Cidadania

A resistência da mulher negra: pedagoga em Antonina realiza ações para conscientizar estudantes

Gracia dos Santos é coordenadora de equipe que estuda as questões étnico-raciais e indígenas

resistência da mulher negra

A professora e pedagoga na Rede Estadual de Ensino, Gracia Regina dos Santos, realiza palestras em escolas de Antonina, Morretes e Paranaguá sobre a valorização do povo negro. Ela sabe a resistência da mulher negra e os desafios que teve que enfrentar para ter o seu lugar no mundo. Hoje, ela pode transmitir seu conhecimento e resistência para mobilizar estudantes.

Gracia é coordenadora da equipe multidisciplinar, que estuda as questões étnico-raciais e indígena, no Colégio Estadual Altahir Gonçalves, em Antonina. Ela também é pós-graduada em Valores Humanos. “Atualmente, estou como Agente Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Racial e Educação Escolar Quilombola”, explicou a pedagoga.

As palestras que realiza são voltadas para os temas da relevância da história do povo negro, sua valorização e cultura na sociedade, para estudantes das séries iniciais até os do Ensino Médio. “Comecei com as palestras em novembro de 2011, no Centro Estadual de Educação Profissional Doutor Brasílio Machado, depois recebi convite de outras escolas aqui de Antonina, Morretes e Paranaguá”, disse Gracia.

Além das palestras, a pedagoga já realizou uma exposição em um espaço cultural em Antonina, com a presença da comunidade local e personalidades e oficinas de amarração de turbante.

Lugar de fala

Como alvo de episódios de racismo na infância, ela sabe a importância que é falar sobre o tema nas escolas.

“Veja a importância pela minha própria vivência, quando era criança ao entrar na sala de aula meus colegas cantavam: ‘negra preta fedorenta, bate a bunda no cimento para ganhar mil e trezentos’. Havia um silêncio permissivo por parte do corpo docente, como se fosse normal, ainda bem que minha família sempre enalteceu minha cor e a minha origem. Meu avô negro foi alfabetizado aos 65 anos e minha avó branca de família de abastada, logo éramos miscigenados e empoderados”, contou Gracia.

Segundo ela, a conscientização passa por “limpar as falas na sociedade” e não aceitar mais o uso de tais expressões. 

“Precisamos entender que não podemos mais associar o preto a coisa ruim, com frases como: ‘a coisa tá preta’, ‘não faça serviço de preto’. Limpar a fala é o primeiro passo. Em segundo lugar, a sociedade aceita o negro no samba e na feijoada. Mas somos muito mais que isso, temos uma história que foi negada, e ainda há o preconceito racial, estrutural que permeia a sociedade”, enalteceu Gracia.

Nas escolas, ela acredita que é preciso exaltar as conquistas e a resistência do povo negro. “Na educação, quando ensinamos sobre a Grécia, Egito, Roma estudamos sua história e seus deuses, porém há uma resistência de contar a história do povo negro, também em sua totalidade, levando em conta sua cultura, religiosidade e suas conquistas”, afirmou Gracia.

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Palestras e ações são voltadas para os temas da relevância da história do povo negro 

Representatividade e resistência da mulher negra

Para a pedagoga, é preciso levar a sério as questões que envolvem o preconceito racial, a resistência da mulher negra e fortalecer as formas de representatividade e das mulheres negras.

“Quem diz que é ‘mimimi’ a questão do preconceito racial não faz ideia do que é ser preta e mulher em uma sociedade em que a mulher não tem representatividade. Desde a infância nos são apresentadas bonecas brancas, loiras com o corpo branco. Felizmente, essa realidade vem mudando a passos de tartaruga, onde vemos que, aos poucos, bonecas negras têm tido um pequeno espaço nas prateleiras. Como nos reconhecer se não nos percebemos? A literatura também vem pedindo passagem, filmes, documentários, aos poucos estamos sendo vistas e cuidadas”, pontuou Gracia.

Ela ainda menciona os números da violência no País, que colocam a mulheres negras no topo do ranking.

“A matemática e a sociedade nos dizem como somos mais violentadas e mortas do que mulheres brancas e como nosso salário é menor, como somos a maioria como mães solo. São dados estatísticos e, quanto a isso, não há como contestar. Além do preconceito racial estrutural que permeia nossa sociedade e é noticiado todos os dias na imprensa e redes sociais”, disse. 

Portanto, o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, se torna uma oportunidade de reflexão e mudança para o progresso da sociedade. “Acho de suma importância esse dia para uma reflexão profunda sobre o negro e sua historicidade”, finalizou Gracia.

A resistência da mulher negra: pedagoga em Antonina realiza ações para conscientizar estudantes

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A resistência da mulher negra: pedagoga em Antonina realiza ações para conscientizar estudantes

Gabriela Perecin

Jornalista graduada pela Fema (Fundação Educacional do Município de Assis/SP), desde 2010. Possui especialização em Comunicação Organizacional pela PUC-PR. Atuou com Assessoria de Comunicação no terceiro setor e em jornal impresso e on-line. Interessada em desenvolver reportagens nas áreas de educação, saúde, meio ambiente, inclusão, turismo e outros. Tem como foco o jornalismo humanizado.