Sonho todas as noites e, no dia seguinte, lembro pouco do que sonhei. Chega-me, durante o dia, algum “flash”, algum vestígio da história montada enquanto eu dormia. Tudo me parece fora do lugar, enredo sem pé nem cabeça, absurdos de uma mente fértil que não descansa nem em sono profundo.
Num dia desses aconteceu, mas foi diferente, eu lembrava de tudo com clareza de detalhes.
Era um local bonito e bem decorado. Havia um auditório, com cadeiras que ainda faltavam ser ocupadas. As pessoas foram chegando aos poucos. Todas me abraçavam efusivamente, sorriam e pareciam muito felizes de estarem ali.
Eu também estava muito feliz, radiante, eufórica, agitada, ansiosa e emocionada, ou melhor, “extremamente” emocionada. Enfim, movida por um cardápio de emoções.
Usava vestido preto e sandália de salto. Não costumo usar salto. Não me equilibro bem nele. Sorte que, aquela noite, eu não precisei andar, somente levitar.
O auditório foi sendo preenchido: muitos amigos, familiares, imprensa, escritores, líderes culturais e leitores. Capacidade máxima esgotada.
As pessoas carregavam um livro nas mãos e só se referiam a mim adotando o termo “escritora”.
No púlpito, colocado em lugar estratégico, deram início às falas. Discursos curtos, mas carregados de muita emoção. Todos direcionados à minha pessoa. Nessa hora, tive a nítida sensação de que minha alma havia se desprendido de mim, olhava-me de fora. Meu coração estava em êxtase, bombeava descompassado e alegre. Pulava de emoção tal qual uma criança que acaba de ganhar um presente.
Fui chamada para falar. E falei, e chorei, e sorri, e agradeci, e chorei mais ainda. Enquanto isso, fotógrafos registravam o meu excesso emocional para a posteridade. Havia algo mágico que contagiava aquele recinto e aquela noite.
Fui aplaudida de pé.
Depois, sentei à mesa. Diante de mim, uma fila de pessoas. Uma por uma se aproximava, e o livro que traziam nas mãos, automaticamente, saltava para as minhas.
A caneta que eu havia ganhado momentos antes, ali mesmo na recepção, iniciava os trabalhos. Escrevia a dedicatória, assinava e datava.
A noite de 26 de novembro de 2019 celebrou o lançamento do meu primeiro livro: “Gavetas não sabem ler – Crônicas do cotidiano”. Juro, parecia um sonho, mas era realidade.
Por: Kátia Muniz