O Centro de Letras de Paranaguá traz um relato de parte da história da Revolução Federalista, uma guerra civil ocorrida anos depois da Proclamação da República, a qual teve episódios marcantes em solo parnanguara, como o ocorrido no dia 14 de janeiro de 1894, há 124 anos, quando da chegada de navios para a invasão, por mar, do Estado do Paraná.
Os registros históricos dão conta de que houve um bombardeio na cidade, o qual durou várias horas de arrasador fogo de artilharia e, embora o objetivo militar fosse a orla marítima, algumas balas da artilharia pesada dos navios de guerra atingiram o centro urbano, causando consideráveis danos na sede do Club Litterário, localizado nessa ocasião no sobrado da Rua XV de Novembro.
Foto: Onde hoje é a Estação Ferroviária, houve um sangrento confronto com mais de 150 mortes
CHEGADA DOS NAVIOS
Depois de vencer a resistência na fortaleza da barra, após bombardeio de uma hora, surgem diante de Paranaguá o cruzador “República” e os navios armados “Esperança, Pallas e Urano”. O Íris chegou depois. A população civil, apavorada, abandona às pressas a cidade, deixando bens e haveres, para refugiarem-se nos sítios e chácaras da região do Embocuí e colônias, bem longe do teatro da guerra.
O REBOCADOR ADOLPHO DE BARROS
O Adolpho de Barros era um rebocador usado pela Armada nas ocasiões de desembarque de tropas para agilizar o ataque. Os escaleres naquela época ainda não eram motorizados. Funcionavam a remo e, isso, era razão de lentidão nos desembarques. Costa Mendes, o comandante responsável pelo plano de invasão de Paranaguá, era parnanguara e, por isso, conhecedor de nossa geografia.
O ROCIO
Segundo os livros de história que fazem alusão aos fatos da época, um canhão foi postado sobre a ponte que existia em frente à Igreja do Rocio, para dificultar o desembarque das tropas invasoras em Paranaguá. O navio República lançou tiros de canhão sobre a ponte do Rocio e, assim, furou as paredes da Igreja. O historiador Rocha Pombo, quando de sua visita ao Rocio em 1896, descreveu a triste situação em que ficou a Igreja: “toda destruída”. Dos restos de materiais da Igreja foi construída a torre da Igreja de São Benedito.
MORTES NO PORTÃO DA ESTRADA DE FERRO
A invasão pela Estrada de Ferro foi a opção mais sangrenta para as tropas federais, constituída de jovens parnanguaras, que mal sabiam usar uma espingarda pica-pau e tiveram de enfrentar os guerreiros da Armada, que já tinham experiência da Guerra do Paraguai. Segundo o livro do Custódio de Melo, foram mais ou menos 150 soldados mortos em frente ao portão da Estrada de Ferro.
O RIO ITIBERÊ
As tropas entraram no centro da cidade através do Rio Itiberê. No dia 15 de janeiro de 1894, os escaleres com tropas foram desembarcados e amarrados, em linha, no rebocador Adolpho de Barros. Ele tinha duas metralhadoras Nordfeldt, com as quais varria as margens onde estavam as tropas federais. Em frente ao Palácio Visconde de Nácar, estavam postados canhões sobre rodas, também, Nordfeldt. Quando o rebocador atingiu o local onde fica a atual Capitania dos Portos, ele foi atingido e afundou.
Os soldados desembarcaram no trapiche em frente ao Museu de Arqueologia e subiram a ladeira do Mercado e sitiaram a Cadeia de Paranaguá, onde conseguiram a rendição na madrugada de 16 de janeiro de 1894.
Há 124 anos chegavam a Paranaguá navios para a invasão na guerra da revolução federalista
O RIO DO CHUMBO
Conta o pesquisador Luiz Siqueira que, analisando os arquivos da Mitra Diocesana, foram encontrados relatos de soldados feridos por metralhadora, falecidos e enterrados no cemitério do hospital. “Parece que é até intencional a ação de apagar a história de Paranaguá, pois este cemitério deveria ser preservado. A ação dos republicanos no poder em Paranaguá foi raspar a areia desse cemitério e jogá-la nos brejos da Costeira, ao lado do Rio da Independência, atualmente conhecido como Rio do Chumbo, devido à grande quantidade de projéteis de chumbo entranhada nas margens desse rio, durante a invasão de Paranaguá pela Armada”, disse.
Os pescadores apanhavam o chumbo e usavam em suas linhas de pescar como chumbada. A antiga cadeia onde na madrugada de 16 de janeiro de 1894, os pica-paus estavam mantendo presos 45 cidadãos de nossa cidade e destinados a serem fuzilados, foram obrigados a se render devido à falta de condições para se defender. Os soldados federalistas ficavam apinhados, com suas armas, nas janelas e a fumaça de pólvora em suspensão era tão grande que não dava para respirar.
O PARNANGUARA HERÓI NACIONAL
Barão do Serro Azul, um parnanguara que foi herói nacional
Na madrugada do dia 20 de maio de 1894, os seis prisioneiros foram retirados da prisão e levados à estação ferroviária de Curitiba, sob o pretexto de embarcarem no cais de Paranaguá em um navio da Marinha com destino ao Rio de Janeiro, onde seriam julgados.
O comboio parou no km 65 da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, perto do pico do Diabo da serra do Mar, onde há um alto despenhadeiro.Os presos começaram a ser arrastados para fora do vagão pelo pelotão de escolta. Mato Guedes atirou-se pela janela do trem, mas recebeu uma descarga da fuzilaria e rolou pelo precipício. Balbino de Mendonça, agarrando-se ao vagão, teve os braços quebrados a coronhadas, e foi abatido a tiros de revólver.
O Barão do Serro Azul recebeu um tiro na perna e caiu de joelhos. Propôs então dividir sua fortuna com os oficiais da escolta se fosse poupado, porém tombou com uma bala na testa (alguns historiadores falam na nuca). O comboio seguiu viagem, abandonando os corpos no local.
Durante mais de 40 anos, o Barão de Serro Azul foi considerado traidor. Os seus atos foram banidos da história oficial do Estado do Paraná, documentos foram arrancados, referências apagadas, e qualquer discussão sobre a execução sumária dele e seus companheiros era evitada. A sua magnífica mansão em Curitiba foi transformada em quartel do Exército, tendo a baronesa e os seus filhos que morar em um anexo.
Sua vida começou a ser investigada nas décadas de 1940 e 1950 quando ocorreu o resgate de sua memória. Em 1942, foi publicada a biografia “O Barão de Serro Azul” escrita por Leôncio Correia. O livro “A Última viagem do Barão do Serro Azul” do escritor Túlio Vargas ajudou no resgate histórico e Justiça ao emérito parnanguara.
Baseado nesse livro, o cineasta Maurício Appel produziu o filme “O Preço da Paz” em 2003, com direção de Paulo Morelli e roteiro de Walther Negrão. No elenco, Herson Capri, no papel do barão do Serro Azul, e Lima Duarte no papel do general Gumercindo Saraiva.