às vezes, a pessoa não tem estrutura para aguentar essa dor com você, por isso as mulheres não podem se culpar.
Folha do Litoral News: Qual o recado que você poderia deixar para as mulheres nesse Outubro Rosa?
Fabiana: Essa história de empoderamento feminino é fantástica, mas não podemos esquecer o primeiro passo, que é a gente. Temos que ter o nosso tempo, seja para ler um livro, para correr, enfim, fazer algo que você goste e incluir nisso a sua saúde. Isso garante que não vá ter o câncer? Nem sempre. Existem os cuidados que estão nas nossas mãos e caso aconteça, não é sentença de morte. Lute, enfrente, pois vai passar. Às vezes achamos que não vamos aguentar, mas a gente aguenta. O nosso corpo é mais forte que a gente imagina, acredite em você, que você será capaz de passar por isso e não passe sozinho. O Instituto vem justamente para isso, porque quando você compartilha a sua dor com alguém que passou na pele o que você está passando, fica mais fácil. Não tenha medo nem vergonha de procurar ajuda, porque daí passa mais fácil e daqui a pouco você estará lá na frente ajudando uma outra que está vindo ali atrás.