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Cidadania

Presidente do Conselho de Promoção da Igualdade Racial de Paranaguá faz reflexão sobre a luta da população negra

Gerson Luis Augusto falou sobre o 13 de maio, data da abolição da escravatura e Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo

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Em 13 de maio de 1888 ocorreu a assinatura da lei Áurea no Brasil e a abolição da escravatura. Ao longo dos últimos anos, o movimento negro ressignificou a data como o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo, considerando a abolição como um processo que não garantiu condições mínimas de igualdade à população negra. Sobre o tema, a Folha do Litoral News conversou com o presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Paranaguá, Gerson Luis Augusto.

“Paranaguá tem 37% da população negra. Temos vários grupos que trabalham essa temática da questão racial, os grupos de capoeira, as casas de umbanda e candomblé, os coletivos de estudantes negros, de mulheres negras e de pastores negros, a frente afro do litoral e o conselho municipal que agrega todas essas vertentes e realizamos ações em conjunto. Fazemos um raio-x de como está a população na nossa cidade e propomos ações para o governo para que possam pautar essas questões”, disse Gerson.

Segundo Gerson, Paranaguá tem passado por um momento interessante com relação a busca por igualdade racial. Em março, foi realizado o 1.º Congresso Municipal da Igualdade Racial, além de estar em fase de organização o Campeonato Estadual de Capoeira, previsto para o mês de julho; um evento em comemoração ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana, também em julho; e a 1.ª Feira do Livro de Escritores Negros, programada para novembro. Eventos que propiciam maior conscientização da sociedade. 

Entre as ações do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial em Paranaguá também está o acolhimento de famílias haitianas que residem no município, juntamente com as secretarias de Educação, Ação Social e Saúde.

Reflexão sobre uma história de luta

O dia 13 de maio, de acordo com Gerson, é tido como uma data para reflexão sobre a história de vida da população negra no Brasil. “Foram 363 anos de escravidão, foram cinco gerações de escravos. Foram 4,8 milhões de negros trazidos da África para o Brasil e 630 mil que morreram na travessia. Quando se falou da abolição da escravatura não foi da noite para o dia. O País discutiu por cem anos o processo de abolição, seja pela luta negra, pela resistência e pelo movimento abolicionista. Quando aconteceu, foi na assinatura da princesa Isabel, foi um ato nobre, mas não houve uma discussão pós abolição. Não havia políticas públicas. Na data da abolição havia 700 mil escravos no Brasil, foram sete dias de festa, mas depois que passou a euforia veio a realidade”, afirmou Gerson.

Ele comentou, ainda, o que foi conquistado após 136 anos de abolição.

“Quando houve a abolição da escravatura, não foram feitas políticas públicas, os negros saíram a própria sorte, sem indenização. Há 20 anos que começamos a discutir de forma mais séria essas políticas, que foram as ações afirmativas, que garantiu que onde uma ou mais etnias estivessem representadas o negro também deveria estar; depois veio o sistema de cotas e outros avanços”, comentou Gerson.

Racismo

Para Gerson, apesar de muitas discussões sobre o tema e o acesso facilitado à informação, o Brasil é um País racista e preconceituoso. “Isso quem está falando não sou eu, são os próprios dados que os governos Federal e Estadual apresentam. Hoje, vivemos um genocídio da população negra. No Paraná, somente 30% da população é negra e, em 2021, 70% das mortes violentas ou ocasionadas em supostos confrontos com a polícia são de negros e afrodescendentes. Como esse índice pode ser tão alto? Alguma coisa está errada”, analisou o presidente do Conselho.

Geração mais consciente

Com o debate mais ampliado e os direitos da população negra difundidos, Gerson acredita que a essa geração está mais consciente.

“Hoje, os jovens têm argumentos e exemplos de luta. Eles sabem que racismo é crime e dá problema. O cancelamento nas redes sociais é muito grande, uma empresa quando tem algum problema de racismo, apura o caso e se pronuncia. A nossa juventude negra tem a visão de onde ela quer chegar, mas onde ela pode chegar ainda tem um caminho a ser percorrido”, disse Gerson.

Para ele, não existe atalho que faça o negro chegar aos cargos mais importantes da sociedade que não seja as escolas. “Temos que ter referenciais para se espelhar no melhor. Durante muito tempo o único referencial no Brasil de pessoa bem-sucedida foi o Pelé. E isso tem que mudar, temos que ter referenciais em todas as áreas”, destacou Gerson.

Políticas públicas em Paranaguá

O presidente do Conselho salientou que Paranaguá tem buscado inserir políticas públicas que propõem a igualdade racial através da atenção dada pelas últimas gestões municipais. “Desde a gestão de Carlos Tortato, que abriu para o movimento negro atuar nas escolas; depois tivemos o Mário Roque, que era africano e sensível a essa questão; depois o José Baka Filho que por ser de religião de matrizes africanas deu atenção a causa; seguido do Dr. Edison Kersten que fez avançar muito na questão da saúde da mulher negra; e agora o Marcelo Roque que é afrodescendente e que está aprovando leis importantes”, disse. A Câmara Municipal de Paranaguá não possui vereadores negros, mas, segundo Gerson, há representantes que têm abraçado a causa e contribuindo para a mudança da realidade.

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