Por quem os sinos dobram? Essa era a pergunta que faziam os nossos antepassados ao ouvir o badalar dos sinos da nossa antiga Igreja Matriz. Nessa época, pela década de 50 do século passado, o repicar dos sinos era uma forma de comunicação e anunciava, conforme o toque, os acontecimentos do momento. Batidos em ritmo acelerado, os sinos da Matriz cantavam de alegria, intercalando sons graves e agudos que se harmonizavam perfeitamente, convidando os fiéis para as missas, batizados, casamentos ou procissões. Esses mesmos sinos pareciam chorar, tangidos em lentas badaladas nas cerimônias fúnebres. Eles silenciavam apenas nos três últimos dias da Semana Santa, quando eram substituídos pelas famosas matracas. Nos 362 dias restantes, aqueles sinos marcavam não só o que acontecia na igreja, como também iam, aos poucos, marcando em nosso interior aquele som de alegria ou de lamento, lembrados ainda hoje com saudades.
Por ter sido tão importante essa tradição, a 3 de dezembro de 2009, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, oficializou os toques dos sinos em Minas Gerais como "Patrimônio Imaterial Brasileiro", tendo como referência as cidades históricas.
De acordo com Sylvio Bazote, "manejar um sino é uma atividade arriscada e cansativa. Mantê-lo exige trabalho, com uma manutenção especializada e geralmente cara. Por isso, quem pode ouvir um sino no lugar onde vive, deve valorizar e apreciar essa oportunidade. Os sinos podem não ser uma necessidade atualmente, mas dão charme, personalidade e pompa às circunstâncias da vida."
Na minha infância, muitas vezes disputei com os meninos o privilégio de puxar as pesadas e grossas cordas do sino da Matriz nas noites de novenas. Era uma verdadeira festa quando as portas do coro se abriam. Havia sempre alguém responsável por essa importante tarefa. Nós ficávamos em volta do sineiro esperando a vez para mostrar que tínhamos força suficiente para garantir o ritmo das batidas. Não era fácil, mas era sempre divertido. Contam que quando o Zeppelin passou por Paranaguá, em 1936, os sinos da Matriz anunciaram com batidas festivas o extraordinário fato.
Por aqui, essa tradição parece andar esquecida, a não ser pelos sinos do Santuário de São Francisco das Chagas, que continuam anunciando as suas funções litúrgicas, além dos sinos da pequena igreja da Irmandade de São Benedito, cujos sinos continuam a vibrar de alegria.
Maria Helena Mendes Nízio
Diretora de Cultura do IHGP