Na quarta-feira, 29, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma das principais instituições científicas do Brasil e do mundo, emitiu comunicado para alertar com relação à desigualdade regional na vacinação contra a Covid-19 em todo o País, bem como com relação à estagnação no número de imunizados, reforçando a importância da vacina, que já reduziu de forma significativa o número de casos graves e mortes em decorrência da doença. As análises científicas constam em Nota Técnica denominada de “A vacinação contra a Covid: histórico, desigualdade de problemas”, que foi elaborada pelo MonitoraCovid-19, do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz).
“A vacinação representou um marco fundamental no combate à Covid-19 no País, diminuindo significativamente o número de óbitos e casos graves. O avanço da imunização permitiu maior flexibilização nas medidas de prevenção e retomada das atividades econômicas. Porém, pouco mais de um ano após o início da campanha de vacinação, a estagnação e a desigualdade de cobertura vacinal vêm se mostrando um risco no combate à doença, permitindo que novas variantes surjam e que a velocidade de contágio da doença aumente consideravelmente”, alerta a Fiocruz.
Segundo a fundação, por meio de dados do MonitoraCovid-19 em parceria com o site Coronavírus Brasil, “83,98 % da população brasileira já foi vacinada com ao menos uma dose e 78,93 % foram imunizados com esquema primário completo (segunda dose)”, detalha. “Ainda sim, dificuldades de avanço na vacinação em todas as faixas etárias persistem, e não só no Brasil, representando um desafio global”, acrescenta.
A estagnação na cobertura vacinal contra o Coronavírus é algo visível em todos os Países, segundo o que informa a plataforma Our World in Data. “Na Coréia do Sul e no Vietnã a estagnação ocorre com 81% da população com esquema primário completo. Uruguai e Argentina apresentam estagnação com cerca de 72% da população vacinada. Brasil, Estados Unidos, Tailândia, Alemanha e França apresentaram estagnação em 62% observado. Já Turquia, México, Indonésia e Índia apresentaram estagnação com percentual de cobertura em torno de 57%”, informa a assessoria.
Desigualdade regional no número de vacinados
A Fiocruz observa desigualdades regionais expressivas na cobertura vacinal contra a Covid-19 no contexto brasileiro, algo que, segundo a entidade, em parte,”pode ser explicado pela falta de ações coordenadas e centralizadas das autoridades desde o início da crise de saúde”, completa. “Durante o ano de 2021, vários gestores de prefeituras tentaram acelerar a vacinação com o objetivo de alcançar o quanto antes a população maior que 18 anos. Essa situação provocou calendários divergentes entre municípios”, ressalta o estudo da Fiocruz.
“Os dados mostram bem a discrepância: a cobertura de primeira dose e esquema primário completo de adultos é menor em municípios do Centro-Oeste e Norte do país, estabilizado em cerca de 50%. Na primeira dose de reforço, São Paulo e Minas Gerais, Piauí, Paraíba, Bahia e os estados do Sul apresentam maior cobertura. A diferença também é observada na cobertura de vacinação das crianças de 12 a 17 anos”, detalha a fundação.
Outro ponto para a Fiocruz é que o início da imunização contra a Covid-19 contou com “uma série de longas negociações para compra e fabricação do imunizante, disputas políticas, processos de regulamentação sanitária e disseminação de desinformação”, detalha. “Isso colaborou inegavelmente para o atraso do início da campanha de imunização no país”, informa a nota.
Importância da vacina no controle da pandemia
“Quando a campanha de vacinação foi iniciada no Brasil, em 17 de janeiro de 2021, a média móvel era de 900 óbitos por dia. Em 23 estados brasileiros, as taxas de ocupação de leitos de pacientes graves eram superiores a 60%. Dezessete meses depois, os efeitos positivos dos imunizantes são visíveis: atualmente, a média móvel de óbitos está em 193”, explica a Fiocruz.
Segundo a Nota Técnica, o avanço no processo de imunização “tem produzido um cenário epidemiológico favorável, porém não se pode afirmar ser o fim da pandemia”, detalha. “Os casos e óbitos estão em números muito menores do que em outros períodos da pandemia, no entanto a vacinação tem enfrentado dificuldades no avanço”, complementa o estudo científico.
O cenário é diferente da época em que a população não tinha acesso às vacinas, visto que atualmente há imunizantes disponíveis, entretanto “os estados continuam enfrentando um grande desafio causado principalmente pela onda de desinformação e pela disseminação de notícias falsas, dificuldades logísticas, falta de campanhas e agora problemas ainda maiores nos registros das doses segundo esquema vacinal”, finaliza a nota.
Com informações da Fiocruz