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Coronavírus

Paranaenses relatam como tem sido o período de isolamento na França, China e Itália

Rotina de trabalho, casa e família foi alterada para prevenir avanço da doença

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Os hábitos de vida mudaram drasticamente em todo o mundo nos últimos dias. A pandemia declarada de Coronavírus afetou todas as esferas da sociedade e tem obrigado a população a ficar isolada dentro de suas casas para evitar que a doença avance ainda mais. A Folha do Litoral News ouviu o relato de três paranaenses, uma delas parnanguara, que residem em outros países para contar o que mudou após os transtornos causados pela Covid-19.

“Por favor, precisamos fazer com que as pessoas fiquem em casa. Muita gente não tem levado a sério tudo isso aí no Brasil”, pediu Flávia Filipowski, que mora em Teggiano, na Itália

Movimento “Eu fico em casa”

Flávia Filipowski nasceu em Ponta Grossa, mas se mudou para Paranaguá aos 11 anos de idade e reside há três anos em Teggiano, província de Salerno, no Sul da Itália. “Minha família toda ainda mora em Paranaguá”, contou Flávia. Ela trabalha com passeios turísticos, registrando tudo em seu Instagram “@descobrindonapoli” e, por trabalhar nesta área, sua rotina mudou completamente já que parques, museus e passeios de trem tiveram as atividades suspensas.

“No dia 9 de março, o presidente do conselho dos ministros, Giuseppe Conte, fez um decreto fechando todos os museus da Itália e, no dia 10 ele decretou quarentena. Desde então estou em casa, ninguém é proibido de sair, mas para isso precisamos de um motivo válido como ir ao supermercado, farmácia ou trabalhar”, afirmou Flávia.

Segundo ela, para as pessoas que apresentarem algum sintoma, a recomendação do governo é para não ir aos hospitais. “A pessoa liga para um número específico e uma equipe vai até a casa fazer um exame. Acredito que não me senti insegura em nenhum momento. Todos os decretos do governo foram feitos para a contenção do vírus”, comentou Flávia. Ela disse que nenhuma pessoa próxima do seu convívio ficou doente, embora em Teggiano já existam casos confirmados.

Na Itália, somente uma pessoa da família pode ir ao supermercado. “Existem filas do lado de fora, onde cada pessoa deve estar a um metro de distância da outra. A fila existe porque limitaram o número de pessoas que podem entrar. Mas não tem produtos faltando”, observou.“Sair do País em um momento assim não seria correto. Nem para mim nem para as outras pessoas”, completou Flávia.

O presidente do conselho dos ministros criou um movimento chamado #iorestoacasa (eu fico em casa). “Até o momento só saí de casa uma vez para ir ao mercado. Por favor, precisamos fazer com que as pessoas fiquem em casa. Muita gente não tem levado a sério tudo isso aí no Brasil”, pediu Flávia.

O decreto de quarentena na Itália dura até o dia 3 de abril. A Itália se tornou o País a registrar o maior número de mortes e segundo do mundo mais afetado pela Covid-19.

“Vi o esforço de cada um para poder ajudar, uma vontade enorme de vencer o vírus e poder voltar à vida normal”, contou Esther Mattar, natural de Paranaguá e moradora em Zhuhai, na China

60 dias de quarentena

A promotora de eventos, Esther Mattar, natural de Paranaguá e moradora há dois anos na cidade de Zhuhai, na China, completou 60 dias de quarentena em função do Coronavírus. “Meu marido é coach em escolinha de futebol em Zhuhai e joga futebol em Macau. Para a gente foi bem difícil todo esse tempo de quarentena, não recebemos o salário integral, mas o governo não cobrou luz, água e gás. No começo foi muito difícil, fiquei muito assustada, tive vontade de ir embora, a cada dia os casos iam triplicando e eu chorava com medo”, disse Esther.

O governo chinês decretou quarentena no dia 20 de janeiro e logo no dia seguinte a cidade já estava deserta. “Parecia uma cidade fantasma, pouquíssimas pessoas na rua, pensei que isso realmente era muito mais sério do que pensamos. Os mercados nos três primeiros dias ficaram bem vazios, mas o governo sempre mandava mensagens falando que não havia necessidade de estocar comida, nem água. Depois do 3.º e 4.º dia tudo foi reabastecido e nunca faltou nada”, contou Esther.

Segundo ela, a família levará um grande aprendizado de toda essa mudança que afetou o mundo. “As professoras da minha filha nos ajudaram muito, mandavam todos os dias mensagens dando dicas de como nos cuidar e de respeitar o tempo imposto e se proteger. Com os dias fui me acalmando, pois eu vi o esforço de cada um para poder ajudar, uma vontade enorme de vencer o vírus e poder voltar à vida normal. Levo essa lição para o resto da vida”, destacou Esther sobre sua experiência nos últimos meses.

“É difícil a gente se cuidar de algo invisível, que não sabemos onde está, mas agora é ficar em casa e evitar qualquer contato”, observou Mariana Oliveira de Souza, moradora em Tourcoing, na França

Perigo invisível

Mariana Oliveira de Souza mora há seis anos em Tourcoing, no norte da França, e trabalha na central de atendimento ao cliente da “Booking.com”, com reserva de hotéis. Ela se deparou com a pandemia do Coronavírus em um momento bem delicado, aos oito meses e meio de gestação. Natural de Curitiba e com familiares em Paranaguá, ela contou como tem sido a sua rotina na França.

“Estou grávida, o que me deixa mais preocupada. Mas, honestamente, não tive vontade de sair do País. É difícil a gente se cuidar de algo invisível, que não sabemos onde está, mas agora é ficar em casa e evitar qualquer contato. O governo está dando toda a assistência, ninguém ficará sem salário, sem emprego, as pequenas empresas estão recebendo ajuda, assim como as pessoas que não têm condições”, pontuou Mariana.

As pessoas começaram a se preocupar a partir do primeiro discurso do presidente de fechar as escolas. “Quando chegaram os primeiros casos na França que começamos a ficar realmente com medo. O pessoal ficou mais esperto, as empresas começaram a mandar os funcionários trabalharem de casa. Alguns supermercados estão fazendo hora especial para atender pessoas que estão no grupo de risco, bem cedo, por exemplo. Nos locais que são muito pequenos entra uma ou duas pessoas por vez”, comentou Mariana.

Hoje, ela está trabalhando em casa, sai somente para consultas médicas em virtude da gravidez e com uma declaração em mãos. “A cada dia que sai é um papel na mão, a polícia para as pessoas na rua, aplicando multa. Até os apresentadores de TV fazem o jornal da casa deles, com fone de ouvido. O encontro com amigos agora é só pela Internet, está tudo muito estranho, mas acreditamos que isso é positivo e esperamos ver o resultado disso daqui uns 10 dias, até lá ficamos nessa agonia”, comentou Mariana.

Segundo ela, algumas boas atitudes também estão sendo observadas. “No meu prédio, por exemplo, no elevador, colocaram um cartaz de pessoas se oferecendo para ajudar. Ao mesmo tempo, vemos coisas revoltantes, como aí no Brasil onde muitos estão desesperados para comprar papel higiênico, macarrão e álcool em gel, que aqui não existe mais há muito tempo. Fico feliz das coisas no Brasil começarem cedo, porque aqui, infelizmente, começou muito tarde. As coisas só estão dessa forma aqui porque as recomendações não foram seguidas pela população antes. Espero que no Brasil as pessoas tenham a consciência que as empresas realmente fechem”, alertou Mariana.

A empresa em que ela trabalha tomou as medidas de prevenção para proteger os funcionários. “Não pensei em sair do País, porque o problema está em todo o mundo. Estou confortável com as medidas que estão sendo tomadas na França pelo governo. A empresa em que trabalho desde o início é bem correta, aplicaram uma política de risco zero, portanto, as pessoas que tivessem contato com outras da Itália tinham que estar em quarentena desde o início, na empresa que trabalho”, concluiu Mariana.

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