Profª Lúcia Helena Freitas da Rocha
Somos herdeiros de muitos parentes e donos de um bem impossível de nos ser retirado.
Pode ser mesmo que não nos apercebamos dessa nossa herança ou não consigamos nos lembrar de quando ou onde a ganhamos. Mas, tenhamos uma certeza, essa herança nos acompanha na vida diária.
Quando ouvimos rádio, assistimos à tevê, lemos um gibi, conversamos com um amigo ou dormimos – dormimos e sonhamos – utilizamos um pouco dessa herança que nos veio através de milhares de anos. Somos herdeiros de uma cultura que reúne tudo que bilhões de pessoas criaram, sonharam, viveram, desde que o homem saiu da caverna.
A herança de que falamos não é apenas material. Claro, essa existe e é muito importante. A nossa tecnologia é possível graças a todo o conhecimento acumulado pelo homem. Quando ligamos um botão e acendemos a luz, somos o último elo de uma cadeia que começou na descoberta do fogo, passando pela descoberta dos combustíveis, eletricidade, invenção da lâmpada. Esse gesto simples – acender a luz – fica assim sendo o herdeiro de uma série de invenções e descobertas humanas.
Só que a “lâmpada” de que falamos é menos visível do que aquela usada em nossas casa. É a luz que está dentro de nós. É essa herança essencial, a herança da cultura. E mais, a herança da fantasia humana.
Por mais que possamos pensar que a nossa imaginação é nossa, tão íntima, tão pessoal, ela é fruto de tudo o que já se ouviu e viu em histórias, filmes, novelas da tevê…
É possível que numa novela da tevê, um galã tenta se disfarçar de mendigo para entrar numa mansão e depois enfrentar a gozação dos ilustres convidados de uma festa, mostrar sua real identidade e partir para a briga. A história nos parece conhecida, ou pode estar igual àquela contada na Odisseia, uma história sobre o herói Ulisses, de autoria do poeta grego Homero.
Qual a mudança? Desde Homero, histórias têm sido recontadas, pois têm um atrativo básico que seduz e continua seduzindo multidões.
Na verdade, a quantidade de histórias que resistem aos séculos é imensa Poucas histórias seriam realmente originais, pois a maioria delas parte dessa herança comum. Falam de amor, terror, amizade, ficção científica, fábulas, humor, mostrando sentimentos e instituições humanas de imortal interesse.
Essa é a grande herança.
Velhos temas, entretanto, sempre jovens para cada momento.
Essa é a herança, o imaginário humano. Ser um homem. Ter, dentro de nós, “todos os sonhos do mundo”.