Fui tomar café na casa de uma amiga. Éramos quatro, mas a anfitriã exagerou, fazendo um banquete como se fosse receber umas trinta pessoas. Sobrou muita coisa, claro. Ao final, ela veio com a frase: “Cada uma vai levar um pouco desses salgados, pois não poderei ficar com tudo isso”. E sumiu em direção à cozinha. Logo, apareceu com quatro potes de tupperwares recheados de coxinhas, rissoles e empadinhas.
As outras amigas agradeceram, e tudo certo. Eu também agradeci, mas fiquei incomodada. O motivo: tenho pavor de empréstimos, de ficar com algo que não é meu, nem que seja por um curto período de tempo. O problema todo era o tal “pote”. “Você não tem uma embalagem descartável?”, insisti. “Leva nesse, Kátia, depois você me devolve”.
A primeira providência, ao chegar em casa, foi transferir o conteúdo da embalagem para outro recipiente e lavá-lo com esmero. Às nove horas do dia seguinte, já estava apertando a campainha da casa da minha amiga para fazer a devolução.
Caro, leitor, você deve estar achando um exagero, mas cada qual com suas manias.
Sempre evitei pedir emprestado qualquer objeto ou solicitar determinados favores, mas já fui alvo de inúmeros pedidos: “Uau! Você tem o CD dos Tribalistas, me empresta?”. “Quando você terminar de ler esse livro, pode emprestá-lo?”. “Você pode comprar as entradas que depois eu te pago?”. Em todas essas situações, agi de boa-fé. Coitada de mim!
Nunca mais tive notícias do meu CD, do meu livro e do reembolso do dinheiro.
Tempos atrás, caí em outra arapuca. Mas, dessa vez, foi a gota-d’água. Aquela que faz o copo transbordar e nos ensina, de uma vez por todas, a dizer um sonoro “NÃO” ao pressentir a possibilidade de ser ludibriada.
Não tenho por costume deixar pessoas me aguardando. Se não posso ir a um determinado compromisso, aviso com antecedência. Tenho por hábito visualizar e responder às mensagens, pois acho uma deselegância tremenda quem deixa o interlocutor sem resposta. Também devolvo o troco recebido a mais. Tudo isso, para mim, é algo espontâneo e natural. Ajo dessa forma por entender que esse é um comportamento correto, mas tenho consciência da ilusão de pensar que todos agirão com tamanho comprometimento. O mundo não é homogêneo.
Já fui tachada de boba e de estressada. Mas prefiro me intitular como alguém que cumpre com a palavra dada e com a responsabilidade assumida.
Se acredito na humanidade? Sim. Mas, por precaução, mantenho umas embalagens descartáveis e, agora, distribuo algumas negativas sem o menor sinal de culpa.
Por Kátia Muniz