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Coronavírus

Pandemia agrava desigualdade social em saúde no Brasil, aponta Fiocruz

Estudo aponta desigualdades entre as diferentes regiões do País

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Foto: Leonardo Oliveira/Fiocruz

Além de causar centenas de milhares de mortes, bem como de internados, nesses mais de dois anos da pandemia da Covid-19 o período de crise sanitária agravou também a desigualdade social na sociedade, não somente no contexto econômico, como também no acesso aos serviços da saúde. Pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontaram que o Coronavírus não somente causou prejuízo financeiro, desemprego, fome, entre outros problemas, como também dificuldade no acesso a leitos, bem como a álcool em gel, máscaras e até mesmo água em comunidades vulnerabilizadas, prejudicando inclusive a prevenção ao vírus e o seu tratamento.

“O desemprego, a fome, bem como as dificuldades de acesso a máscaras, álcool gel e até água atingiram fortemente comunidades vulnerabilizadas”, informa a Fiocruz. Segundo o estudo, uma série de critérios foram adotados para adoção do índice de desigualdade, o que demonstra “os efeitos das desigualdades sociais em saúde na pandemia no Brasil e descobriram que o abismo entre as regiões Norte-Nordeste e Sul-Sudeste se aprofundou neste período”, detalha. O estudo é denominado de “Índice de Desigualdades Sociais para a Covid-19 (IDS-Covid-19)”.

Segundo a assessoria, a situação de desigualdade social em saúde no Brasil preexistia à Covid-19. “Antes da pandemia, 98% dos municípios da Região Norte estavam nos agrupamentos 4 e 5, os dois piores grupos classificados pelo IDS-Covid-19. Na Região Sudeste eram 35% dos municípios e, no Sul, apenas 7%”, explica.

“As desigualdades entre as regiões se aprofundaram, considerando que há uma melhoria dessas desigualdades em alguns municípios, embora não seja grande, enquanto outros permaneceram em situação crítica”, ressalta a epidemiologista Maria Yury Ichihara, coordenadora do projeto que desenvolveu o IDS-Covid-19.

De acordo com a Fiocruz, o IDS-Covid-19 teve um cálculo baseado em dados socioeconômicos, sociodemográficos e de acesso aos serviços de saúde. “Os pesquisadores exploraram bases de dados do Censo Demográfico do IBGE de 2010, bem como do Cadastro Nacional dos Equipamentos de Saúde (CNES) para capturar números de leitos de UTI e respiradores, e do Índice Brasileiro de Privação (IBP), que leva em consideração a renda, educação e condições de domicílio”, acrescenta.

Relação da desigualdade social com atingidos pela pandemia

O estudo ressalta que foram determinadas variáveis “que mais se relacionavam com as desigualdades sociais em saúde na Covid-19 como o percentual de população residente em domicílios com densidade domiciliar maior que dois, percentual de idosos em situação de pobreza, além do percentual de pretos, pardos e indígenas”, completa. 

“A pandemia atingiu as pessoas negras de forma distinta por conta das desigualdades raciais. Era preciso que a gente desse evidência a isso. E o índice tem como função dar uma forma de mensuração das desigualdades”, explica a epidemiologista Emanuelle Góes, pesquisadora associada ao Cidacs, destacando a relação do racismo estrutural como categoria de análise no índice.

Regiões

O Norte, segundo a fundação, após a primeira onda pandêmica, teve apenas 3% dos municípios da região reduzindo condições de desigualdade em saúde. “Em uma comparação com municípios da Região Sul, por exemplo, 8% deles apresentaram redução das desigualdades.  Os dados do índice também mostram que nos quatro momentos medidos mais de 90% dos municípios da Região Norte ficaram na pior classificação quanto ao nível de desigualdades sociais em saúde. Na Região Nordeste, em fevereiro de 2020, quase todos os municípios, 99%, estavam nos dois piores grupos com relação à situação de desigualdades sociais em saúde. No entanto, ao longo da pandemia, a região apresentou uma redução nessa condição com 95% em julho de 2020, 93% em março de 2021 e 92% em janeiro de 2022”, detalha. 

“Uma das características dos municípios da Região Centro-Oeste é a distribuição deles em diferentes níveis de desigualdade, segundo os cálculos do IDS-Covid-19. No entanto, ainda há um maior volume de locais classificados nos dois piores grupos com relação à situação de desigualdades sociais em saúde”, informa a Fiocruz. 

O Sudeste, segundo os dados do IDS-Covid-19, teve a distribuição de municípios quanto à classificação pela situação de desigualdade social em saúde mais concentrada entre os níveis intermediários da região brasileira. “Em Minas Gerais, no início da pandemia, 50% dos municípios foram classificados nos dois últimos grupos, com pior situação de desigualdade, e 33% em uma posição intermediária. Por outro lado, em São Paulo 41% dos municípios estavam nos agrupamentos com menor nível de desigualdade e 11,3% nas duas piores posições. No Rio de Janeiro, dos 92 municípios que compõem o estado, 39 iniciaram a pandemia nas piores situações relativas às desigualdades, segundo o índice, e 28 deles mantiveram o lugar ao longo dos períodos analisados pelos pesquisadores”, detalha o estudo científico.

Segundo a Fiocruz, o Sul do Brasil apresenta uma ligeira redução das desigualdades. “A Região não teve nenhum dos 1.188 municípios classificados (3 deles não foram incluídos na pesquisa) no pior agrupamento antes da pandemia (fevereiro de 2020). Além disso, do último momento analisado (janeiro de 2022) para o período antes da pandemia, 196 municípios reduziram as desigualdades, de acordo com o índice. Por outro lado, entre os 84 municípios que estiveram classificados na lista dos mais desiguais da Região Sul no início da pandemia, 65 permanecem nessa condição”, finaliza a assessoria. 

Com informações da Fiocruz

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