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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

O tempo e a fonte

Swami Vivekananda

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“Mesmo depois de 330 anos de construída, a poética Fonte de Beber Água de Paranaguá, como era chamada naquela época, continua sendo conservada pelas administrações municipais, preservando-se um símbolo, um monumento, a fisionomia de uma era de esforços e de início da grande arrancada para o futuro.

Infelizmente, as novas gerações já não guardam nem têm grande respeito aos monumentos históricos, a nossa Fontinha vem resistindo ao vandalismo, tempo de certo abandono, o mesmo não acontecendo com nossos casarões coloniais que não mereceram o cuidado das autoridades ao longo dos anos nem o respeito de herdeiros, proprietários e especuladores imobiliários que, em nome do rançoso progresso e desenvolvimento, conseguiram desfigurar quase totalmente a paisagem colonial de nossa cidade, do telhado ao calçamento, numa mistura grotesca de estilos e de formas, de remendos e deformações, rebaixando o sentido original na desigualdade das linhas arquiteturais como se tudo conspirasse contra a tradição histórica.

A Fonte de Beber Água de Paranaguá também sofreu os ataques a trolha moderna que quase lhe tornou ridícula como uma pessoa de beca complementada por bermuda e tamancos. E foi muito custoso fazê-la merecer a aparência de antanho que hoje apresenta.

A nossa Fontinha foi construída em 1657, a Câmara chamou os senhores João Gonçalves Peneda e Roque Dias, encarregando-os de consertarem a Fonte de Beber Água, serviço que foi executado no decorrer de um mês.

Novamente, em 1658, novos reparos e melhorias foram executados, custando 50 patacas, que foram pagas com o dinheiro dos subsídios da Vereança daquela época. Desta vez construiu-se uma abóboda protetora, obra essa já conhecida desde os tempos de Antes de Cristo, como as dos Reis Partas, Arsácidas e Sassânidas, até Cosroés (Pérsia) e do Mosteiro dos Jerônimos em Portugal, não sendo assim tão famosa como essas abóbodas, a da Fonte Velha, a da Fonte de Beber Água de Paranaguá significava a preocupação dos antigos pelo conforto de sua gente, que não precisaria afastar-se da povoação para encontrar o precioso líquido. Também, na mesma oportunidade, foi aberta uma janela para que um rapaz pudesse fazer a limpeza da goiva de pedra.

Já em 26 de dezembro de 1714, a Câmara celebrou um contrato com o mestre de pedreiro Agostinho da Silva Gomes para que fossem feitas novas obras na Fonte de Beber Água, visando sempre a melhorar aquele reduto a fim de que nossa população não tivesse muita dificuldade, o que configura a preocupação dos homens de outrora em atuar com sabedoria e abnegação em favor da comunidade.

[…]

E o tempo passa…e a Fonte de Beber Água vai passando pelo tempo, com aquela impavidez das obras feitas com o coração e o sacrifício dos homens, numa era que nem se pensava em caixas automáticas para água, bombas elétricas e tubos de ferro galvanizado, sem costura ou de plástico.

[…]

Porém, a nossa Fontinha continuará sendo um dos principais pontos de atração turística de Paranaguá e do Litoral do Paraná. Fonte de mil histórias contadas ao seu redor nos dias de sol, testemunha muda da paisagem dos séculos e. das transformações do caráter humano e Monumento-Símbolo do trabalho honrado de nossos honrados ancestrais.”

Recordar é viver. Passados 37 anos desta memorável crônica, constatamos a mesma falta de cuidados e atenção aos nossos monumentos-símbolos.

Referência: Crônicas e Poemas que Paranaguá me inspirou – Swami Vivekananda – 1986.

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