O feminicídio ocorrido no dia 31 de dezembro de 2019, em Matinhos, chocou o litoral do Paraná. A Polícia Civil do Paraná (PCPR), em conjunto com a Polícia Militar do Paraná (PMPR), prendeu o homem, de 65 anos, o qual assumiu o assassinato da namorada, de 66 anos.
A vítima foi até a casa do suspeito, no Balneário Praia Grande, onde tiveram um desentendimento e, em seguida, o homem jogou gasolina na namorada e ateou fogo. A mulher ficou com cerca de 90% do corpo queimado e foi encaminhada para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo as autoridades responsáveis pelo caso, o homem confessou o crime com tranquilidade. A situação foi relatada pelo agressor com frieza, sem demonstrar arrependimento. A mulher estava sentada no sofá, o namorado chegou, pegou o combustível e ateou fogo contra ela. Algumas testemunhas já foram ouvidas e afirmaram que o casal discutia muito, mas nenhuma ocorrência relacionada à violência contra a mulher havia sido registrada na delegacia.
Ele vai responder pelo crime de feminicídio e está à disposição da Justiça. O autor do crime já tinha passagens pela polícia por violência doméstica, o que pode agravar a pena, como explicou a delegada da Polícia Civil de Matinhos, Sâmia Cristina Coser, nesta entrevista. Confira:
Folha do Litoral News: O agressor já tinha histórico de violência doméstica?
Dra. Sâmia: O homem já havia sido preso pela delegacia da mulher em Curitiba, ficou oito dias preso com relação à violência que ele praticou contra a ex-esposa, que hoje já é falecida por morte natural. Por isso, já há um histórico de violência. É interessante que se pense e se questione se houve algum tratamento, se ele foi inserido em algum programa, porque ele saiu de um relacionamento que já era abusivo, foi para outro, com outra mulher, e ele continuou com as mesmas práticas.
Folha do Litoral News: O fato de ser reincidente agrava a situação do agressor?
Dra. Sâmia: Com certeza. Assim como pela forma com que ele praticou esse homicídio, o que certamente também será levado em consideração.
Folha do Litoral News: Como as mulheres podem se proteger?
Dra. Sâmia: Ao primeiro sinal de violência é importante que a mulher se afaste desse agressor. Nada dará mais resultado do que se afastar. Quando começa o relacionamento e percebe que é abusivo, se afasta já no começo, não dê continuidade a isso porque a tendência é que piore. Neste caso, ele já tinha ciúme dela, já havia discussões anteriores e, no momento de raiva, essa sensação de domínio, ele se vê no direito de matá-la. Tanto que ele não demonstra nenhum arrependimento, pelo contrário, ele só tenta justificar, dizendo que ela tinha um amante, como se ela pertencesse a ele e tivesse esse direito. A mulher precisa se afastar do agressor e procurar a delegacia, procure ajuda de um psicólogo, pois muitas mulheres não conseguem se libertar desse relacionamento abusivo e precisam da ajuda de um profissional. Procure um grupo de apoio a mulheres que são vítimas de violência, afaste-se desse companheiro abusivo porque ele pode cometer um feminicídio.
Folha do Litoral News: Qual a dificuldade na aplicação da Lei Maria da Penha?
Dra. Sâmia: Um dos empecilhos para aplicarmos a lei aqui no município (Matinhos) é que, se a mulher sofreu violência física, que deixou marcas, ela precisa fazer o exame no IML (Instituto Médico Legal).