Aumento de preços de alguns produtos ocorre após a manifestação dos caminhoneiros
Encerrada oficialmente na quinta-feira, 31 de maio, a paralisação nacional dos caminhoneiros, que durou cerca de 10 dias, afetou intensamente o abastecimento de supermercados e postos de combustível em Paranaguá e no litoral. Prateleiras vazias e baixa no movimento foram quesitos sentidos na economia local. Apesar de ter surtido efeitos positivos em prol da categoria, em torno de redução do valor do diesel e de atendimento de outras pautas do movimento pelo Governo Federal, o efeito do desabastecimento continua a ser sentido em postos e estabelecimentos de venda de produtos no município.
“O que ocorreu depois da paralisação foi a falta de anidro e etanol. A Petrobrás tinha gasolina, mas não tinha anidro, que é o que mistura em 27% da gasolina. Além disso, está em falta o etanol, que tinha nas usinas, mas não havia caminhão para transporte, pois estavam parados, algo que fazia com que o produto não chegasse até a empresa responsável pelo transporte ferroviário e, consequentemente, não chegava na BR Distribuidora”, afirma Sidnei Mahle, vice-presidente da Regional do Litoral do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniências do Estado do Paraná (Sindicombustíveis Paraná) e proprietário de rede de postos em Paranaguá. “Ainda vai mais uma semana para normalizar o abastecimento de combustíveis em Paranaguá e em todo o Paraná”, completa.
Combustível voltou às bombas dos postos, mas abastecimento só será totalmente normalizado em uma semana
De acordo com Sidnei Mahle, o entendimento do Sindicombustíveis é de baixar os R$ 0,46 centavos no preço do litro do diesel, conforme acordo entre a União e o movimento. “Mas não chegou um desconto de R$ 0,46 nos postos, temos ainda uma diferença de R$ 0,03 centavos que alguém vai ter que pagar a conta. Se não vier da parte da distribuidora, os postos vão ter que arcar com isso”, destaca.
“O prejuízo já foi feito, não há como voltar atrás. A sociedade inteira vai pagar por isso. O movimento dos caminhoneiros baixou os R$ 0,46 centavos que eles queriam, mas o custo desta greve ao País ficou em R$ 75 bilhões. Morreu ave, morreu suíno, tudo isso vai vir no preço dos produtos para pagar. Deu prejuízo aos postos, mas o prejuízo maior ficou para a agricultura”, explica.
POLÍCIA MILITAR E O REABASTECIMENTO
Segundo o vice-presidente, o Sindicombustíveis obteve uma liminar na segunda-feira, 28, na Justiça Federal, de livre acesso dos caminhões de combustíveis para transitar na rodovia com escolta da Polícia Militar. “Quero parabenizar toda a PM pelo excelente serviço prestado por todos os policiais através do 9.º Batalhão da Polícia Militar, sob o comando do tenente-coronel Rui Noé Barroso Torres e através do Capitão Cristiano Stocco Rosa. Subimos e descemos a Serra do Mar escoltados pela PM até o posto em Paranaguá para garantir o abastecimento nas primeiras ações de vinda de combustível aos postos”, explica, destacando a proteção à carga e aos motoristas, conforme ordem judicial, algo realizado por três dias seguidos pela autoridade estadual. “Além disso, deixamos nosso posto de combustível da Avenida Coronel Santa Rita para as forças policiais e órgãos públicos abastecerem nos primeiros dias”, completa.
Sidnei Mahle, vice-presidente do Sindicombustíveis Litoral, destaca que espera que economia seja normalizada após 10 dias de falta de combustível, tensão e prejuízos ao País
“O acordo que o Governo Federal fechou com os caminhoneiros vale até dezembro deste ano. A partir do 1.º de janeiro, teremos uma nova política de preços. Até lá acredito que os caminhoneiros estarão satisfeitos, pois o que eles reivindicaram eles conseguiram”, explica, destacando também que o abastecimento de combustíveis deve ser normalizado em uma semana. “A parte de agricultura irá levar de 40 a 50 dias para normalizar. O Brasil toca a vida normal daqui em diante, então vamos trabalhar”, finaliza.
PERECÍVEIS
O diretor geral de uma rede de supermercados do litoral, Vicente Vilaça, destacou que a paralisação afetou bastante o abastecimento de perecíveis. “Em três a quatro dias estávamos com o estoque zerado, até em vista da própria correria da população”, explica.
“Neste momento, após o fim da greve, já conseguimos repor 90% de perecíveis e hortifrúti já conseguimos a reposição de 100%. O estoque de mercearia aguentou a demanda da paralisação, mas não o pós-greve, principalmente arroz, feijão, commodities. Não faltou nada de material de limpeza, perfumaria e outros produtos”, acrescenta. “Irá mais uma semana para repor tudo, dependendo da logística do fornecedor”, destaca Vilaça.
“Hoje, 22% da participação do lucro total dos supermercados é na venda de açougue, 13% de hortifrúti e 7% da padaria, onde faltaram insumos e gás, algo que totaliza 43% da movimentação do estabelecimento. Foi um baque gigantesco”, comenta o diretor, enfocando também que essa falta ocasiona indiretamente na redução de compra de produtos. “Compromete bastante a venda nos supermercados. Embora, no início da greve, tenha havido correria muito grande nos dois primeiros dias, que foi muito acima, mas fazendo média do que subiu e o que se perdeu houve um prejuízo de 30%.
“Que as coisas sejam normalizadas para todos, desde consumidores e empresas. Muitos produtos o fornecedor está sinalizando aumento. Estamos procurando alternativas, segurando compra, para que este produto volte ao patamar em que estava. É complicado porque estamos falando de commodities como o arroz, feijão, açúcar, trigo, tudo isso traz como consequência alguns ajustes de preços, isso é inevitável”, finaliza Vicente Vilaça.
COMÉRCIO LOCAL AFETADO
“A paralisação dos caminhoneiros também afetou o comércio. Houve uma queda no número de consumidores, mas também não dá para dizer que não tivemos movimento. Muitos lojistas e comerciantes não receberam várias entregas, algo que dificultou as vendas no mercado local e em todo o País, visto que a greve foi nacional”, afirma o diretor da Câmara do Comércio Varejista da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (Aciap), Anwar Hamud.
“O abastecimento e entrega estão voltando à normalidade, porém alguns cuidados precisam ser tomados, por exemplo, na nossa loja estamos pedindo prorrogação de prazo para todas as entregas que estão chegando na paralisação, pois precisamos de um prazo para conseguir trabalhar, vender este produto e pagar este boleto”, explica o diretor da Aciap. Segundo Anwar Hamud, dentro de alguns meses as entregas devem ser normalizadas. “Todas as compras feitas anteriormente à greve serão entregues”, finaliza.
O consumidor Carlos Bispo percebeu preço alto nos produtos dos supermercados e lamentou aumento diário da gasolina mantido pelo Governo Federal
CIDADÃOS SENTIRAM GREVE NO BOLSO
Carlos Bispo, morador no Jardim Araçá, vendedor ambulante, destaca que o abastecimento de produtos nos supermercados está sendo normalizado, algo perceptível nas prateleiras dos estabelecimentos locais. “Apesar disso, o preço está muito alto, tem que baixar mais. Antes da greve, por exemplo, pagava mais barato na batata e na banana. Paguei R$ 0,99 na banana caturra e agora está mais de R$ 2,00”, explica. Segundo ele, as vendas, no setor de cutelaria, caíram durante e após a paralisação. “Não é possível, não podemos mais ficar nesta situação. A gasolina subiu e parece que o aumento é diário, algo que aumenta tudo”, finaliza, destacando que espera que não ocorram novas paralisações no Brasil.