Desafios não faltaram para a área da educação nos últimos tempos. Com a pandemia, professores tiveram que se reinventar para que os alunos não fossem prejudicados com essa nova forma de ensinar. Das salas de aula eles foram transportados para dentro de casa, isolados em suas telas, diante de todos seus alunos, tiveram que criar métodos de ensino, usar a criatividade e fazer uso da tecnologia como nunca haviam feito.
Neste 15 de outubro, Dia do Professor, a Folha do Litoral News conversou com alguns desses profissionais que enfrentaram a pandemia com coragem e muita determinação para não deixar de lado a sua missão: a de ensinar.
Nesse novo momento, em que o ensino presencial foi retomado, eles têm uma missão ainda maior, a de acolher essas crianças e adolescentes, impactados emocionalmente pelo isolamento social e distanciamento escolar.
Superação
A professora Claudia Dayana Laurindo Costa atua na Escola Municipal João Rocha dos Santos, em Paranaguá, e na Escola Municipal Pastor Elias Abrahão, em Matinhos. Há 15 anos na profissão, ela nunca tinha imaginado ter que se afastar dos alunos desta forma.
“Inicialmente, foi muito difícil adaptar o ambiente, o material didático, os horários, conciliar o cargo de professora com a vida de mãe de três filhos, que também estavam no ensino remoto. Dar aulas, atender os alunos em tempo integral, ter minha casa tomada pelo meu trabalho e ainda ser mãe, cozinhar, ajudar nas tarefas da escola, foi muito cansativo, fisicamente e emocionalmente”, relatou Claudia.
Mesmo com todas essas atividades diárias, o maior desafio, segundo ela, foi garantir o acesso e a participação dos alunos nas aulas remotas. “Além das dificuldades reais de muitas famílias em conseguir acessar os conteúdos disponibilizados no modo on-line por questões financeiras, muitas crianças não dispunham da disponibilidade do seu responsável para auxiliar nos estudos. Foi um período bem complicado para todos e, diante de tantas dificuldades e problemas, a escola e a aprendizagem caiu muito na lista de prioridades de muitas famílias”, contou Claudia.
Mesmo assim, a escola nunca parou. “Nós todos, incansavelmente, buscamos garantir para nossos alunos o seu direito à educação. Através das mais diferentes estratégias tentamos envolver as famílias e convencer da importância de não desistir. Porque nós professores somos incansáveis e não deixamos nenhum aluno para atrás”, destacou Claudia.
Muitos aprendizados também foram tirados nesse período. “Mesmo com tantos desafios, ainda foi possível aprender bastante durante a pandemia, descobrimos que não sabemos tudo. Foi até estimulante, buscar estratégias e enfrentar nossos ‘dragões’. Acredito que saímos mais fortalecidos disto tudo, não me refiro é claro a aprendizagem das crianças, que teremos que novamente nos superar para ajudá-las, mas falo enquanto pessoas e profissionais que superaram muitas adversidades em prol da educação”, afirmou Claudia.
Sendo assim, nesta retomada das aulas presenciais, é preciso conseguir inserir estes alunos novamente no ambiente escolar. “Acolhendo integralmente e respeitando o contexto familiar e as vivências e experiências de cada um durante sua ausência presencial na escola em todo este período de pandemia”, observou Claudia.
Novo cenário
O professor na Escola Municipal Naya Castilho, em Paranaguá, Diogo da Cunha do Nascimento, também contou sua experiência na pandemia. “A paralisação das aulas presenciais foi um choque para todo mundo. Foi um momento bem difícil, pois foi necessária a adaptação de toda uma forma de trabalho presencial para uma oferta de ensino remoto em curto período de tempo. Nossas casas se tornaram estúdios de gravação e, grupos de whatsapp, nossas salas de aula”, disse Diogo.
Ele conta que, com o tempo, se adaptaram com o uso da tecnologia com chamadas de vídeo, atividades interativas e jogos educacionais digitais. “O distanciamento social foi a maior dificuldade nesse período, pois nem todos os alunos tinham acesso às aulas via internet. Para esses, atividades impressas eram a alternativa possível no momento”, lembrou Diogo.
Com a retomada das aulas presenciais, o professor observou um novo cenário, onde o distanciamento ainda é necessário, que protocolos de segurança devem ser seguidos, mas também se deparou com a dificuldade dos alunos. “Infelizmente, muitos não conseguiram acompanhar as aulas remotas. Acima de tudo, vemos também a alegria de reencontrar nossos alunos, o brilho nos olhos deles ao nos verem. O barulho de alunos aprendendo na escola. O afeto e carinho nesse reencontro, mesmo que ainda meio afastados, isso é o que nos motiva a recuperar o que não se alcançou de forma remota”, frisou o professor.
O que fica, segundo ele, é a valorização da vida. Já que muitos colegas de profissão perderam a batalha para a Covid-19 e não puderam se reencontrar com seus alunos nas escolas. “Muitos perderam familiares e carregarão essas marcas por toda a vida. Vimos, mais do que nunca, que a relação família e escola é o que torna a educação possível e de qualidade. Vimos que, com todas as dificuldades e adaptações necessárias, resiliência é uma das palavras que faz parte da definição do que é ser professor”, finalizou Diogo.
Educação nas comunidades isoladas
A professora na Escola do Campo na colônia de pescadores de Amparo, Luciane Godoy Bonafini, disse que durante todo esse tempo de distanciamento, os professores tiveram que ter uma dedicação ainda maior. “Além de sermos mães, esposas, donas de casa, ainda tivemos que nos dedicar de casa aos nossos queridos alunos, pois não poderíamos deixá-los sem aula e foi preciso atendê-los de forma remota. No meu caso, na escola de campo, é uma realidade bem diferente dos demais professores da zona urbana”, relatou Luciane.
Os estudantes das comunidades isoladas encontraram mais uma dificuldade, o acesso limitado a internet. “As famílias usam dados móveis, dificultando o acesso aos vídeos e áudios das aulas, e outras famílias não tinham nem sequer o celular para mantermos contato, para esses alunos foi preciso oferecer atividades impressas e atender as famílias a cada quinze dias. Os pais pouco instruídos também sentiram dificuldades em ensinar ou rever novos conteúdos, dificultando assim o avanço nas aprendizagens. Foi preciso planejar as aulas de diversas formas para que fosse possível atingir a todos, muitas vezes me senti frustrada e não via a hora de retornarmos a nossa rotina escolar”, lembra Luciane.
Para ela, foi um momento desgastante e que a fez pensar mais no outro, nos problemas das famílias, nas perdas e na ausência dos direitos de aprendizagem. “Não por nossa culpa, mas por ser a única opção do momento. Não foi fácil, mas não foi impossível, fomos todos nos adaptando, conseguindo atingir uma certa parcela dos alunos, mas nada se compara a aula presencial, que é dinâmica e que para o ensino fundamental nas séries iniciais da alfabetização é a única que dá certo”, analisou Luciane.
Na retomada, ela conta que os estudantes sabem que precisam se esforçar para rever os conteúdos. “A melhor forma é dedicação e esforço de todos, pois juntos vamos conseguir superar os desafios que atualmente são: pegar o ritmo escolar, superar a insegurança, a desatenção, às dificuldades de aprendizagem, a falta de tempo hábil, o cansaço, o medo da contaminação, coisas que ainda estão muito presentes. Para o professor os desafios estão aí para serem superados, sempre”, salientou Luciane.
Para Luciane, as dificuldades superadas na pandemia mostraram o valor do professor. “A vida é muito importante, o ser humano é muito vulnerável, devemos cuidar uns dos outros sempre, nos colocar no lugar das pessoas, pois cada pessoa é um ser único, daqui para a frente juntos conseguiremos sim reaver o tempo perdido com todo nosso esforço e dedicação e acredito que tudo isso ainda serviu para que a nossa profissão fosse mais bem reconhecida e valorizada”, frisou Luciane.