Entrevista

Enfermeira destaca importância da doação de sangue em tempos de escassez

Elizângela Zem ressalta que, desde maio, Hemorrede está sofrendo um desabastecimento total do Paraná (Foto: MPPR)

Enfermeira destaca importância da doação de sangue em tempos de escassez

Enfermeira destaca importância da doação de sangue em tempos de escassez

Na semana em que se celebra o Dia Nacional do Doador de Sangue, no dia 25 de novembro, a Folha do Litoral News divulga entrevista da enfermeira Elizângela Zem, chefe da Unidade Transfusional do Hospital de Clínicas (HC), vinculada à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ela explica a importância deste ato solidário que salva vidas diariamente, bem como alerta para a dificuldade que os bancos de sangue de todo o Estado estão enfrentando para encontrar doadores neste período de pandemia da Covid-19.

Além disso, Elizângela aborda pontos importantes como exigências para fazer doação, benefícios oferecidos a doadores regulares, bem como mudanças na legislação que permitiram que homens homossexuais possam doar sangue, algo que anteriormente era vedado. Confira a entrevista:

Folha do Litoral News: Como funciona o processo de doação de sangue, onde doar, quem pode doar e de quanto em quanto tempo? 

Elizângela: Quem pode doar é a pessoa entre 16 e 69 anos, os que têm de 16 a 17 devem estar acompanhados do seu responsável legal, ambos com seus documentos. A primeira doação tem que ser feita até os 61 anos, a partir desta idade aí não vai mais poder começar a fazer doações. A pessoa precisa ter o peso mínimo de 50 quilos, estar saudável e em relação a algumas medicações e procedimentos há algumas restrições, mas isso é abordado durante a triagem. Também é importante que a pessoa tenha um bom acesso venoso, aquela pessoa que tem as veias fininhas vai dificultar um pouco o procedimento, então vale a pena a pessoa ter esta consciência. É importantíssimo manter um comportamento livre de riscos de contaminação de doenças que vão ser passadas através do sangue, em que muitas delas podem ser adquiridas pela relação sexual. Pode doar sangue na Hemorrede do Paraná, que tem mais de 20 unidades espalhadas em seus municípios com o maior número de pessoas.  O biobanco do HC em Curitiba atende toda a sua clientela do Hospital de Clínicas que é 100% SUS o nosso hospital-escola. O Hemepar também tem a sua unidade-sede que fica próxima à sede do biobanco. O Hospital Erasto Gaertner faz também as suas coletas para os seus pacientes. É importante lembrar que o Hemepar faz a coleta para abastecer os hospitais da rede SUS, também temos em Curitiba o hemobanco que abastece a rede privada. Com relação à quando doar, os intervalos de doações para homens e mulheres são um pouco diferentes. Os homens podem doar a cada 61 dias, mas no intervalo de 12 meses apenas quatro vezes. Já as mulheres podem doar no intervalo de 91 dias com limite de três vezes durante os 12 meses. 

Folha do Litoral News: Com relação ao dia da doação, quais são as orientações às pessoas que querem doar sangue? 

Elizângela: No processo de doação temos que pensar que este dia é muito especial e para um dia especial a gente tem que ter dormido bem, estar descansado, pessoas que trabalham à noite têm que ter feito um repouso na noite anterior. É necessário estar bem alimentado, algumas pessoas pensam que é mais ou menos como fazer um exame-laboratório que a gente tem que ir em jejum, muito pelo contrário, é necessário estar bem alimentado e hidratado. É necessário apresentar um documento oficial com foto, seja o RG, CNH, carteira de trabalho, entre outros. No biobanco já estamos nos antecipando a esta nova portaria e aceitando documento digital, em que a gente recebe um e-mail com a imagem, imprime, pois a gente tem que ter a certeza de que aquela pessoa é ela mesma. Após o cadastro, passa por uma triagem com um profissional, normalmente um médico ou enfermeiro, quando vão elencar várias questões mais particulares. Se ela estiver apta na triagem, ela vai fazer o teste de anemia e estando apta com relação ao nível de ferro no sangue, vai propriamente para a coleta. Na coleta, a bolsa de sangue tem uma capacidade, existe o mínimo que a gente pode coletar e este valor oscila mais ou menos em 450 ml. É um volume grande, por isso a pessoa precisar estar bem alimentada e hidratada. Também coletamos amostras de sangue para os exames sorológicos como HIV, HTLV, doença de chagas e a bolsa de sangue só vai ser liberada para uso de transfusão após a liberação dos resultados de exames, se tiver qualquer tipo de alteração vai ter que ser feito o descarte do material coletado.

Folha do Litoral News: Além de praticar um ato solidário e de respeito ao próximo, quais as principais vantagens que o doador possui? 

Elizângela: Os exames sorológicos depois são liberados a partir de uma semana, isso depende de cada serviço com relação ao prazo para liberação de resultados, mas ele só vai ser entregue ao doador ou alguém que tem uma procuração própria para isso. Não pode o amigo ir lá buscar o resultado do exame. Outro benefício que a doação de saúde concede no Estado do Paraná é que o doador recebe um certificado de doação em que ele tem direito à meia entrada no cinema, shows, e isso acaba atraindo várias pessoas, pois é um benefício bem interessante. Temos uma legislação que uma vez ao ano as empresas são obrigadas a receber o atestado de doação de sangue, ou seja, a pessoa tem direito a um dia de folga no serviço para ir doar sangue.

Folha do Litoral News: O Supremo Tribunal Federal (STF) em maio deste ano derrubou algumas restrições para doação de sangue relacionadas principalmente às pessoas homossexuais, o público LGBT. Como isso era feito antes e como passou a ser depois desta decisão do STF? 

Elizângela: Precisamos esclarecer que é com relação aos homens que fazem sexo com homens, esta questão em que havia um impedimento, as mulheres que fazem sexo com outras mulheres nunca foram impedidas. Com esta decisão, que foi muito boa do Supremo, as pessoas tiveram acesso ao que a própria Constituição Federal afirma em seu artigo 5.º que todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, e de que todos têm liberdade e igualdade. Então, antes os homens que faziam sexo com outro ou outros homens, em um intervalo de 12 meses, eles estariam inaptos para doação, então eles que tinham que ficar um intervalo de um ano sem praticar sexo com outro homem. Com esta nova determinação, todos são avaliados da mesma forma, são avaliadas questões do comportamento sexual, até mesmo porque sabemos que existe um período de janela imunológica, por mais avançados que sejam os exames ele não consegue detectar se aquela pessoa teve contaminação por uma relação sexual mais recente. Isso serve para homossexuais e heterossexuais, passamos a tratar todos da mesma forma, os critérios são os mesmos para todo mundo, independente da sua preferência sexual.

Folha do Litoral News: Como está o banco de sangue e a procura de doadores neste período de pandemia? 

Elizângela: Com esta pandemia que foi tudo muito rápido, nós tivemos que nos preparar de maneira com que o fluxo de pessoas nas unidades de coleta de sangue tivesse restrição do número de pessoas em cada espaço, oferecendo álcool em gel para que todos possam estar higienizando suas mãos, reforçando a obrigatoriedade do uso de máscaras por todos que entram no prédio, assim como para os profissionais usarem outros equipamentos que ampliem sua proteção. A Hemorrede do Estado para tentar garantir uma segurança maior ao grupo vulnerável maior de 60 anos está solicitando que eles não façam a doação, porque o ideal é que eles fiquem realmente em casa. O que aconteceu é que no início da pandemia a população foi às unidades e fez bastante doação em um intervalo curto de tempo ali naquelas duas ou três semanas em que foi decretada a pandemia no País. Após isso, muita coisa aconteceu ao contrário, então desde maio estamos sofrendo com o desabastecimento total. Claro que cada local tem sua particularidade. Com relação ao Hospital de Clínicas, que é referência no Estado, os nossos pacientes que fazem tratamento de câncer não pararam o tratamento, até mesmo porque eles têm o amparo constitucional de que independente do estado de crise do País o tratamento deles não pode parar. O HC é referência na América Latina no transplante de medula óssea e é justamente essas pessoas que têm doença no sangue e elas precisam receber muitas bolsas durante todo o tratamento, desde antes, durante e após o transplante, isso pode durar por vários meses. Uma única pessoa pode receber mais de 30 bolsas de sangue e, por isso, a gente depende da solidariedade das pessoas. Neste momento, podemos compreender que muitos estão desempregados, não têm nem como se locomover aos pontos de coleta, outros perderam familiares com a Covid-19, sem trabalho, sem esperança, como se estivesse vivendo em um período que parece que não vai acabar nunca. Mas os nossos pacientes estão precisando muito, chegando ao ponto de que no Hospital de Clínica os nossos funcionários estão doando seu próprio sangue para que não falte aos nossos pacientes.

Folha do Litoral News: Às pessoas que nunca doaram, qual a importância de fazer a doação de sangue, ainda mais neste período de desabastecimento durante a pandemia? 

Elizângela: Uma única doação pode salvar pelo menos quatro pessoas, pois a o sangue da gente é fracionado em vários elementos, de repente uma pessoa tem que receber hemácia, outra pessoa precisa receber plaqueta e isso se a gente for pensar em multiplicar esses quatro em cada pessoa que vai e doa duas, três ou quatro vezes ao ano, isso ajuda muita gente. Falando em Covid-19, os pacientes internados com esta doença estão usando muito sangue. A gente até acreditou que com esta questão do Supremo ter possibilitado ao grupo LGBT fazer doação, que haveria uma doação expressiva deles, infelizmente isto não está acontecendo, então a participação deles nós esperamos que fosse maior, nós até nos preparamos para isso. O que eu peço é que a população saiba que aqueles que estão adoecidos continuam precisando da solidariedade de uma doação de sangue. A doação de sangue causa em você um estado de felicidade, isso é relatado por muitos doadores e é por isso que eles voltam. Eu quero apelar às pessoas que podem fazer doação e que estão próximas a uma unidade de coleta que doe. Se houver dúvidas, o cidadão pode ligar para as unidades, pois às vezes as pessoas têm dúvidas com relação a ter tomado uma medicação ou vacina, você então vai receber a orientação de um profissional capacitado ao telefone vai se dirigir já preparado para poder fazer uma doação. 

Folha do Litoral News: Existe possibilidade de coleta de sangue em domicílio ou de outra forma móvel ou isso não é usual? 

Elizângela: O artefato que a gente precisa para garantir que seja uma coleta segura não é possível, tanto é que dificilmente existem unidades que façam coletas com ônibus, porque a gente precisa garantir toda a segurança tanto para quem está doando, com toda uma equipe preparada, como também para a qualidade daquele sangue que está sendo coletado até que ele possa ao lugar onde ele vai ser processado. 

Com informações do MPPR – MP no Rádio

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