Ciência e Saúde

Médica destaca a importância de não descuidar no combate à dengue

Vacina pode diminuir dengue grave em quase 93%

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Dra Júlia Valéria Ferreira Cordellini, chefe do Centro Estadual de Epidemiologia da Secretaria de Estado da Saúde, Pediatra e Hebiatria pela Universidade Federal de Alagoas, fez residência médica de Pediatria no Rio de Janeiro e de Hebiatra em São Paulo. Está semanalmente em Paranaguá realizando trabalho em parceria com a 1.ª Regional de Saúde em apoio à vacinação contra a dengue e contribuindo com as ações de combate à doença. Confira a entrevista exclusiva com a médica:

 

Folha do Litoral News: Qual é sua avaliação epidemiológica com relação à dengue em Paranaguá?

Júlia: Acho que não se pode baixar a vigilância epidemiológica em nenhum momento do ano. Em virtude de o clima neste período estar menos quente, tem acontecido muitas vezes, não entre toda a população, mas em se tratando de algumas pessoas ficarem descansadas achando que o vetor, o mosquito Aedes Aegypti, e os criadouros não estão mais por aqui, mas infelizmente eles continuam no ambiente, tanto os criadouros como os mosquitos. Por isso, é preciso que as pessoas entendam que Paranaguá não está fora do risco. A população aqui residente, trabalhadora e que aqui estuda, precisa entender que não está fora do risco. Paranaguá teve uma epidemia como nunca vista, dentre os 61 óbitos que tivemos nesse período de 2015 a 2016, 29 mortes aconteceram aqui, ou seja, Paranaguá respondeu por quase 50% dos óbitos no Paraná. Esse é um dado que a população não pode esquecer.

 

Folha do Litoral News: A vacina vem como ferramenta para minimizar novo risco de epidemia?

Júlia: Esse momento em que está sendo trazida uma ferramenta inovadora, com segurança e eficácia comprovadas, que é a vacina contra a dengue, a população precisa entender o seu papel de não só ter autocuidado, mas o cuidado coletivo, o cuidado solidário com sua comunidade. Ao fazermos esse apelo para que as pessoas com idade entre 9 a 44 anos que ainda não se vacinaram façam isso dentro das próximas semanas, pois essa atitude traz a possibilidade dos cidadãos que aqui moram reescreverem sua história como cuidador e fazer com que Paranaguá seja vista como modelo de inovação e superação frente à infestação do Aedes Aegypti. 

 

Folha do Litoral News: Vemos pelos boletins apresentados com relação à vacina contra a dengue, que a procura de crianças e adolescentes aos postos de vacinação ainda é baixa. O que pode estar ocorrendo?

Júlia: Acho que existem vários fatores. Primeiramente temos que deixar claro que a vacinação no Brasil foi permitida na faixa etária de 9 aos 44 anos, 11 meses e 29 dias. Paranaguá tem a possibilidade de vacinar todas as pessoas dentro dessa faixa etária. Na questão das crianças, quem é responsável o pai e mãe ou seu cuidador, avós, por exemplo. É preciso que esses pais se não estão suficientemente esclarecidos e convencidos, que busquem as unidades de saúde ou venham até a 1.ª Regional de Saúde, leiam o que está sendo publicado para que eles tenham confiança de encaminhar seus filhos para essa vacinação. Quanto aos adolescentes e jovens, precisamos chamá-los. Essa faixa etária sempre foi conhecida pela bandeira da solidariedade, da pro-atividade, de cuidar da sua história, sua saúde, de se atentar para os cuidados solidários. Então, está faltando que o adolescente e o jovem de Paranaguá cumpram esse papel de vanguarda, de capacidade de chamar os outros colegas, reunir a galera seja na balada, na igreja ou comunidade e dizer 'vamos cuidar da gente e vamos cuidar da comunidade'. A potencialidade do vírus que teve em Paranaguá foi muito forte, tivemos aqui mortes de pessoas em todas as faixas etárias. Quem passou pelo sofrimento da morte de um familiar, de um filho, não pode esquecer isso nesse período de calmaria que estamos vivendo porque o Paraná já está tendo novamente casos autóctones de dengue. Já tivemos em Londrina, outras cidades e Paranaguá já começou a ter notificações de pessoas com fortes suspeitas de dengue. Não podemos esquecer que a dengue mata e a grande função dessa vacina é exatamente diminuir casos graves, número de internações e óbitos. Ela traz a possibilidade de diminuir os casos de dengue grave em quase 93%. É importante que toda a população lembre disso.

 

Folha do Litoral News: Fica o espaço para suas considerações finais.

Júlia: O Paraná tem, nesse momento, a possibilidade de reescrever a história da dengue usando mais essa ferramenta com segurança e eficácia comprovadas sem descuidar do combate ao vetor. Em nenhum momento podemos descuidar do combate ao mosquito Aedes Aegypti e eliminação dos criadouros para que não haja mais nenhuma morte de dengue, se possível, não somente em Paranaguá e que não tenhamos mortes evitáveis.

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