A mulher que protege nossas famílias, nosso patrimônio, nossas vidas, sem hora e nem certeza de que vai voltar para sua casa, acumulando papel de mãe, esposa e profissional seria mesmo o sexo frágil? Na Polícia Militar do Paraná há mais de 40 anos, as mulheres militares estaduais lutam lado a lado com os homens da sua categoria, e ocupam postos e graduações de soldado a coronel, nas mais diversas regiões do estado. Hoje elas compõem quadros operacionais, na área da saúde, em batalhões de área, unidades especializadas e serviço administrativo.
Veridiane Santos de Souza Erzinger é policial militar em Paranaguá e concedeu uma entrevista exclusiva para a Folha do Litoral News. Ela ingressou na Polícia Militar do Paraná (PMPR) em fevereiro de 2016, trabalhou em alguns setores da corporação, como Sala de Operações, no despacho de ocorrência; Trânsito; e predominante na Rádio Patrulha Auto (RPA) que atua até hoje.
“Quando desejei prestar o concurso, minha vida estava indo para um caminho bem diferente, na época estava realizando o curso de Artes da UFPR, me preparando para ser professora. E num belo dia, como destino, uma moto passou na minha frente anunciando cursinhos para o concurso da polícia e, nesse momento, meu coração disparou e uma certa ansiedade gerou a respeito. Fui me informar, mas no coração, com uma certeza que eu passaria e ingressaria nas fileiras da PMPR. O desejo e a vontade vieram, numa bela tarde, nunca pensei a respeito e nunca havia chegado até mim informação de concursos anteriores. Me dediquei a estudar um mês e estudei sozinha em casa, com uma apostila comprada, no mesmo dia que vi a moto passar. E deu super certo”, contou a policial Erzinger.
Além das funções de policial militar, a soldado Erzinger se destaca em atividades consideradas masculinas devido à exigência de grande esforço físico, no serviço operacional (nas ruas).
A oficial da PMPR, que atua em Paranaguá, destacou o preparo e a confiança em desempenhar sua função nas diversas ocorrências do dia a dia. “É um universo predominante masculino, que também tem uma natureza de ofício com características masculinas, porém me sinto muito bem desempenhando meu papel como policial militar e me sinto confiante para exercer a tarefa. Hoje trabalho na Rádio Patrulha, no atendimento diário das ocorrências”, contou.
Além da parte profissional, na Polícia Militar, a soldado Erzinger também é praticante de artes marciais e, ainda participa de campeonatos. Inicialmente a modalidade esportiva era realizada para preparação de ingresso na PMPR, mas hoje se tornou uma paixão e é um desafio que exige disciplina, foco e determinação para desempenhar diversas tarefas. “Logo após estar aprovada em todas as etapas do concurso, vi a necessidade de me dedicar a uma arte marcial, e em janeiro de 2014 entrei na academia OCSJJ e comecei a prática do Jiu-jitsu, para me preparar no ingresso da Polícia Militar. No início gostei muito da arte, e desde o princípio comecei a participar de alguns campeonatos, logrando êxito na maioria deles.
Neste período de treinos e preparação para o início da atuação na Polícia Militar, Veridiane Santos de Souza Erzinger se tornou mãe. “Em 2018 dei uma pausa nos treinamentos devido ter ficado grávida, porém fui retornando aos poucos aos treinos e aprendendo a conciliar as três tarefas, a de ser mãe, policial e atleta. Em 2022 foi um ano que efetivamente consegui retornar aos campeonatos, e no final do ano realizei um sonho de me tornar faixa preta de Jiu-Jitsu”, relatou a soldado.
Neste ano, Erzinger tem se dedicado aos treinamentos da arte marcial, pois participará de alguns campeonatos, como o Curitiba Open/IBJJF, em 11 e 12 de março, no Ginásio Tarumã. E na sequência participará também do Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu/CBJJ, de 29 de abril a 7 de maio, no Ginásio Poliesportivo José Correa, em Barueri/SP. “Tenho estas duas competições que estarei fazendo o possível para estar participando, pois tem implicações com gastos de inscrições, deslocamento, estadias e alimentação”, pontuou.
Durante todo o período de atuação na PMPR, desde o seu ingresso até o presente momento, a policial Erzinger viveu alguns momentos que marcaram sua carreira. “Poderia falar que foi em uma situação de ter que efetivamente conter alguém, porém uma ocorrência de apoio ao Conselho Tutelar, foi a que mais me marcou. Foi ter que ter a ação de entrar em uma casa com condições bem precárias, com pais usuários de entorpecentes, e retirar um bebê de 4 meses da casa com condição de maus cuidados. Nesse momento me contive e a vontade de chorar foi grande”, descreveu a soldado, que ficou emocionada ao relembrar o fato.
Realizando múltiplas tarefas no dia a dia, a policial contou como faz para conciliar todas essas atividades como policial, atleta e mãe. “Assim como tenho minha escala de serviço, faço uma escala semanalmente, já estipulando os horários dos treinos, para conseguir desempenhar todas minhas tarefas. Meu marido também me ajuda muito nos afazeres”, disse.
Além de Veridiane Santos de Souza Erzinger, diversas mulheres fazem parte do quadro da PMPR e outras que ainda sonham em atuar na função. “Corram atrás dos seus objetivos, que se dediquem e que se preparem externamente para esta tarefa. E que este lugar é sim lugar de mulher”, finalizou.