Na quinta-feira, 8, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu um alerta de que casos de reinfecção podem trazer sintomas mais fortes da Covid-19. A análise possui base em um artigo que será publicado em maio na revista Emerging Infectious Desease (EID), dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC/EUA), onde se mostra que uma primeira exposição ao Coronavírus, em casos brandos ou assintomáticos,pode não produzir resposta imunológica e que a pessoa pode se reinfectar, inclusive, com a mesma variante. Com isso, a segunda infecção poderia trazer uma sintomatologia ainda mais forte do que na primeira infecção.
Segundo a Fiocruz, “os dados mostram que para a parcela da população que tem a doença na forma branda (em que não é necessária a hospitalização) isso não significa que fique imune ou que uma reinfecção evolua de forma benigna. O estudo indica ainda que a reinfecção pode ser mais frequente do que se supõe”, salienta. “O caso de ser infectado pela mesma variante acontece porque o paciente não teria criado uma memória imunológica. No caso de uma outra cepa, ela escaparia da vigilância, não seria reconhecida pela memória gerada anteriormente por ser um pouco diferente”, completa.
A instituição explica que as conclusões foram obtidas após pesquisadores acompanharem semanalmente um grupo de 30 pessoas de março de 2020, no início da pandemia, até o fim do ano. “Destas, quatro contraíram o Sars-CoV-2, sendo que algumas foram infectadas pela mesma variante. Os pesquisadores, então, sequenciaram o genoma do vírus no caso da primeira infecção e depois na segunda para poder compará-los”, informa.
“O método de sequenciamento genético desenvolvido pela MGI permitiu detectar o vírus mesmo em amostras com baixa carga viral. Hoje, Bio-Manguinhos [Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fiocruz] tem algumas dessas máquinas”, explica Thiago Moreno, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), coordenador do artigo “Evidência genética e resposta imunológica do hospedeiro em pessoas reinfectadas com Sars-CoV-2”.
Segundo Moreno, nos quatro casos detectados de reinfecção, a infecção se deu com sintomas leves, já na segunda a sintomatologia foi mais forte e frequente, porém sem necessidade de hospitalização. “Essas pessoas só tiveram de fato a imunidade detectável depois da segunda infecção. Isso leva a crer que para uma parte da população que teve a doença de forma branda não basta uma exposição ao vírus, e sim mais de uma, para ter um grau de imunidade”, conta Moreno. “Isso permite que uma parcela da população que já foi exposta sustente uma nova epidemia”, completa.
Terceira infecção
Segundo o pesquisador, ele não acha impossível ocorrer uma terceira infecção pela Covid-19. “A gente não sabe quanto tempo dura a imunidade pós-Covid. Uma pessoa poderia ficar vulnerável a uma nova reinfecção ou mesmo a contrair uma variante diferente”, detalha.
De acordo com ele, o novo estudo feito pela Fiocruz poderá dar sequência a ainda mais pesquisas, como, por exemplo, saber se uma pessoa tem uma predisposição a contrair a Covid-19. “Mas, para isso, seria necessário um grande estudo, com uma grande parte da população, a fim de investigar uma base genética para essa predisposição entre as pessoas que não geraram uma resposta ao vírus”, finaliza Moreno.
Com informações da Fiocruz
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