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BRASÍLIO ITIBERÊ DA CUNHA E A SERTANEJA- Parte I

“Infelizmente no Brasil os ricos não são os mais estudiosos.”

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“Infelizmente no Brasil os ricos não são os mais estudiosos.”

“A primeira dificuldade da América do Sul para escapar da pobreza é que ignora a sua condição econômica.”

Essas frases até podem causar espanto se pensarmos que foram proferidas por um músico brasileiro da segunda metade do século XIX envolvido profissionalmente apenas com a sua arte. Na verdade, elas revelam preocupações de um homem político engajado e preocupado com a soberania de seu país, com a afirmação cultural de sua nação, com a liberdade de seu povo.

Brasílio Itiberê da Cunha não tinha a atividade musical como meio de vida, o que pode ter minimizado sua importância na história da música brasileira. Entretanto, é minimamente lembrado porque deixou transparecer reconhecidamente o emergente nacionalismo em apenas uma obra: A SERTANEJA. Essa figura exponencial de nossa música nasceu em Paranaguá, no dia 8 de setembro de 1846, em uma família musical: nela se destacaram pai, tio, irmãos, sobrinhos. A escolha de seu nome já reflete uma postura nacionalista: o pai derivou seu primeiro nome Brasílio em homenagem ao país, e o próprio Brasílio adotou o segundo nome indígena Itiberê em homenagem ao rio que banha a sua terra natal. Era o primogênito do casal Dr. Manoel da Cunha e Dona Maria Lourenço Munhoz da Cunha, outro filho do casal foi o cura da Sé de Curitiba, Monsenhor Celso Itiberê da Cunha. Outros irmãos do segundo casamento de seu pai foram o músico e poeta João Itiberê da Cunha e Henrique, também músico. Do terceiro casamento de seu pai, nasceram as filhas, entre elas Maria Brasília Itiberê da Cunha. O pai Dr. João Manoel, advogado e bom músico amador, não descuidou da formação musical de seus filhos, ensinando-os ou confiando a seu irmão Jacinto Manoel a instrução musical de seus filhos.

Segundo os pesquisadores que estudaram a trajetória de Brasílio Itiberê da Cunha, entre eles o Dr. Ginés Gebran, o menino Brasílio estudou violino, mas foi ao piano, cujas primeiras lições foram-lhe ministradas por sua irmã Maria Lourença, que Brasílio ficou conhecido como virtuoso e compositor. Os primeiros anos de vida, Brasílio passou-os em Paranaguá. Mais tarde, com a necessidade de realizar os estudos secundários, transferiu-se para Curitiba. De lá, seguiu para São Paulo passar pelos chamados exames preparatórios do Curso Jurídico. Aos 20 anos, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo tendo como colegas futuros as ilustres personalidades Rui Barbosa, Afonso Pena e Castro Alves. Já bacharel em Direito, viajou para o Rio de Janeiro, onde procurou divulgar sua obra. Em um dos concertos realizado na Quinta da Boa Vista, contou com a presença do Imperador D. Pedro II que, encantado com o artista, ofereceu-lhe um custeio para completar seus estudos na Europa. Essa ajuda, devido à sua formação acadêmica, acabou se traduzindo em um cargo oficial no corpo diplomático, a convite da Princesa Isabel, em 1870. Foi nos períodos de residência nos países europeus que pôde continuar seus estudos musicais e se aproximar de reconhecidos compositores e instrumentistas.

Brasílio Itiberê deixou cerca de sessenta obras, a maioria das quais pouco conhecidas e, muitas, desaparecidas. A Fundação Cultural de Curitiba tem guardadas, na Biblioteca Casa da Memória, 30 peças do compositor parnanguara. Brasílio Itiberê faleceu em 11 de agosto de 1913, em Berlim, pouco antes de sua transferência como diplomata para os Estados Unidos. Tantos outros aspectos da vida desse compositor paranaense serão tratados na segunda parte desse texto.

Profª Lúcia Helena Freitas da Rocha

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