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Coronavírus

Cientistas esclarecem dúvidas sobre uso de máscaras e quais as mais adequadas

“Nós temos um instrumento acessível a todos e que protege com eficácia similar à da vacina”, ressalta Emanuel Maltempi de Souza, presidente Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus da UFPR (Foto: Getty Images)

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Equipamentos PFF2 e uso de duas máscaras são formas mais seguras de prevenção

O uso de máscara para prevenção à Covid-19 já não é novidade na sociedade, afinal, o equipamento de proteção individual (EPI) é uma das principais formas de enfrentamento à pandemia, entendimento que é uma unanimidade entre o Poder Público e órgãos científicos. Na última semana, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus, divulgou informe esclarecendo dúvidas sobre a eficácia de máscaras de tecido, cirúrgicas e PFF2, bem como reforçando a importância do uso do item, que, junto com a vacina, é a principal aliada para combater o vírus até que toda a população esteja imunizada. 

“Nós temos um instrumento acessível a todos e que protege com eficácia similar à da vacina”, afirma Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus da UFPR, definindo também a importância do uso correto da máscara. Segundo a UFPR, desde março de 2020, no início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e órgãos como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam a utilização de máscaras. “Um ano depois, diversos estudos científicos já comprovaram a eficácia do uso do artefato, associado a outras medidas de proteção, para diminuir os riscos de contágio pelo SARS-CoV-2”, informa a assessoria da universidade.

A importância do uso do equipamento se reforça com a presença de novas variantes mais infecciosas e letais do vírus, que já estão em circulação no Paraná e no litoral. “Com a constatação de que a principal forma de transmissão da doença é feita de pessoa para pessoa – por meio de gotículas expelidas –, as medidas principais de combate à pandemia devem focar no bloqueio da aspiração de aerossóis contaminados. Isso pode ser alcançado por meio do uso correto de boas máscaras e do distanciamento físico”, relata a UFPR.

Tipos de máscara

Três cientistas da UFPR: Cristina de Oliveira Rodrigues, médica com experiência em doenças infecciosas e parasitárias; Emanuel Maltempi de Souza, bioquímico com experiência na área de biologia molecular; e Herbert Winnischofer, químico com ênfase em química inorgânica, química supramolecular e nanotecnologia, esclareceram dúvidas sobre a eficácia das máscaras. Além disso, reforçaram a importância do uso correto para que a proteção contra a Covid-19 seja efetivada. 

As principais orientações para o uso da máscara são os seguintes: higienize as mãos antes de colocar a máscara, antes e depois de retirá-la e depois de tocá-la, a qualquer momento; escolha uma máscara que se encaixe perfeitamente. Este é o ponto principal; certifique-se de que a máscara se ajusta bem ao rosto, cobrindo o nariz, a boca e o queixo; durante a utilização, não toque na máscara. Se precisar ajustar, utilize as laterais ou as alças e higienize as mãos depois; Troque a máscara a cada duas ou três horas ou antes, caso esteja úmida; Ao tirar a máscara, guarde-a em um saco plástico limpo. Se for de tecido, lave-a após o uso. Se for descartável, jogue-a em uma lixeira apropriada e não usar máscaras com válvulas de expiração, pois elas podem contaminar as pessoas em sua volta caso você esteja infectado”, informa.

Máscaras de tecido

O bioquímico Emanuel Souza ressalta que qualquer barreira física que projeta nariz e boca é importante e é por isso que devemos usar máscaras. “Usando esse artefato, impedimos que partículas aspiradas entrem diretamente em contato com o nariz e com a boca e que os aerossóis emitidos por nós, ao respirarmos, contaminem o ambiente. A função é dupla: ficamos menos expostos à contaminação do ambiente e também não o contaminamos”, completa.

Para serem eficazes, as máscaras de tecido ou caseiras devem ter três camadas de tecidos diferentes, sem costura frontal. “Os tecidos utilizados precisam possuir trama densa de fios, não podem ser translúcidos e devem permitir a transpiração”, orienta Winnischofer. Com mais camadas, os aerossóis possuem mais dificuldade de penetração. “De acordo com a literatura científica, máscaras confeccionadas nesse padrão têm uma eficácia que pode chegar a 80%, proteção que é multiplicada quando aliada ao distanciamento físico. Alguns modelos têm uma espécie de bolsinho, um compartimento para inserir mais um elemento filtrante como um papel filtro ou um filtro coador de café. “Esse papel tem uma boa capacidade de filtração, mas não pode umedecer”, informa o bioquímico.

A máscara de pano é recomendada para ambientes sem aglomeração, arejados, com distanciamento físico, bem como devem ser trocadas a cada duas ou três horas, ou no caso de estarem úmidas. Lavagens constantes podem danificar o tecido e a proteção. “Deixar de molho e lavar de forma branda fará com que tenham vida mais longa”, indica Souza.

Tecido antiviral

Sobre máscaras com tecidos antivivirais, ou seja, aqueles que prometem inativar o vírus, os itens podem oferecer uma proteção adicional, entretanto o material não é altamente recomendado. “As características de barreira física para o vírus são as mais importantes e máscaras de tecido antiviral só serão eficientes se garantirem as outras propriedades básicas e se forem usadas de forma correta”, explica Winnischofer. “Se você pretende comprar algo especial, compre uma máscara industrial certificada pelo Inmetro, que tem uma capacidade de filtração conhecida e determinada em normas técnicas”, complementa o bioquímico.

Máscaras de plástico ou material firme

Segundo os cientistas da UFPR, as máscaras de plástico ou com material firme não são seguras, visto a necessidade de proteção contra a transmissão do Coronavírus, onde itens desse tipo servem apenas para bloquear as gotículas de saliva projetadas na direção da área recoberta. “Ela não filtra e deixa passar o ar e os aerossóis livremente pelos espaços abertos ao redor da boca e do nariz”, explica o químico, lembrando ainda que não pode haver espaço entre a pele e a máscara.

Máscaras cirúrgicas

“No início da pandemia, ainda em 2020, a recomendação era que a população em geral utilizasse apenas máscaras de tecido e deixasse as industriais para os profissionais de saúde, pois a produção mundial era insuficiente e havia o risco de que o produto faltasse em hospitais. Atualmente, entende-se que não há mais a falta dessas máscaras e a indústria tem produzido muito mais. Portanto, pessoas que não são profissionais de saúde também podem optar por um desses modelos para uma proteção mais eficaz”, informa a assessoria da UFPR.

Segundo os cientistas, as máscaras cirúrgicas devem seguir referências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e são encontradas facilmente em farmácias. “Em geral, elas possuem duas ou três camadas de diferentes tecidos de polipropileno (TNT), além de um clipe nasal que auxilia o ajuste no rosto. Para que o equipamento fique ainda mais aderido à face, Cristina sugere fazer um nó nas alças de orelha no local em que elas se juntam à borda da máscara”, informa a assessoria, destacando que este tipo de item oferece proteção acima de 90%, algo que aumenta com o distanciamento físico. “Se você tiver oportunidade, use a máscara cirúrgica, pois, de forma geral, ela tem uma performance melhor do que a máscara caseira”, recomenda Souza.

As máscaras cirúrgicas são indicadas para uso em ambientes com distanciamento de um metro e meio, para pessoas com suspeita de Covid-19 ou com sintomas da doença; para cuidadores ou familiares que dividam espaço com casos positivos; e para integrantes do grupo de risco.  “Assim como as de tecido, elas devem ser trocadas a cada duas ou três horas ou antes, se estiverem úmidas. As máscaras cirúrgicas não são reutilizáveis e devem ser descartadas após o uso, pois tendem a perder suas características, ficando frouxas ou muito sujas”, informa a UFPR.

Máscaras PFF2 ou N95

Esses modelos podem ser considerados iguais na prática, possuindo alto poder de vedação, com até 99% de proteção, recomendadas para ambientes com alto risco de contaminação. Os respiradores N95 são chamados dessa forma nos Estados Unidos, enquanto PFF2 é a sigla para Peça Facial Filtrante, utilizada no Brasil. Os modelos possuem camadas internas com filtros de polipropileno fundidos tratadas quimicamente, além de filtro de fibra de celulose/poliéster, com proteção comparável a de vacinas. “Quando as pessoas são contaminadas usando máscaras, normalmente a doença é leve porque o acessório permitiu que apenas uma pequena quantidade de vírus passasse. Isso leva a uma doença menos grave, já que a gravidade da doença está relacionada com a quantidade de vírus que a pessoa recebe ao se contaminar”, informa Souza.

As máscaras PFF2 são altamente recomendadas para ambientes com grande risco de contaminação, bem como para trabalhadores que entram em contato com muitas pessoas durante a atuação. “Nós temos um instrumento que está mais acessível às pessoas do que a vacina e que pode proteger de forma similar. Não há porque não utilizar”, informa o bioquímico.

Segundo os cientistas, as faixa de preço desses produtos varia R$ 5,00 a R$ 12,00, podendo haver modelos mais caros, sendo encontradas facilmente em lojas de materiais de construção ou de equipamentos de proteção individual. “É importante verificar se o produto possui selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e se não há danos em sua estrutura. Dessa forma, a proteção está garantida pela norma técnica”, relata a assessoria.

De acordo com o bioquímico Souza, campanhas de distribuição deste tipo de máscara devem ser feitas para trabalhadores e para pessoas que estão mais expostas ao vírus e ainda não puderam se vacinar e indica a utilização do equipamento em situações de maior chance de contaminação. “Use a máscara de tecido (caseira) nos ambientes com menos risco de contaminação – abertos e arejados – e prefira a PFF2 para lugares fechados e mais arriscados”, aconselha.

Esses itens não devem ter válvulas respiratórias, devendo ser trocadas após duas a três horas de uso, bem como se estiverem úmidos. “Apesar de serem consideradas descartáveis, podem ser reutilizadas neste momento de pandemia desde que esse processo seja feito com segurança”, informa a assessoria. “Após o uso, a orientação é que a PFF2 seja retirada do rosto pelos elásticos e pendurada em um ambiente seco e ventilado. Depois de 72 horas, tempo médio para inativação do vírus, ela pode ser reutilizada se suas características básicas estiverem mantidas: se estiver se adaptando bem ao rosto e se não estiver suja”, informa, não se devendo lavar, borrifar álcool ou submeter esse tipo de respirador ao calor, sendo que máscaras não devem entrar em contato uma com as outras para armazenamento e que recipientes usados para guardar sejam limpos regularmente ou descartados. 

Duas máscaras

De acordo com os cientistas, o uso de duas máscaras é uma forma de garantir mais proteção ao vírus, utilizando um item sobre o outro, aumentando o número de barreiras contra o Coronavírus, visto que, quanto mais barreiras físicas, mais há proteção. “Os cientistas consideram uma boa opção a utilização de uma máscara cirúrgica e, por cima, uma de tecido, que proporciona melhor ajuste ao rosto”, relata a UFPR.

“O objetivo é melhorar o ajuste, pois quanto melhor a máscara se ajusta, mais ela protege. A máscara cirúrgica filtra bem as partículas de vírus, enquanto a máscara de tecido melhora o ajuste. Experimentos do CDC dos Estados Unidos descobriram que a utilização de dupla máscara pode reduzir a exposição a partículas infecciosas em mais de 95% se a pessoa infectada e a pessoa não infectada estiverem utilizando duas máscaras”, afirma Cristina, destacando que os modelos PFF2 não devem ser combinados com outra máscara.

Como saber se minha máscara está me protegendo?

Princípios básicos para utilização de máscara repassados pela UFPR (Arte: UFPR)

A médica Cristina Rodrigues afirma que o ajuste da máscara ao rosto é essencial para que haja proteção contra o Coronavírus de pessoa para pessoa. Um teste é indicado para saber se o item é seguro. “Coloque as mãos em volta das bordas externas na máscara. Se houver fluxo de ar nas áreas próximas aos olhos e nas laterais, significa que ela não está bem ajustada. Se ela tiver um bom ajuste, você sentirá o ar quente passando pela frente da máscara e poderá ver o material se mover para dentro e para fora a cada movimento respiratório”, explica.

A médica afirma que há situações que exigem atenção redobrada para se usar a máscara:  andar de avião, ônibus, trem ou qualquer outra forma de transporte público, especialmente se não houver como manter a distância mínima de um metro e meio das outras pessoas; cuidar de doentes com Covid-19; trabalhar em empregos que exigem interação com um grande número de pessoas; e integrantes do grupo de risco em qualquer circunstância. A utilização do item é fundamental para conter a prevenção da Covid-19, salvando vidas. “É necessário aliar o uso de máscaras a medidas como distanciamento físico, evitar aglomerações, manter ambientes bem ventilados e higienizar bem as mãos”, informa.

Outras orientações importantes envolve não tocar olhos, nariz e boca.  “Você não sabe quando estará perto de uma pessoa contaminada. Usar a máscara corretamente é o maior cuidado que devemos ter, bem como respeitar os ambientes e as pessoas. É uma obrigação moral, ética e legal”, afirma Souza.

Principal forma de contato é de pessoa para pessoa

Segundo os cientistas, está ficando cada vez mais claro que a principal forma de transmissão da Covid-19 é feita de pessoa para pessoa, por meio do ar e partículas aerossóis. “A transmissão por superfície é possível, mas não é tão relevante. Para evitar esse tipo de transmissão, a forma mais eficiente é higienizar as mãos”, afirma o presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus na UFPR.

A indicação principal é de usar máscara e estar atento à transmissão pelo ar. “Lavar embalagens foi importante em um determinado momento para as pessoas se conscientizarem. Mas, atualmente, não é tão essencial. Tirar roupas e sapatos ao chegar em casa também não devem ser as principais preocupações. A viabilidade maior do vírus é em superfícies metálicas. Lavando as mãos após tocar nesses locais já resolve o problema”, afirma Souza.

Muitas coisas ainda estão sendo descobertas sobre o Coronavírus, entretanto uma orientação geral é feita por todos os cientistas: usar a máscara.  “É importante seguir todas as recomendações, porém usar qualquer tipo de máscara corretamente é muito melhor do que não usar nenhuma”, explica o bioquímico. “Qualquer máscara apresenta uma proteção maior contra gotículas dispersas ou projetadas no ar do que nenhuma máscara. Além disso, seu uso evita o contato das mãos – que podem estar contaminadas – com a região da boca e do nariz”, avalia Winnischofer. “Lembre-se: a melhor máscara é aquela que você usa de forma consistente e adequada”, finaliza a médica Cristina.

Com informações da UFPR

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