Crônicas

Maternidade

Carregamos o potencial de gerarmos a vida, mas nem sempre se tem a vocação.

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Quando uma mulher diz que optou por não ser mãe, eu respeito a escolha e não estendo o assunto com questionamentos ou ponderações. Nem todas nasceram para a maternidade. Carregamos o potencial de gerarmos a vida, mas nem sempre se tem a vocação.

Porém, a opção pela “não maternidade” deve ser pensada e repensada para que não haja arrependimentos futuros. Dizer “não” é uma escolha, desde que ela não venha acompanhada de culpa.

Faço parte da imensa maioria que resolveu procriar e se admirar com o balé mensal das transformações no corpo que a natureza é capaz de promover. Gerar foi uma decisão acertada e jamais me provocou um segundo sequer de arrependimento.

Gastei horas em pediatras, tentando fazer o bebê dormir, juntando brinquedos, fazendo sopinhas e alimentando, contando historinhas, ensinando a falar, a desfraldar, esperando que ele se esbaldasse em brinquedos infláveis.

Sou mãe, mas também sou realista. Admito sem nenhuma culpa que a maternidade é linda e é uma pedreira. E nunca gostei da frase: “Ser mãe é padecer no paraíso”. Quem disse isso? Deve ter sido alguma mãe combalida pelas frequentes noites mal-dormidas. Desconsidere esse mantra. Paraíso é outra coisa. As praias de Fernando de Noronha e da Tailândia encaixam-se melhor nos exemplos.

Na sala de parto, nascemos para a maternidade e enterramos quem um dia fomos. Há um nascimento e um luto, no mesmo momento, por mais controverso que isso possa parecer. Nunca mais seremos as mesmas.

A maternidade é uma viagem com passagem só de ida. Não há ex-mães. Uma vez mãe, mãe para toda a vida.

Seguimos na árdua tarefa de educar, sem nenhuma cartilha, nem manual de instrução. Levamos em conta a intuição, os mandamentos do coração e a voz da razão. Vamos orientando os caminhos, cimentando a base, tentando proteger a prole das intempéries da vida, assoprando machucados, explicando sobre as escolhas. É um looping de erros e acertos.

Depois de um tempo, o que nos resta é acompanhar de soslaio se eles assimilaram nossas orientações. Não há muito o que se fazer. A parte árdua do todo é a infância, é a formação do indivíduo. É aí que devemos prestar atenção, e intensificar os bons exemplos. Refletimos hoje resquícios do nosso passado. É só dar uma olhada para trás para entendermos melhor nossos comportamentos.

O que nos espera lá na frente será um olhar voltado para nós mesmas. Deixar a prole seguir sozinha, bater as próprias asas é sinal de que nossa parte foi cumprida, basta agora apreciar o voo deles, com o coração cheio de amor, que é a nossa fonte inesgotável.

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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.