A empresária Thiciana Muller Metzker Souza Ribeiro é advogada, especialista na área de família, mas também atua em outro ramo que tem crescido no Brasil e no mundo. A “Mulher da Mala Vermelha”, como se autodenomina, aplicou uma forma discreta de vender produtos eróticos, especialmente para mulheres. Com a aposta no negócio, a advogada deixou de separar casais, por meio dos divórcios na área jurídica, para juntá-los novamente.
Dados da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico e Sensual (ABEME) apontaram que o mercado de sex toys deve faturar R$ 108 bilhões no mundo até o ano de 2027.
Como surgiu a ideia
A ideia da “mala vermelha” surgiu quando Thiciana morava em Portugal. “De 2003 a 2007 eu morei em Portugal e lá eu conheci, através de um programa de televisão, a Maleta Vermelha, que eram mulheres que faziam vendas de sexshop na casa das pessoas (só para mulheres), para as que não tinham coragem de ir a uma loja física. Eu achei aquela ideia fantástica e pensei: se essa mulher está fazendo todo esse sucesso aqui, imagina lá no Brasil”, lembra Thiciana.
Em 2007, ela voltou para o Brasil e, em Curitiba, comprou um restaurante. “Deu tudo errado e fui à falência. Em 2008, acabei vendendo o restaurante e não sabia o que fazer com o pouco dinheiro que sobrou”, contou a advogada.
Foi quando estava em um salão de beleza fazendo as unhas que a ideia da mala vermelha surgiu novamente. “Escutei uma conversa de uma mulher que estava com a prima no centro de Curitiba, e que a prima a empurrou para dentro de um sexshop e ela quase morreu de vergonha e colocou um saco na cabeça para sair da loja. Mas, disse que no fundo tinha muita curiosidade em conhecer os produtos. Quando ela terminou de falar, eu já disse, então você tem que chamar “A Mulher da Mala Vermelha”, ela vai na tua casa na maior descrição e descontração e ninguém fica sabendo, nem que você viu, nem o que você comprou”, relatou Thiciana.
Depois disso, a empresária montou sua primeira mala com artigos de sexshop com o dinheiro que havia sobrado do restaurante e começou as vendas. “Aos sábados eu passava o dia em salões, marcava encontros na casa de um grupo de amigas de 5 a 10 mulheres e as coisas foram acontecendo. Quando eu entrei para a faculdade de Direito e, por imaturidade minha, o meu trabalho e a faculdade começaram a ficar incompatíveis, então eu larguei a mala vermelha e procurei um estágio na área de Direito”, explicou.
Após a graduação, ela começou a atuar na área da família, lidando com divórcios. “Eu descobri, que o maior motivo de divórcios no Brasil é dinheiro e o segundo é sexo, ou a falta dele. Dinheiro eu não poderia ajudar, mas no sexo sim, com a Mala Vermelha, sim, porque não? Resolvi tentar!”, contou Thiciana.
Reconciliação de casais
Desta forma, quando ela percebia que o casal ainda poderia ficar junto, ela tentava reconciliar com as dicas da mala vermelha. “Quando chegava no meu escritório uma pessoa que queria se divorciar e eu percebia que ainda existia amor, eu tentava reconciliar o casal e, por muitas vezes, eu consegui, dando dicas da mala vermelha. E eu ficava muito mais feliz e em paz com o meu coração quando eu reconciliava o casal, do que quando fazia o divórcio, mesmo sendo remunerada apenas pelo divórcio”, destacou.
Em 2022, ela e o marido se mudaram para Pontal do Paraná e, neste ano, apostaram na venda de produtos da “Mulher da Mala Vermelha” na região. “Decidimos investir no litoral paranaense e, em 2023, eu voltei com tudo com a mala vermelha. Mas, atualmente, eu não trabalho mais sozinha, somos seis revendedoras. Em Curitiba, em Colombo, Paranaguá e Pontal do Paraná”, disse Thiciana sobre o crescimento do negócio.
Vendas
Além da venda dos produtos de forma individual, ela também vende a mala vermelha para revenda ou uso próprio no valor de R$ 500,00 com uma seleção dos 40 produtos mais vendidos. “A maioria das vendas são feitas pelo meu Whatsapp (41) 99993-2409, pelas mensagens eu envio um catálogo de compras on-line, e faço a entrega na casa da pessoa. E tem as reuniões e despedidas de solteiras, com muitas brincadeiras e descontração, faço demonstração dos produtos e dou dicas de relacionamento, a importância do casamento e falo da violência contra a mulher”, frisou Thiciana.
Preconceito
Segundo ela, apesar de ser um mercado em crescimento, atuar nele não é fácil. “Encontramos muito preconceito e, infelizmente, tem pessoas que confundem as coisas. Lá atrás, eu não aguentei a pressão e larguei, hoje eu sei bem o que eu sou, do que eu pretendo com isso e tenho o apoio da minha família”, disse.
Para ela, o mais difícil é quebrar esse pensamento das pessoas sobre os produtos eróticos. “Quando se fala em sexshop, as pessoas automaticamente pensam em máscaras, chicotes, vibradores e promiscuidade. A mala vermelha é muito mais do que isso, é amor, carinho, compreensão e cuidado pessoal, autoestima e, principalmente, cuidado com quem a gente ama”, enfatizou Thiciana.
A “Mulher da Mala Vermelha” espera que seu negócio seja ampliado no futuro, com muitas revendedoras no Brasil e salvando casamentos.