Crônicas

Decibéis do amor

Tem gente que ama em alta voltagem, com decibéis elevados, promovendo muito barulho. Não se contenta em dizer um “Eu te amo” sussurrado ao pé do ouvido da pessoa amada

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Tem gente que ama em alta voltagem, com decibéis elevados, promovendo muito barulho. Não se contenta em dizer um “Eu te amo” sussurrado ao pé do ouvido da pessoa amada, precisa de plateia, de olhos atentos e curiosos, de ser assunto em rodas de conversas.

Faz tempo, eu estava na praia quando vi um aviãozinho puxando uma faixa com os dizeres: “Eu te amo, Cristina”.

Vrum pra lá, vrum pra cá e o nome de Cristina sacolejava com o vento a alguns metros de altura.

Voltei ao meu protetor solar. Não era comigo o negócio. Não me chamo Cristina.

Outra: Em uma capital me deparei com um outdoor com a frase: “Quer casar comigo, Fernanda?” Detalhe: Não havia o nome da pessoa que formalizava o pedido.

Coitada da Fernanda. Deve ter brincado de casinha e sonhado em encontrar o seu príncipe encantado para agora, não conseguir ouvir do pretendente a frase que ela por anos esperou. Fico imaginando Fernanda em frente ao outdoor respondendo: Sim, sim. Depois Fernanda e o outdoor comprando as alianças e fazendo planos para o futuro. Que lindo! Afinal, não é todo dia que a gente vê um outdoor tão apaixonado.

Última: Juro, gente. Nunca vou entender esses homens que se dizem tímidos e encontram como solução declarar o seu amor em um programa de televisão. O cara segura o microfone, encara uma plateia, um apresentador que não cansa de fazer perguntas e, ainda por cima, tem que esperar as mais longas horas de sua vida se a escolhida vai dizer “Sim” ou “Não”.  Prender o dedo na porta deve doer menos que um sonorizado “Não” em rede nacional.

Meninas, ainda há homens românticos. Acreditem! Os exemplos citados comprovam os fatos. Tudo bem que, às vezes, se apaixonam e perdem as estribeiras e o rumo. Fazem a linha Cazuza: “Exagerado. Jogado aos teus pés eu sou mesmo exagerado”.

A dificuldade de alguns talvez esteja em olhar fixo para a pessoa amada e verbalizar. Por isso, o uso de recursos que falem por eles.

Então, garota, não estranhe se vir o seu nome numa faixa presa a um avião, um pedido de casamento instalado num outdoor, ou o seu amado, que com você é tão monossilábico e econômico nas palavras, aparecer em um programa de auditório declarando que você é a mulher da vida dele.

São outras formas que eles encontram de também dizer: “Eu te amo”.

Decibéis do amor

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Decibéis do amor

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.