Com facilidade temos acesso aos dados que indicam o crescimento da pobreza e, consequentemente, da miséria e da fome. Analistas nos ajudam a entendê-los, e isso nos deixa perplexos, comovidos e, algumas vezes, indignados. Mas, depois, resignados, deixamos que continue a imperar em nossos corações aquela falsa compreensão de que não tendo possibilidade de ajudar a todas as pessoas podemos nos eximimos de ajudar algumas. Que sociedade progrediria e que cidade poderia continuar a se desenvolver – tendo completado seus 373 anos! – com esse tipo de mentalidade, especialmente sob a pandemia que perdura?
Como de costume, será anunciado às comunidades nesse domingo – o 17.º do Tempo Comum: Jo 6,1-15. E como gostaria que avançássemos um pouco mais na compreensão e prática especialmente deste anúncio de salvação! Jesus levantou os olhos e viu que muita gente que o tinha seguido. Para despertar nos discípulos uma atitude concreta, disse a um deles, Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer”. Jesus, porém, sabia qual era a solução, e bem diferente daquela. Trouxeram-lhe, então, cinco pães e dois peixes, dizendo: “Mas o que é isso para tanta gente?” Contudo, daquele pouco oferecido, muitos foram alimentados e ainda sobrou.
Assim, nossas relações não têm por fundamento os dados estatísticos e, de certa forma, nem o poder aquisitivo. O que conta de verdade é não ser indiferente, olhar as pessoas com compaixão e ser solidário em favor de quem está mais necessitado. Lembro-me de uma comunidade de irmãos e irmãs a serviço do povo em situação de rua e de drogados, atuante em São Paulo, chamada Missão Belém. Os bens de cada um dos membros cabiam em um saco plástico e, por calçado, usavam simplesmente chinelos de dedo. Mas era normal vê-los descalços. Porquê? Haviam encontrado pela rua uma pessoa descalça e, então, deixavam com ela o próprio chinelo. Gesto simples de quem não possuía nada. E se alguém lhe oferecesse novamente um chinelo, certamente, depois de um tempo, também aquele par iria ser usado pelos pés de um outro pobre.
A solidariedade não depende de quanto dinheiro se tem na carteira. A atitude fundamental é, pois, a do “como partilhar?” e não a do “onde comprar?”. Devemos, claro, seguir de perto a triste situação de empobrecimento, especialmente dos que já se encontravam em uma situação de pobreza. E isso não nos deixará indiferentes à realidade. Mas a prova da não indiferença será aquele olhar atento ao nosso redor: onde vivem as famílias mais necessitadas que moram perto da minha casa? Conheço pessoas que perderam o emprego e estão desesperadas sem ter o que dar de comer aos seus filhos? Há crianças nas ruas do meu bairro passando fome? Em minha casa, desperdiçamos ou jogamos fora alimentos? Perguntas que não querem ser de condenação, mas apenas de questionamento e, quem sabe, com aquela energia capaz de gerar em nós atitudes novas, brotadas da compaixão e da solidariedade.
Se muita gente está faminta é também verdade que tem alimento para matar a fome das multidões. Vamos começar? Certamente nisso encontraremos grande felicidade, alegria verdadeira.