No dia 02/07, estiveram presentes na edição do Conversarte, em Curitiba, Fabrício Carpinejar e Fernanda Young. Eu me animei para ir. Dois escritores que admiro estariam ali, tão próximos a mim. Quando a data foi se aproximando, comecei a inventar desculpas, principalmente por morar em outra cidade e ter que viajar para acompanhar o evento. “Não vou, será em dia de semana”. “A logística será complicada”. “Será um bate e volta cansativo”. Enfim, criei um mar de desculpas para tentar convencer a mim mesma que a decisão seria acertada, enquanto a minha intuição dizia: “Você vai se arrepender se não for”. Se eu me arrependi? Obviamente que sim.
Fernanda Young, escritora, atriz, apresentadora, roteirista e tudo mais, faleceu cinquenta e três dias após esse evento. Quando eu fiquei sabendo da sua precoce partida, aos 49 anos de idade, passei o dia reflexiva. Ela morreu, justamente, num domingo, não há dia melhor para reflexão. Temos tempo suficiente para fazermos uma visita interna e conversarmos com nossos botões.
Admirava Fernanda, principalmente, pela versatilidade em transitar pelos mais diversos assuntos e por causar polêmica ao falar tão despudoradamente sobre alguns sentimentos negativos que afetam a todos nós, como: inveja, ódio, antipatia. E a controvérsia de, muitas vezes, termos esses sentimentos por quem mais amamos. Quem confessa isso assim tão abertamente? Os corajosos, o time do qual Fernanda fazia parte.
Não concordava com tudo que ela bradava aos sete ventos, mas é inegável que faltam adjetivos positivos para enumerar o talento de Fernanda.
Assisti ao Conversarte, pelo YouTube, acomodada no aconchego do meu lar, sem precisar me preocupar com logística e, sentindo todos os incômodos possíveis, ao perceber que havia deixado escapar uma baita oportunidade. Naquela data, eu negligenciei o “hoje” e transferi para o futuro a possibilidade de ir numa próxima vez. Esqueci que a vida também dá as suas rasteiras e é capaz de aniquilar essa nossa presunção em achar que temos controle sobre alguma coisa.
Fernanda estava potente no Conversarte, cheia de planos e ideias de jerico, como ela mesma mencionou em sua fala. Uma mulher inquieta, polêmica, instigante que, ao nos deixar tão cedo, nos sacode e reforça aquilo que já sabemos, mas que não custa relembrar: o importante é o agora, pois o amanhã é um dia que ainda não nasceu.