A cada domingo, o tesouro da Palavra de Deus é aberto aos que se reúnem em assembleia para celebrar a Ressurreição de Jesus. Estamos acompanhando Jesus que caminha em direção a Jerusalém, onde será condenado, morto e sepultado, mas no terceiro dia ressuscitará. Hoje – Mc 10,46-52 – o contemplamos saindo de Jericó, acompanhado pelos seus discípulos e numerosa multidão. Enquanto caminhava aconteceu um fato marcante, narrado também por Mateus e Lucas.
À beira do caminho estava Timeu, cego e mendigo. Ao ouvir que Jesus passava ele não pediu uma moeda, mas começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim”. Muitos dos discípulos e seguidores de Jesus se irritaram. Aqueles gritos interrompiam a sua marcha tranquila em direção a Jerusalém. Não podiam escutar em paz as palavras do Mestre. Aquele pobre estava incomodando. Era preciso silenciar os seus gritos. Essa foi a primeira resposta que discípulos e multidão deram àquele apelo sofrido: “o repreendiam para que se calasse”.
A cegueira daquele homem o impedia de apreciar a vida como os outros; ele nem mesmo poderia peregrinar até Jerusalém e, se o fizesse, não lhe seria permitido entrar no recinto sagrado, pois aos cegos isso era proibido. Excluído da vida, marginalizado pelo povo, esquecido pelos representantes de Deus, só lhe resta pedir compaixão a Jesus. Ele, corajosamente, continuou a gritar.
O seu grito chegou aos ouvidos de Jesus. Ele parou, pois não podia prosseguir o seu caminho ignorando o sofrimento daquela pessoa. Parou – fazendo com que todos parassem também – e mandou que chamassem o cego, indicando aos que o seguiam que não poderiam caminhar atrás dele sem escutar o grito dos sofredores, caídos pela estrada. E a razão é simples. Por ações e palavras, Jesus ensinava que o centro do olhar e do coração de Deus são os que sofrem. Por isso ele os acolhe e se vira para eles preferencialmente. A sua vida é, acima de tudo, para os maltratados pela vida ou pelas injustiças: os condenados a viver sem esperança.
Ao ouvir que Jesus o chamava, Timeu jogou fora o manto, deu um pulo e foi até ele. Esse encontro mudou completamente sua vida. Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” Uma só coisa o cego desejava: “Que eu veja!” Então Jesus lhe disse: “Vai, a tua fé te curou”. O homem recuperou a vista, mas não foi embora, pelo contrário, permaneceu com Jesus, seguindo-o pelo caminho que os levaria a Jerusalém.
Há, também hoje, muitos “Timeus”, sofredores que gritam: “Tem piedade de mim”. Esse grito se expressa, por exemplo, pela voz de aproximadamente um quarto da população brasileira, que vive em situação de pobreza ou de extrema pobreza. Elas são pessoas concretas e não simples números de uma estatística. Cabe a toda a sociedade – e muito particularmente a nós que, pelo barismo, fomos feitos cristãos – tomar uma decisão, e urgentemente: comportar-se como aqueles que, incomodados com os gritos do cego, isto é, dos sofredores de hoje, querem que se calem ou, como Jesus, parar e, querendo se comprometer, perguntar: “O que queres que eu te faça? Como posso te ajudar?”
Crer em Jesus e se preocupar com pobres e sofredores são realidades que vão juntas e não podem se separar, sob pena de mutilar o Evangelho. Portanto, a única postura cristã é assumir aquela de Jesus perante o cego: “Que queres que faça por ti?”