Crônicas

Vila Velha de ontem e de hoje

Escolhia-se o destino. Fretava-se um ônibus, devidamente pago com o dinheiro arrecadado na venda de bolos, rifas, bazares de pechincha, mensalidades.

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1983 – Era comum, nessa época, fazer excursão após a colação de grau. Escolhia-se o destino. Fretava-se um ônibus, devidamente pago com o dinheiro arrecadado na venda de bolos, rifas, bazares de pechincha, mensalidades.

Ganhávamos a alforria depois de alguns anos de estudo. Uma viagem com a turma, longe da patrulha dos pais e perto dos olhos de três ou quatro professores, escalados pela direção do colégio para botar ordem na garotada. Tínhamos entre 13 e 14 anos e havíamos encerrado o período ginasial.

Rumamos para o Parque Estadual de Vila Velha, pertinho de Ponta Grossa – Paraná.

Lá chegando, descemos do ônibus afoitos por aventura. Olhinhos brilhando pelo fascínio da primeira viagem com os amigos.

Recebemos um mapa com as indicações das principais esculturas feitas, pela ação do tempo, nos arenitos. Colocamo-nos a desbravar.

A sensação de liberdade gritava em cada poro. Subíamos e descíamos as pedras. Andávamos no rumo e sem rumo pelos caminhos. Falávamos sem parar. Ríamos de bobagens. Lá pelas tantas, subimos no alto das pedras, dividimos uma Coca-Cola no gargalo, comemos  sanduíches (talvez os melhores de nossas vidas) e algumas bolachas recheadas para coroar o momento tão sublime.

Não há uma única foto que comprove essa viagem. Os registros ficaram arquivados na memória de cada um.

2019 – Somos levados em um ônibus, do próprio parque, até um guia. Ele nos dá uma aula rápida sobre as formações rochosas antes de seguirmos a caminhada. Visitar Vila Velha hoje é um passeio na praça. Pode ir até de chinelo, se você assim preferir. Percorre-se uma trilha calçada com pedras colocadas de forma ordenada. O grupo marcha em ritmo cadenciado numa fila indiana e ninguém ousa botar os pés fora da trilha. Proibido comer durante o trajeto. Permite-se água. Ouvimos conversas alheias, misturam-se as famílias, impossível tirar fotos sem que outras pessoas desconhecidas apareçam. Ninguém toca nos arenitos. Eles são vistos a uma distância reservada. Fizeram um mirante para se apreciar a famosa “Taça”. Na parte dos bosques é possível chegar mais perto das rochas. Elas trazem cicatrizes. Nomes, sobrenomes, datas, corações apaixonados e flechas estão esculpidas como marca de que algumas pessoas passaram por ali. São inúmeras cicatrizes de um tempo em que a informação nos chegava de forma precária ou, na maioria das vezes, nem chegava. Terminado o passeio, aguarde. Outro ônibus o levará de volta ao ponto de início. Como se vê, tudo muito civilizado. Nem de longe lembra o fuzuê da década de 80.

O Parque teve que adotar novas medidas de preservação para que as futuras gerações possam também ver e usufruir essa maravilha da natureza.

Agora, com informação sabemos que os responsáveis estão no caminho certo. Maltratamos demais a natureza, justo ela, que nos brinda com tanta beleza. E viva a rima!

Vila Velha está enquadrada. Há regras, limites, cuidados. Guarda Ambiental em vigília. Melhor infraestrutura para receber turistas. Tudo pensado em prol dos nossos filhos, dos nossos netos, bisnetos e dos que ainda estão por vir. Eles não deixarão nenhuma marca nos arenitos, seus registros por ora, se resumem as inúmeras selfies, o que convenhamos, são bem menos agressivas.

Vila Velha de ontem e de hoje

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Vila Velha de ontem e de hoje

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.