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Ciência e Saúde

Psicóloga aborda sequelas emocionais em mulheres vítimas de importunação, assédio e abuso

Sintomas envolvem sentimento de culpa, depressão e ansiedade

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Foto: Ilustrativa/Freepik

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao longo da vida, uma em cada três mulheres, cerca de 736 milhões de pessoas, são submetidas à violência física ou sexual por parte de seu parceiro ou violência sexual por parte de um não parceiro. A recomendação é para que as mulheres sempre denunciem os crimes sexuais, mas ainda assim, podem ficar as sequelas emocionais ao longo da vida.

Os casos recentemente divulgados de importunação sexual em uma clínica ginecológica, em Paranaguá, levantam a questão sobre o acolhimento que as vítimas precisam para seguirem sem que o fato possa interferir nas suas vidas. Segundo a psicóloga Adriana Grosse, mulheres que passam por situações de importunação sexual, assédio ou abuso, podem sofrer de estresse pós-traumático.

“Não é uma regra, vai depender do mecanismo de defesa de cada uma. Todos nós temos um mecanismo de sobrevivência que pode ser lutar, fugir ou paralisar diante de um evento inesperado. Algumas mulheres conseguem no momento se defender, falar, dar limites, se posicionar, outras conseguem fugir da situação. Mas, infelizmente, muitas mulheres ficam paralisadas sem conseguir se defender, umas por não acreditar que aquilo é possível e outras por não saberem como lidar e congelam”, explicou Adriana.

Algumas mulheres carregam o sentimento de culpa, por acharem que provocaram o comportamento do assediador. “A culpa nas mulheres, na maioria das vezes, aparece na importunação sexual por não terem conseguido reagir, se defender, muito diferente quando falamos de um abuso sexual sofrido por uma criança, neste caso o adulto manipula a criança, fazendo ela acreditar que ela se insinuou e como a criança não tem recursos internos, algumas vezes pode sim pensar que foi sua culpa”, disse a psicóloga.

Muitas vezes, a denúncia vem anos depois, após o exemplo de outras mulheres que decidem buscar seus direitos. A psicóloga afirmou que é importante as mulheres saberem o momento que acontece a importunação sexual, principalmente quando vem de alguém de confiança ou alguém que exerce um certo poder e estaria ali para ajudar.

“Fica muito confuso acreditar que aquela pessoa que estaria para ajudar, fosse capaz de tal ato. Por isso, muitas naquele momento, levam um tempo para assimilar o que aconteceu, muitas vezes pensando que foi coisa da sua cabeça, mas depois de um tempo, conseguem parar e refletir que ali teve um abuso”, observou Adriana.

Consequências

Alguns sintomas podem aparecer depois do acontecido como ansiedade, pesadelos, lembranças espontâneas ou involuntárias e recorrentes (flashbacks) do evento, a fuga de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo das lembranças.

Além disso, pode haver ainda um distanciamento emocional. “A diminuição do interesse afetivo por pessoas, hiperexcitabilidade: episódio de pânico, irritabilidade, distúrbios do sono, hipervigilância (estado de alerta); sentimentos negativos: impotência e incapacidade de se proteger. Estes são alguns sintomas característicos do estresse pós-traumático. Entre outros que podem aparecer como afetar a sexualidade e diminuir a libido, visto que, este ato afeta a integridade da mulher, também causando a sensação de não poder confiar em mais ninguém”, lembrou Adriana.

Acolher sem julgar

É importante o acolhimento dessas mulheres sem julgamento, pois muitas se calam com medo do que a sociedade irá pensar. “Muitas vezes, as mulheres se fecham e entram em depressão, afetando sua saúde mental e, consequentemente, sua saúde física, adoecendo com o passar do tempo por não ter conseguido se defender ou falar sobre isto. Quanto mais as mulheres se sentirem acolhidas, inclusive nas delegacias, mais elas terão coragem de denunciar tais abusos, sendo ainda hoje muito constrangedor ter que assumir tal violência, considerando que não deixa marca física, mas sim psíquica e na alma”, destacou a psicóloga.

Quando procurar ajuda?

De acordo com Adriana, a ajuda psicológica deve ser procurada nestes casos em que há sintomas de depressão e que as consequências estejam afetando a qualidade de vida dessas mulheres. “A procura do psicólogo neste caso é fundamental, pois é na terapia que vamos ressignificar o que aconteceu, trabalhando os sintomas que podem surgir como: raiva, culpa por não ter conseguido se defender, impotência, medo resultando em crise de pânico ou depressão etc.”, enfatizou a profissional.

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