Há alguns dias fui questionado sobre onde estava o Marco Zero de Paranaguá, então vamos lá!
Caro leitor, imagine uma cidade que não nasceu em um só lugar, mas em muitos lugares.
Esta é Paranaguá onde, cada pedra antiga insiste que “foi por minha causa que tudo começou”.
O chamado Marco Zero é, por definição, o lugar onde a cidade encontra sua voz pela primeira vez — onde o solo recém-pisado se torna um lar, onde o tempo escolhe criar raízes.
Pode ser a canção silenciosa das paredes de uma igreja, a sombra sobre a fortaleza, ou o espaço aberto de uma praça pulsando como o coração da existência urbana.

Para Paranaguá, uma dessas origens está em frente à Matriz de Nossa Senhora do Rosário, na Praça do Marco Comemorativo do Tricentenário da cidade.
Ali, esses séculos de fé e momentos de resistência estão cristalizados em uma memória de pedra, mostrando-nos um legado dos séculos de viagens que nos trouxeram até onde estamos.
Outro capítulo em nossa história traçou as ferrovias até a costa, o que nos aproximou das montanhas.
A ferrovia surgiu a partir do Porto Dom Pedro II em Paranaguá, de acordo com o decreto imperial de 1º de maio de 1875, também teve seu Marco Zero delimitado.
Mas, assim como a cidade, este ponto também se moveu: ele se deslocou após os trilhos, chegou ao coração dela e, em frente à nova estação, recebeu a presença de Dom Pedro II.
O imperador, que testemunhou as obras que mudariam o futuro do destino do Paraná, ordenou que uma cápsula do tempo fosse enterrada — uma esperança de capturar o fôlego de uma era, mesmo que enterrada, no solo.
Mas todas as conexões com o mundo não eram apenas pelos trilhos, disse Paranaguá.
Muito mais tarde, ainda no século XX, um ponto zero adicional foi construído no porto: na placa que significava o início da artéria terrestre que levava ao Paraguai, o início da BR 277, o novo trecho da rodovia Pan-Americana, do Porto Dom Pedro II e terminando em Foz do Iguaçu.
Sua própria existência representava a conexão recém-formada entre a costa do Paraná e o Paraguai e um período de aproximação política e econômica entre o Brasil e o Paraguai por um tempo.
Ali, do outro lado da estrada do mar, começava uma rota que atravessaria montanhas, antes de finalmente chegar à Foz do Iguaçu, intercalando sistemas de comércio, transporte e diplomacia.
Um marco que não apenas celebra um ponto de partida, mas o gesto humano de cruzar fronteiras, aproximando nações.
Assim, nossos pontos zero são mais do que coordenadas.
Eles são encontros de memória com identidade.
São convites aos olhos de hoje para ver os passos de ontem. Porque, em Paranaguá, a história não começa uma vez.
Ela sempre começa de novo — ao ritmo do mar, dos trilhos e da própria memória.
Referências
BACKES, Ana Paula. Paranaguá: História, Patrimônio e Memória. Curitiba: Editora UFPR, 2010. MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba: Imprensa Paranaense, 1950.





