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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

O Brejo que canta

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Vicente Nascimento Júnior descreveu e registrou em sua obra uma das lendas da cidade de Paranaguá. A lenda do Brejo que canta, segundo Nascimento Júnior, foi contada por João Bomsinho, um morador que residiu no Porto dos Padres. No caminho para o Rio Emboguaçu existia um terreno alagadiço, um brejo onde havia uma grande porção de lírios brancos. Com a presença das chuvas, o local se transformava num grande lago e num terrível atoleiro.  Uma vez por ano, exatamente à meia-noite, de quinta pra sexta-feira santa, o brejo cantava. Quem passava por essas horas, ouvia o batido do fandango ao som de duas violas e da cantiga dos violeiros. As vozes eram dos violeiros e dançarinos que festejaram no dia da sexta-feira santa. 

Antes de ser um brejo, o terreno era seco, de terra branca e firme. Nele morava um inglês chamado Roberto. Roberto não respeitava os dias de quaresma, muito menos a sexta-feira santa. Numa quinta-feira, estava a vila entregue aos ofícios da Semana Santa, enlutados os moradores. Tudo era respeito ao dia, mas no caminho do Porto dos Padres o inglês, zombando das coisas santas, decidiu fazer um baile em sua casa. Uns infelizes aceitaram o convite: uns dez soldados da tropa acampada no porto de pai Berê, no Rocio Grande e as mulheres que estavam passando na rua.  À meia-noite tocavam o fandango, longe da vila e por isso despercebido pelas autoridades. Maneco Eduvirges e Domingos Pedrão, violeiros e já embriagados, cantavam quadrinhas blasfemas, desafiando a majestade divina. 

Sem que os festeiros percebessem, a casa moveu-se e todos sentiram que afundava. O movimento se acentuou e o pânico se manifestou. O primeiro impulso foi de fuga, mas quando tentaram evadir-se, as portas e janelas estavam cobertas pelo lodo mole que invadia o interior. Apagaram-se as luzes. Não havia salvação possível! O terreno que há alguns minutos atrás era firme, com laranjeiras e cajueiros, tornou-se um brejo e engoliu a casa e todas as pessoas que participavam da festa. No dia seguinte os sitiantes vizinhos, que iam para a vila assistir à missa da sexta-feira santa, viram com espanto um brejo no local e isto sem que tivesse chovido. O brejo tornou-se um lugar amaldiçoado. No ano seguinte, na noite de quinta-feira santa, alguém por ali passando, ouviu o batido de um fandango ao toque das violas e o cantar dos violeiros e correu apavorado. Logo, contou a todos da vila. De geração em geração até o presente, enchendo de terror e medo a todas as pessoas supersticiosas, que dali passaram a evitar transitar pela estrada que margeia o trágico alagadiço, na noite da Paixão de Jesus.

Referência
NASCIMENTO JÚNIOR, Vicente. História, crônicas e lendas. Paranaguá: IHGP, 1980.  P.340-342

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