conecte-se conosco

Coronavírus

Controle da transmissão é essencial para conter surgimento de variantes da Covid-19

“O aparecimento de novas características do vírus leva ao surgimento de novas características da doença”, diz o professor Emanuel Maltempi de Souza (Foto: Marcos Solivan/SUCOM-UFPR)

Publicado

em

Controle da transmissão é essencial para conter surgimento de variantes da Covid-19

UFPR detalha como novas variantes surgem e reforça importância do uso de máscara e vacinação

O controle da transmissão de Covid-19 é essencial não somente para reduzir o número de novos casos e mortes, como também para conter o surgimento de novas variantes do Coronavírus no Brasil e no Paraná: é o que demonstra recente estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) divulgado, no qual se demonstra que o Sars-Cov-2, assim como outros vírus, quando entra em contato com células humanas, passa a se replicar em grande velocidade e originar cópias dos vírus, onde, erros no mecanismo de replicação, podem criar novas mutações, ou seja, variantes. Para que isso seja contido, é essencial a adoção de medidas preventivas para conter o avanço da pandemia, entre elas, principalmente, o uso de máscara e a aceleração do processo de vacinação da população contra a Covid-19. 

“Ao entrar em contato com as células humanas, o vírus da Covid-19 passa a se replicar em grande velocidade e esse processo dá origem a cópias daquele vírus que entrou no organismo originalmente. Erros no mecanismo de replicação podem provocar cópias diferentes das originais, com mutações. Se as mudanças não forem vantajosas, ou seja, não melhorarem a capacidade de ataque do vírus, essas cópias desaparecem. Porém, quando as mudanças aprimoram o vírus, a reprodução passa a acontecer, com prevalência, a partir dessa cópia vantajosa. Assim nascem as variantes virais”, informa a UFPR.

Segundo a universidade, as mudanças acontecem na sequência de bases do genoma do micro-organismo e potencializam o aparecimento de vírus diferentes, algo esclarecido por Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “O aparecimento de erros é inerente ao processo de cópia e é exatamente isso o que acontece quando um vírus se multiplica dentro das nossas células. A cada célula que o vírus infecta, ele é copiado milhares e até milhões de vezes. E ele não infecta uma célula só, mas milhões de células. Ao multiplicar esses milhões de cópias pelos milhões de células, pelos milhões de pessoas infectadas, a chance de haver uma cópia diferente e mais vantajosa aumenta”, explica.

De acordo com ele, quanto mais há circulação do vírus, mais há multiplicação e maior é a possibilidade de surgirem novas cepas. “É uma evolução natural. Quanto mais pessoas infectadas houver, sejam sintomáticas ou assintomáticas, mais chances o vírus tem de se multiplicar e gerar novas variantes”, explica Souza.

Sequenciar e combater o vírus

Segundo a UFPR, as variantes do Coronavírus mais preocupantes são a P.1, identificada no Amazonas; a B.1.1.7, originária do Reino Unido; e a B.1.351, da África do Sul, cepas que estão presentes e predominam no Paraná, bem como em todo o sul do Brasil e outros estados. Essas mutações compartilham algumas modificações idênticas entre si, mas também apresentam várias diferenças. Para que seja possível identificar as alterações, é necessário fazer o sequenciamento genômico. “É a única forma de saber quais são as variantes. Se soubermos qual mudança leva a um determinado comportamento viral, podemos procurar, por outros métodos, a presença ou não dessa mudança”, relata o professor.

Segundo o estudioso, um cenário ideal representaria um programa de sequenciamento genômico em larga escala desde o início da pandemia para identificar as mutações, conforme elas fossem aparecendo. Atualmente, apenas o Reino Unido está fazendo esse monitoramento de forma mais abrangente. “Se essas cepas representarem o perigo que achamos que representa, sem esse monitoramento podemos ter surpresas muito sérias mais para a frente. Elas podem ser mais transmissíveis, como aparentemente são, mais letais, mas, principalmente, podem escapar da imunidade criada pelas vacinas”, informa.

Vacinação

De acordo com a universidade, caso se confirme que as variantes do Sars-CoV-2 são mesmo capazes de escapar da imunidade criada pelas vacinas, as coisas ficarão muito mais difíceis do que já estão. “Precisaríamos produzir uma vacina diferente para cada cepa e o plano de vacinação das pessoas seria mais complicado”, pondera Souza, questionando como isso seria feito: “Funcionaria misturar todas as vacinas em uma só? Deveríamos aplicar as doses normais e um boost com os imunizantes para as cepas? Contra quais cepas vacinar?”, questiona o professor. Segundo ele, essas dúvidas só poderiam ser esclarecidas após novas fases de testes e novos estudos científicos. “Os problemas adicionais trazidos pelas variantes estão acontecendo porque demoramos demais para perceber que eles estavam ocorrendo”, afirma o pesquisador. 

Souza não descarta que novas cepas do Coronavírus possam surgir. “O aparecimento de novas características do vírus leva ao surgimento de novas características da doença. Essas características podem dificultar muito o combate à Covid-19, além de ocasionar esse impacto nas vacinas”, alerta.

Prevenção

A principal forma de conter as novas cepas do vírus é a prevenção, com distanciamento social, uso de máscara, higiene das mãos e ambientes arejados. Segundo ele, a máscara é o principal item de proteção individual e coletiva, sendo essencial para reduzir o número de doentes. “O que precisamos fazer é o que precisávamos ter feito desde o início da pandemia, trabalhar mais para bloquear a transmissão”, relata

“Isso não quer dizer que vamos ficar em um ‘lockdown’ eterno”, avalia o estudioso. Para Souza, é necessário aprender a trabalhar e a conviver com menores taxas de contágio, algo que não acontece, porque sempre que há uma abertura do comércio ou um período de festa, as pessoas esquecem todo e qualquer cuidado. “Uma alternativa viável para a prevenção é o controle de mobilidade via aplicativos ou redes de celular. Os programas saberiam perto de quem seu celular está e, ao identificar uma pessoa com Covid-19, aqueles que estiveram próximos a ela seriam avisados e orientados a realizar o teste. Entretanto, essa é uma forma de cercar a doença que esbarra em direitos de liberdade questionados pela população”, explica a assessoria da UFPR.

“Em março do ano passado, a China já fazia isso, mas também países com regimes democráticos como Taiwan, Coreia do Sul, Singapura e Reino Unido. Não à toa esses lugares estão com a pandemia sob controle. Controlar com quem você esteve é uma forma bastante eficiente de controlar o espalhamento da doença”, afirma o bioquímico. Segundo a UFPR, pesquisadores do Reino Unido divulgaram uma avaliação do aplicativo do National Health Service (Serviço Nacional de Saúde), lançado na Inglaterra e no País de Gales no final de setembro de 2020. “Segundo as análises, a equipe estima que a cada 1% de aumento nos usuários do aplicativo, há uma redução de 0,8% a 2,3% no número de infecções”, relata.

Vacina é a melhor chance contra o Coronavírus

A vacinação rápida contra a Covid-19 é um caminho importante para conter o surgimento de novas variantes, pois quanto mais pessoas forem vacinadas, maior é a chance de impedir a circulação do vírus e, consequentemente, a criação de novas cepas que, no futuro, poderiam não ser contempladas pela vacina: “Corta-se o mal pela raiz”, explica. 

O professor também destaca que a vacinação é importante para a retomada econômica. “Se conseguíssemos vacinar todas as pessoas em um período de três a quatro meses, estaríamos poupando centenas de bilhões de dólares e muitas vidas. Há a possibilidade de que a vacina não funcione como achamos que ela deveria funcionar, sendo bastante eficaz na imunização? Sim, porque precisamos ainda avançar em outras fases de testes. Porém, sem dúvida, é a nossa melhor chance”, finaliza Souza.

Com informações da UFPR

Leia também: Paraná recebe novo lote com 258,4 mil doses de vacinas contra a Covid-19

plugins premium WordPress