Cidadania

Ocupações irregulares ultrapassam a esfera social

Áreas de manguezais são, muitas vezes, a única opção para as famílias

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Paranaguá possui diversos bairros com a presença de mangues e, em muitos casos, nas proximidades desse ecossistema, existem muitas residências irregulares que ocuparam essas áreas. Muitos não têm outra opção de moradia senão esta, pois o mangue, oferece o sustento a muitas famílias por meio da atividade pesqueira.

Várias desocupações já foram realizadas em Paranaguá como, por exemplo, os moradores no Canal da Anhaia, que se mudaram para o bairro Porto Seguro após intervenção da prefeitura. Desta forma, as ocupações próximas aos manguezais ultrapassam a esfera social, de dificuldade de habitação, e abrangem também a questão econômica, já que o mangue é fundamental para tirar o sustento das famílias, e também ambiental.

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP), por meio de sua assessoria de comunicação, reconheceu que a situação é delicada e disse que está olhando com cuidado para a questão, mas depende de um esforço de todos, Poder Público e população.

As desocupações, segundo o IAP, têm surtido efeito e ajudado bastante, porém o ritmo em que as invasões ocorrem é muito mais acelerado. “É preciso que a população tenha consciência e entenda que invadir essas áreas, além de ilegal, é prejudicial para o meio ambiente, para a comunidade e, principalmente, para aqueles que ocupam esses lugares”, informou em nota.

O IAP conta com apoio da comunidade do entorno, a qual faz as denúncias sempre quando há uma nova ocupação irregular, e com a parceria da Polícia Ambiental, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Guarda Municipal. “Como não temos o poder de Polícia, para retirar as pessoas dos locais, lavramos autos de infração (multas administrativas) e encaminhamos cópias ao Ministério Público Estadual para apuração da parte criminal”, disse.

 

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Mangue é considerado um berçário, local de reprodução para inúmeras espécies

 

O trabalho do Instituto também inclui a aproximação com a sociedade para explicar os prejuízos causados pelas invasões. “Não temos como estar em todos os locais o tempo todo, então a parceria com a comunidade é muito importante. É ela que muitas vezes nos informa, através de denúncias, o que está ocorrendo e não só invasões, mas também outros casos de danos ao meio ambiente”, afirmou.

PROBLEMA AMBIENTAL

Além do social e do econômico, a problemática incide sobre os danos ambientais que as ocupações causam ao meio ambiente. Os manguezais são ecossistemas extremamente frágeis, pois são o berçário e local de reprodução para inúmeras espécies da fauna marinha e aquática. “Nessas áreas também ocorre a transformação da matéria orgânica, que na sequência serve de alimentos para outras espécies. Por isso, toda e qualquer intervenção deve ser feita com muito cuidado nesses locais”, explicou o IAP.

SEM ALTERNATIVA

A moradora em uma região de mangue na Vila Guarani, Ilizabete do Carmo Nascimento, reside no local há quatro anos com o marido, a filha e duas netas. Segundo ela, o ideal seria evitar que as pessoas ocupem as áreas. “Falam para a gente que não pode viver aqui, mas não temos outra opção. Depois que a pessoa constrói tudo que vem falar que não está certo. Quando o pessoal começa a construir já tinham que vir cercar. Mas, se quiserem nos tirar daqui vão ter que pagar. Eu gostaria de ficar aqui mesmo, porque podemos pescar e tirar marisco para sobreviver”, disse. Hoje, Ilizabete é aposentada, mas trabalhou como pescadora por 18 anos, atividade que foi passada de geração para geração.

 

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Moradora Ilizabete do Carmo Nascimento reside na Vila Guarani há quatro anos

 

Mesmo em área irregular, Ilizabete se mostra preocupada com o meio ambiente. “Tento deixar tudo sempre bem limpo, tem gente que não tem consciência, porque cidadão consciente cuida do meio ambiente. Limpamos hoje e amanhã já está cheio de sacola no mangue, até de lixo doméstico”, relatou a moradora.

Se houver a proposta de sair do mangue, Ilizabete afirmou que aceita ir para outro bairro, desde que seja indenizada. “Se não me pagar eu não saio, é a única condição. E vão tirar a gente e colocar onde? Em que lugar da cidade? Até procurarmos a casa demora”, declarou a moradora.

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